Adeus

24 de Novembro de 2017
Valdete Braga

Valdete Braga

Toda despedida é triste. Seja ela de uma pessoa, de uma cidade, de um trabalho. Mas a pior das despedidas é precisar dar adeus a algo ou alguém por descobrirmos que estávamos enganados com a pessoa ou a idéia. O adeus do desengano é o mais triste dos adeus. Ali não nos despedimos só de algo ou alguém, mas de nossa esperança. E perder a esperança é uma grande dor.

Dizem que devemos contar até dez antes de tomarmos uma decisão importante. Eu conto até mil. Se for para dizer adeus, então, chego a um milhão. Demoro muito, muito mesmo a tomar uma decisão tão radical, mas quando a tomo, não tem volta. Talvez exatamente por isto eu demore tanto. Procuro relevar ao máximo, tentar entender as razões do outro, conversar, explicar ou ouvir explicações. Vou até o meu limite, porque quando digo “acabou” é realmente para sempre.

Não gosto da palavra adeus, porque ela é definitiva. Adeus faz sofrer, como tudo que tira as nossas esperanças. Parar de fazer alguma coisa que a gente ama, mudar de uma cidade ou mesmo de um bairro onde vivemos a vida inteira, deixar para trás histórias e História, como é triste! Pior quando envolve pessoas e pior ainda, quando tomamos a decisão por causa de pessoas. Alguém que nos magoou, que se mostrou diferente do que pensávamos, ou que nos enganou, forçando-nos ao doloroso adeus.

Muitos hão de pensar: “precisamos nos afastar de quem nos magoa ou trata mal”. Concordo. O problema é que às vezes, por razões diversas, demoramos a descobrir. Enxergamos apenas o lado bom da pessoa e aquele lado que nos machuca fica escondido, ou pela pessoa não mostrar, ou porque nos recusamos a ver. Claro que não me refiro a um ou dois fatos isolados, somos seres humanos e todos estamos sujeitos a uma hora ou outra pisar na bola com alguém que amamos. Aí cabe a conversa, a explicação e o perdão.

O que não pode acontecer é se tornar recorrente, até a mágoa tornar-se normal. Machucar alguém nunca pode ser visto como normal. Ser machucado também não. “É meu amigo, mas está sempre me dando má resposta, não entende que me machuca, acha que eu sou sensível demais”. Então não é amigo. Existe alguma coisa muito errada aí e é onde torna-se necessária aquela conversa franca mas não grosseira, sincera mas não agressiva. Tentamos uma, duas, três vezes. Se não resolve, não tem jeito. Quando eu gosto da pessoa, vou muito além do três. Tento, tento e tento. Procuro o lado bom (ele sempre existe), procuro entender, faço de tudo para evitar o adeus.

Quando percebo que não é possível, sofro, choro, protelo ao máximo. Sei que se chegar ao fim não tem volta e é muito sofrimento até superar. Mas quando chego, não há lágrimas nem sofrimento que me façam voltar atrás. Podo na raiz, e nunca mais brota. É triste, é desanimador, mas necessário. É o verdadeiro sentido do adeus.

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