Abaixo os partidos políticos!

20 de Abril de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

A defesa de uma ideia não pode, e não deve, estar restrita a questões puramente pessoais como, gosto, experiência deslumbrante ou traumatizante, opiniões de terceiros e nem mesmo ao fracasso daquilo que se opõe a ela, a ideia defendida. Para que tenha consistência, necessária à propagação e aceitação, há que se buscar, primeiramente, as origens daquilo que se combate ou que se defende.

Em muitas ocasiões, esta coluna defendeu a extinção dos partidos políticos, antecedendo a implantação da democracia semidireta, tendo, antes de tudo, o voto nulo como arma incruenta nas mãos do eleitorado, para apressar o alcance daqueles objetivos. Contudo, em nenhum momento, o autor fundamentou a ideia, ou seja, não apresentou razões de origem, que possam sustentá-la. Cremos ter chegado o momento de dizer o porquê de os partidos políticos serem um instrumento, absolutamente, desnecessário e até mesmo pernicioso à existência da democracia.

Por muito que políticos defendam partidos como indispensáveis e fundamentais à democracia, quem analisa o assunto com isenção, sem o viés do corporativismo e sem os interesses a ele vinculados, percebe que não é bem assim. A democracia dispensa partidos políticos, mesmo porque originou-se, diretamente, da vontade do povo, reunido na praça, na antiga Grécia. Os partidos, surgidos muitos anos mais tarde, pelo menos em sua pluralidade, sim, dependem da democracia, único regime que os acolhe e estimula a existência porque, em contraposição a ele, a ditadura, o autoritarismo se assenta no partido único, que a tudo controla com a mão de ferro do seu núcleo de poder. Em sendo os partidos dependentes da democracia, dizem a ética e a lógica que eles devem estar a serviço dela, aprimorando-a, valorizando-a, zelando por sua integridade. Crê-se que, quando surgiram, tiveram e perseguiram essa finalidade. Entretanto, ao passar do tempo e acumulação de artimanhas, os partidos, na atualidade, usam e abusam da democracia, em benefício do grupo e dos seus pares.

Vamos então aos fundamentos. A humanidade está dividida em grupos, segundo as principais características, a começar pela cor da pele, vindo em seguida a língua, a nacionalidade, os traços culturais. São divisões naturais ou mais ou menos naturais, que o orgulho humano acaba por agravar com pré-julgamentos, preconceitos, discriminações e outras idiossincrasias próprias da espécie. O sentimento religioso, puro em sua essência, somente negado pelos ditos ateus, é nato na maioria dos indivíduos, mas a diversidade religiosa veio interpor mais uma parede a separar grupos. Essas diferenças foram e, infelizmente, ainda são causas de animosidades e rejeição por quantos, contrariando a própria inteligência, se esquecem da unicidade da espécie. Entretanto, elas tendem a minorar seus efeitos negativos com a evolução, gradativa, porém irreversível, como é próprio da natureza. É que elas não foram criadas, objetivamente, pela mente humana, mas surgiram de acordo com as circunstâncias do momento vivido, ao contrário do partido político, concebido para separar parte (daí o nome partido) de um grupo maior com a finalidade de dominá-lo.

Onde ele é único, o poder é exercido mediante intimidação, medo e repressão aos opositores; é a ditadura declarada! Onde se mantém a pluralidade de partidos, convencionou-se intitular democracia (poder exercido pelo povo) ao regime instalado, mas a democracia, de fato, está longe de ser. O que há é alternância de grupos no poder, mediante manipulação da vontade popular, manifestada por meio de eleições. O povo continua a reboque de grupos, que se digladiam, na conquista ou na manutenção do poder; é a ditadura disfarçada, mantida por partidos, em rodízio no poder, que só dividem e nunca representam a maioria da população, sempre enganada pelo discurso empolado e interesseiro! De todas as barreiras interpostas entre povos e entre indivíduos, a pior se denomina partido político.

Um partido não chega a representar nem a maioria de seus “afiliados”, meros agregados, que podem nem ter ficha de adesão assinada. Assim como um cometa, pequeno núcleo sequer visto a olho nu, cuja imagem diante dos olhos não passa de espécie de poeira iluminada pelo sol, partido político é pequena cúpula mandante, seguida da massa anônima e inconsciente do papel que representa. Partidos não honram a democracia, porém a corrompem diante do eleitorado indefeso, sem a quem apelar. Democracia não consiste em tão somente direito de votar, de ser votado (desde que filiado a um partido, obrigatoriamente) e direito à liberdade de expressão. Falta muito para que seja, de fato! A verdadeira só quando não houver partidos e o voto, usado para eleger, for usado também para cassar.

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