Bajulador tem que apanhar!

19 de Janeiro de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Não é a primeira vez que trato do assunto e talvez não seja a última, porque há sempre que criticar advertir, alertar e se prevenir contra determinados aspectos no comportamento do ser humano, cuja diversidade pode chegar ao número de indivíduos em todo o planeta, uma vez que não há sósias absolutamente idênticos, talvez nem mesmo mediante a clonagem. Se a diversidade no físico impressiona por meio de simples comparação, no campo da personalidade as variantes de um para outro indivíduo são mais sutis, razão pela qual, surpresas podem se revelar no comportamento e reações adversas às aparências manifestadas. Indivíduo aparentemente violento pode revelar-se “coração de manteiga”, enquanto outro com asas de anjo pode ter escondidos os chifres do diabo. Indivíduo de sorriso constante e, por isso, aparentemente amigável em seu círculo social, de repente revela sua verdadeira face, caracterizada pela deslealdade. Daí a verdade de “quem vê cara não vê coração”! Esse último tipo, o falso, desleal e hipócrita a ponto de muito enganar a muitos por longo tempo, é como a estátua gigante, cabeça de ouro, peito e braços de prata, quadril de bronze, pernas de ferro, porém, pés de barro, embora bem disfarçados. Lá um dia, seu próprio peso a faz tombar, ruidosamente, para frustração dos que a criam firme e altaneira. Assim é o falso amigo, ao qual é preferível ter dez inimigos declarados, que fazem menos mal. A quem o crê amigo, a caída de sua máscara requer estrutura psicológica capaz de não absorver a influência danosa, que poderia redundar em até descrença no ser humano, injustiça das maiores e agravante ao próprio estado de espírito. À parte do dissimulado, hipócrita e falso amigo, considerado o pior, outros tipos humanos fazem parte das nossas relações no dia-a-dia, mas ainda que, eventualmente, não confiáveis, a interação com eles se dá sob transparência, ou seja, sabe-se com quem se lida. Desses outros tipos, sobressai-se, para irritação dos que mais o abjuram, o bajulador, o vulgar puxa-saco. Em relação ao puxa-saquismo levanta-se minha aversão entre os defeitos, que tenho, a ponto de, eventualmente, ser ríspido só para não parecer puxa-saco. Por mais que me policie, cultivo tolerância zero para com puxa-sacos e, se possível, mantenho-me à distância deles. Assim fico livre de irritar-me. Mas, quando temos ojeriza por alguma coisa, parece que as ocasiões nos perseguem e, por isso, coleciono diversos casos a envolver puxa-sacos. Certa vez, estava eu numa festa na casa de certo profissional da imprensa, razão pela qual convidados, em sua maioria, eram funcionários e diretores de grande empresa de comunicação. Lá pelas tantas, quando grande parte dos presentes já estava na fase de chamar urubu de “meu louro”, o diretor cismou de cantar. Entoou um “Elvira escuta” tão desafinado e fora de ritmo que o homem mereceria o troféu “artista ao avesso”. Sim, porque para tanto desafinar com outras pessoas empenhadas na tentativa de ajudar só mesmo “artista”. É muito difícil! Enquanto ele agredia a tradicional canção seresteira, à sua frente conhecidíssimo noticiarista e comentarista desportivo mantinha-se, literalmente, de boca aberta, quase em êxtase. Terminado o suplício, o jornalista, não se contendo, aproximou-se do diretor a exclamar: oh! Doutor Fulano, eu não sabia que o senhor cantava tão bem! Fiquei chocado. Um homem tido e havido como excelente profissional quase a lamber as botas do chefe! Não deixei a festa porque integrava um grupo. Em outro episódio, a bajulação teve desfecho inverso ao esperado pelo bajulador. Aconteceu nos idos dos anos 70, durante crise no abastecimento de carne. Em todo o país, a carne havia sumido dos açougues. Quando algum estabelecimento tinha carne a vender, filas enormes se formavam na tentativa de pegar um bife. Numa tarde daquelas, em pequena cidade, ao sair do banho, empresário correu a atender a porta. Era um seu funcionário, todo sorridente, a carregar um pacote, que lhe pareceu algo familiar. Mas, antes que expressasse surpresa, o recém-chegado deu início à sua lengalenga bajulatória, coisa própria de seu caráter oportuno-parasitário dentro da empresa: - pois é chefe, num lance de sorte, consegui comprar alguma carne para mim e, na oportunidade, consegui um pouco para o senhor também. - Educadamente, o patrão expressou agradecimentos, de forma a apressar a retirada do empregado, pois desconfiara de algo estranho, além da bajulação em si. Ao conferir o pacote, constatou ser o mesmo esquecido por ele ao descer do táxi com outras compras efetuadas. Deduziu-se que, ironicamente, o bajulador teria usado o mesmo táxi e, encontrando o pacote, viu neste a oportunidade de levar alguma vantagem. No dia seguinte, ao invés de promoção ou aumento salarial, alguém ficou desempregado!

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