A restauração da matriz de Cachoeira do Campo

09 de Setembro de 2014
Alex Bohrer

Alex Bohrer

A reinauguração da Matriz de Cachoeira do Campo atraiu recentemente uma multidão de pessoas, deslumbradas com o esplendor barroco trazido à tona após cuidadosa restauração. Creio que pela primeira vez a Matriz de Nazaré figura em seu justo patamar, reconhecida com uma das principais igrejas coloniais erguidas no mundo luso-brasileiro. Tal restauração foi fruto de década e meia de esforços e lutas constantes. Resolvi reabrir minha coluna contando um pouco dessa história como forma de registro para a posteridade. Lembro-me bem quando, a partir de 1996, eu e alguns amigos começamos a passar horas desenhando, pesquisando e admirando aqueles altares, tão misteriosos na época (mal sabia eu que um dia eles seriam meu tema de doutoramento!). Alguns anos depois, o incêndio da Igreja do Carmo em Mariana acendeu em nós o medo de tamanho sinistro se abater sobre nosso monumento. Começava ali uma peregrinação de reuniões, palestras e lutas.

Há alguns nomes que, ao lado das equipes da prefeitura, da paróquia e do IPHAN, mereceriam constar nesse registro (menciono os que recordei de cabeça, caso alguém se lembre de outro não citado, favor entrar em contato): Paulo Roberto, Rodrigo Gomes, Jorge Gomes, Nilson Almeida (co-fundadores da AMIC), Adenilson José, Luciano Almeida, Nylton Gomes Batista, Maria do Carmo Pires (com quem eu me revezava no Conselho de Patrimônio - foi ela que, numa correria só e estando eu viajando, indicou a Matriz de Nazaré para ser incluída no PAC, o que foi feito, enfim, nos 45 minutos do segundo tempo, ufa!), o promotor Ronaldo Crawford (que, em visita ao nosso distrito, se compadeceu da situação alarmante da Matriz), o promotor Marcos Paulo (que nunca titubeou em nos ajudar), a arquiteta Jurema Rugani (antiga amiga de trabalho, foi quem me convidou a participar do Fórum de Reflexões sobre a Preservação do Patrimônio Cultural, promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil - na ocasião discursei para grande plateia de arquitetos e conservadores sobre o estado lastimável dos monumentos de Cachoeira; a fala causou debate e polêmica, o que construiu, ao fim, caminhos viáveis), Gustavo Werneck (jornalista que mais de uma vez defendeu nosso patrimônio), a equipe da FAOP (que, sensibilizada, se ofereceu para restaurar o acervo de imagens da nossa igreja e, não podendo, acabou por participar - indireta e felizmente - do restauro, já que grande parte dos profissionais empregados foram formados lá).

Citemos também alguns nomes, do passado e do presente, que, mesmo tendo passado desse mundo, merecem especial citação: Padre Afonso de Lemos (que primeiro lutou pela salvaguarda da Matriz), Manuel Coimbra (que várias vezes usou seus próprios serviços para reparos emergenciais), Anita Magalhães (Dona ‘Anita da Ladeira’, antiga zeladora), Dona Lilia do Correio (que tão gentilmente nos abriu o acervo manuscrito de seu marido, João Batista Costa, para pesquisa - foi lá que encontramos tantos dados cruciais para elaborar o histórico do templo), José Fernandes (que também nos passou parte importante de suas informações colhidas em acervo), D.J. Rendeiro de Noronha (que ainda em 1996 nos permitiu publicar um primeiro texto sobre a Matriz).

Resta-nos salientar mais algumas pessoas que estão intimamente ligadas à história atual dessa igreja cachoeirense, são elas: Zé Carlos, Denise, Nilsinho (que sempre tinham um sorriso no rosto ao receber os visitantes e historiadores) e o Nunuca, o sineiro que, quase folcloricamente, fundiu seu nome à memória da Matriz de Nazaré (tantas e tantas vezes Nunuca bateu em minha porta, gesticulando e demonstrando preocupação com alguma peça desprendida, uma fiação solta, goteiras ou um cupim achado). Os nomes de vocês mereceriam verdadeiramente estar inscritos também naquela placa de inauguração.

Para todos esses personagens eu acho que os mil anjos que enfeitam a Matriz diriam: muito obrigado!

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