Assustador

15 de Abril de 2014

Valdete Braga

Uma notícia divulgada pela mídia esta semana deixou-me estarrecida. Por mais que já tenhamos visto na vida, sempre aparece algo para nos surpreender. Um programa vespertino de televisão apresentou o fato em detalhes, e apesar de sentir-me muito mal, fiz questão de assistir todo o programa, para ter subsídios para comentar, e, confesso, também para acreditar no que aconteceu.

Uma jovem de 18 anos de idade atraiu a rival, de 15, e, ameaçando-a com uma tesoura no pescoço, raspou-lhe os cabelos, bateu-lhe diversas vezes no rosto e obrigou-a a repetir frases humilhantes. O fato em si já é assustador, mas o mais terrível de tudo foi que a jovem, obviamente com ajuda, filmou tudo e colocou na internete. Entre outras coisas alegou, em sua defesa, que a vítima “não era nenhuma santa”.

Em que mundo estamos vivendo? A que ponto chegamos? Barbárie, tortura física e emocional filmadas pelo torturador e divulgadas como troféu? Pior, a torturadora (não encontro outra palavra) jovem de classe média, bem falante, “estudada” vai à televisão “se explicar”? O vídeo “bomba” na internete?

Eu me pergunto até onde tanta tecnologia desumaniza nossos jovens. Sou terminantemente contra qualquer tipo de censura, mas a garotada precisa entender que internete não é uma extensão deles mesmos. Que não podem sair por aí fazendo tudo e filmando tudo sem consequências. Até chegar ao crime, o que mais esta moça pode ter postado, compartilhado? Para sentir-se segura a ponto de divulgar a si mesma torturando (e repito, é tortura sim!) uma colega, o que já não terá ela divulgado antes impunemente?

É de assustar. A mãe não sabia, o pai não sabia, a família tomou conhecimento pela internete. E ela só foi indiciada devido à repercussão do caso. Segundo a mãe da vítima, quando a filha chegou em casa toda machucada e com o cabelo raspado, ela procurou a polícia e a torturadora teria dito que tudo não iria passar de um “beozinho”.

Quem é a torturadora, quem é a torturada, o porquê da barbárie (ciúmes, segundo o noticiário) nada disto chamou-me a atenção. Não me importa, não quero saber. Foquei-me exclusivamente no vídeo. “Vem aqui para apanhar” dizia a torturadora, enquanto esbofeteava a vítima. “Diga isso, diga aquilo”, tudo filmado, premeditadamente, para ser divulgado depois. Nada pode justificar isto. Não importa quem é quem, não importa o que motivou, o ato em si é repugnante. A filmagem mais repugnante ainda. Rezo para que seja feita justiça, e que esta jovem bonita, de classe média e “estudada” tenha o castigo merecido, tanto por ela, quanto para servir de exemplo a uma geração que já nasce “plugada” em tabletes, notebooks e celulares de última geração, e não possuem a menor noção de limite, chegando ao ponto de cometer crimes.