As marcas da solidão nos nossos tempos

09 de Fevereiro de 2018
Jornal O Liberal

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Geraldo Trindade

Sem dúvida alguma a solidão que era, outrora, uma presença ocasional, hoje é uma presença ativa e palpável na vida da maioria das pessoas. Um fator é muito claro e preponderante para que isso aconteça foram as redes sociais. Na era da comunicação, ela se tornou a própria vilã. As redes sociais que tinham como missão aproximar as pessoas acabaram por distanciá-las. Procura-se companhias, amigos que não estão próximos e esquecem daqueles que estão ao lado. Gasta-se tempo nas redes sociais e esquece-se de praticar o contato direto.

O acesso a uma variedade de pessoas e a instantaneidade da interação é um benefício, mas desemboca num “consumismo de pessoas”, aos moldes do consumo de produto, o que leva a uma insatisfação em relação ao outro quando não satisfaz às minhas expectativas. E como a variedade de escolhas ainda é farta, não se cria relações verdadeiras, amistosas e profundas. São as relações beija-flor, pois são instantâneas e marcadas somente para retirar o que o outro tem de positivo. Maqueia-se as relações da mesma forma que se maqueia as fotos.

Em artigo no jornal espanhol El pais, o John T. Cacioppo cita que de 10 pessoas 4 sentem-se sozinhas habitualmente ou com frequência. As redes sociais não estabelecem com total eficácia a comunicação, os relacionamentos e nem o diálogo. Muitos as usa não para unir, nem para ampliar horizontes, mas para se encasular, fechar-se, onde só ressoam o som de sua própria voz e de suas próprias verdades. Um espelho que reflete a si mesmo e nada mais, levando a pessoa a afundar ainda mais em seu desconforto, abandono e solidão.

Superar essas limitações da existência virtual ajuda a ser pleno e completo na existência real, a não se permitir revestir de uma máscara que esconde as dores e alegrias da vida. Não se pode perder o encanto pelas pessoas e estar conectados aos outros é importante, mas não se pode viver esquizofrenicamente. É preciso transformar os contatos em relações.

Formado em Filosofia e em teologia, padre em Pedra Bonita (MG). Contato: pensarparalelo@gmail.com

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