Blockchain, tecnologia revolucionária III

12 de Março de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Você, que leu os dois textos anteriores da série, deve ter percebido que eles não se prendem às questões técnicas, que envolvem a aplicação da tecnologia blockchain quanto à emissão, transação e validação do bitcoin, bem como de suas mais de mil congêneres. A parte técnica, bastante complexa, por isso mesmo mais facilmente compreendida pelos profissionais e estudiosos da área, é tratada em outros círculos. Abordam-se, por ora, tão somente os princípios que nortearam a criação e assim prosseguem no desenvolvimento da tecnologia, com vistas a um ambiente de gestão confiável para as mais diversas atividades humanas, a começar das finanças.

A confiança, apresentada no primeiro artigo, é fator imprescindível na interação humana, em quaisquer circunstâncias, não prosperando, a contento, os diálogos que denunciam qualquer desconfiança em relação à pessoa ou seus objetivos. Graças à aplicação, de forma segura, de conhecimentos profundos em matemática, ciência da computação e criptografia, tornou-se possível fazerem-se transações entre pessoas desconhecidas que, obviamente, não confiam entre si. O bitcoin, primeira criptomoeda, a circular na internet desde 2009, é prova robusta da confiabilidade demandada. Se confiança é fator imprescindível nas relações humanas, em todos os sentidos, a centralização do controle e do poder de decisão é fator que a inibe, razão pela qual, provas e mais provas se exigem e se dão a cada permuta de interesses, em todos os setores da sociedade. A distribuição ou descentralização desse controle, tornada realidade pela tecnologia blockchain, permite transparência, a todo o momento e a todas as pessoas, no sistema, que invalida qualquer intervenção ou tentativa de fraude.

Quando se fala de valor em bens materiais, o ouro se destaca por seu alto preço que, para muitos, se deve ao seu brilho e beleza, fatores significativos na composição do seu valor, mas não os principais. Seu alto preço se deve, primeiramente, à sua escassez, depois à sua utilidade e sua incorruptibilidade, quase absoluta. É a ESCASSEZ, principalmente, que determina o valor de algo. Quando o governo emite mais moedas, aumentando o meio circulante, ocorre a inflação e a moeda perde valor. A criptomoeda (bitcoin e similares), criada pela tecnologia blockchain tem seu número de unidades definido, de início, sem que essa meta possa ser alterada. Do bitcoin são vinte um milhões de unidades, das quais cerca de dezesseis milhões já foram mineradas, mas o que falta ainda levará cento e vinte dois anos para ser minerada, uma vez que crescem, progressivamente as dificuldades de mineração e, consequentemente, reduz-se o número de unidades mineradas. Certamente que quem vive hoje não alcançará a mineração do último bitcoin. Diante da demanda e da escassez, que crescem, há forte tendência de valorização dessa criptomoeda, o que é estimulante para quem a tem como reserva de valor.

De volta à blockchain, assunto principal desta série, há que se preparar para grande impacto, que a nova tecnologia provocará na vida de cada um, pois, com ela novas classes de ativos podem ser criados, bem como outros tipos de negócio. Para desespero dos políticos, até mesmo um sistema de governo autônomo é possível. Sendo a tecnologia blockchain um sistema descentralizado, sem qualquer ingerência de governo ou instituição, pode-se usá-la em bancos, em eleições, em registros públicos, provas de identidades e muitos outros casos. Atividades e empregos desaparecerão. Veja-se o caso de registros públicos. Atualmente, a forma mais confiável de se fazer a transação de um ativo é por meio de um banco, companhias de cartão de crédito, cartórios ou entidades governamentais. Isso pode ser substituído pela blockchain com serviço mais rápido, altamente confiável e a um custo muito inferior.

Pessoa física ou grupo tecnocientífico, não se sabe, Satoshi Nakamoto criou a blockchain e o bitcoin, eclipsando-se, em seguida, sem deixar rastros de sua verdadeira identidade. Conjetura-se, agora, sobre o porquê desse comportamento, presumindo-se que se sabia, desde o início, do impacto que a tecnologia blockchain provocaria. Ainda que represente a libertação de toda a sociedade humana em relação a obstáculos, às vezes, considerados intransponíveis por força dos que, atualmente, detêm o controle, é verdade que a nova tecnologia contraria interesses irrenunciáveis em muitos setores, por todo o mundo. Não seria gênio o criador da blockchain e do bitcoin, se a vaidade lhe subisse a cabeça, revelando-se ao mundo em busca da notoriedade. No presente caso, anonimato significa menos riscos e vida mais longa!

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