Breve história da Reforma Protestante

17 de Novembro de 2017
Geraldo Gomes

Geraldo Gomes

Os evangélicos de todo mundo comemoraram no último dia 31 de outubro próximo passado os quinhentos anos da reforma protestante. Foi no dia 31 de outubro de 1517 que o monge agostiniano e professor de teologia da Igreja Católica Romana, durante alguns anos, discordando de algumas práticas doutrinárias dessa igreja publicou uma lista de 95 teses de protesto na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha. Naquele dia, sendo dia de todos os santos, uma multidão de pessoas afluía àquela igreja para rezar ao santo preferido de cada indivíduo, acreditando este alcançar perdão de seus pecados, coisa da idade média, que, infelizmente até hoje ainda se pode ver vez por outra. Com o ato de Lutero aconteceu o maior cisma religioso cristão da história, cisma este que até hoje perdura de maneira crescente e constante e que convencionou-se chamar de Reforma Protestante, na Assembleia de Speyer de 1529, em que príncipes alemães manifestaram o total apoio às teses de Lutero. Dizem os historiadores que, antes de divulgar as suas teses, Lutero tentou dialogar com o Papa Leão X sobre suas ideias, o que nenhum efeito surtiu.

A invenção da imprensa com tipos móveis na década de 1430 por Johann Gutemberg teve um grande papel na divulgação em larga escala das teses de Lutero em toda a Europa. Ali, muitas pessoas abraçaram o movimento da reforma religiosa numa velocidade considerável. Lutero publicou a Bíblia no idioma alemão, traduzindo-a do Latim. Desta forma colocou a Palavra de Deus ao alcance do povo que antes só tinha acesso a informações citadas pelo clero dominante.

O principal motivo pelo qual Martinho Lutero pregou suas 95 teses na porta da igreja do Castelo de Winttenberg foi a venda de indulgências pela igreja católica para reforçar o caixa da igreja na época da reforma da Basílica de São Pedro, em Roma. Bastava ao pecador pagar uma certa quantia a um representante da igreja de Roma que teria em mãos uma carta de indulgência, ou seja, um passaporte para o céu, como se fosse possível comprar a salvação por dinheiro. Em sua tese de número 72 disse Lutero: “bem-aventurado aquele que luta contra a dissoluta e desordenada pregação dos vendedores de perdões”. Em sua tese de número 32 Lutero fala àqueles que pensam estar seguros da salvação porque têm em mãos um carta de perdão. Estes tais serão condenados para sempre, juntamente com seus mestres. Ele foi também contra o celibato. Em 1525 casou-se com a ex-freira católica Catarina de Bora que se tornou seu braço direito na divulgação da reforma em toda a Europa. O movimento da Reforma Protestante concorreu sensivelmente para o início da emancipação da mulher no decorrer da história. Hodiernamente há igrejas que ordenam mulheres ao sacerdócio.

Lutero passou para história como aquele que mais lutou contra a prática de venda de indulgências pois lendo a Carta de Paulo aos Romanos deparou-se com ensinamento sobre a salvação. Ali está explícito: “pois não me envergonho do evangelho, pois ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do Judeu, e também do grego. Porque no Evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé” (Rm 1:16-17).

A fé de que fala o Apóstolo Paulo em sua Carta aos Romanos é a fé no Senhor Jesus Cristo e em seu sacrifício remidor dos pecados da humanidade. O sangue de Cristo derramado na cruz do calvário é o único meio de pagamento pelo pecado de todos. Não há outro meio de salvação a não ser pela fé no sacrifício remidor de Cristo.

Dinheiro algum pode comprar a salvação. Se dinheiro pudesse comprar a salvação, os ricos se salvariam e os pobres não. Onde estaria a justiça? Deus é justo, colocou a salvação à disposição de qualquer pessoa, independente de condição financeira, de cor ou de raça. Basta colocar em seu coração os mandamentos que o Senhor Jesus ensinou: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Aquele que ama a Deus e obedece ao que Cristo ensinou, certamente terá vida eterna garantida, pois Jesus disse: eu vim para que tenhais vida.

Na França a Reforma Protestante teve como líder o Teólogo Cristão João Calvino. Nos meados do século XVI, quando o francês Nicolas Durand Villegagnon sob ordem do rei da França estabeleceu uma colônia francesa na Guanabara, a chamada França Antártica, vieram em sua companhia alguns huguenotes, como assim eram denominados os protestantes franceses. O principal deles, o Almirante Gaspard de Coligny que apoiava a missão de Villegaigon, era amigo de João Calvino, líder dos protestantes franceses. Haviam estudado na mesma universidade em Paris. Esta colônia que teve início em 1555, durou até 1560, quando os franceses foram expulsos por Mem de Sá, Governador Geral do Brasil. Villegagnon, influenciado pelo Almirante Gaspard de Coligny, simpático à causa da Reforma, escreveu a João Calvino, na França, solicitando a este que lhe enviasse alguns huguenotes. Em 7 de março de 1557 chegou à Baía da Guanabara uma expedição trazendo um grupo de evangélicos liderados pelos Pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier, com apoio financeiro da Igreja Reformada de Genebra. Em 10 de março, após o desembarque em terra, foi realizado o primeiro culto protestante no Brasil, talvez, no novo mundo. Então, já faz 460 anos que o primeiro culto protestante aconteceu em terras brasileiras. O Pastor Pierre Richier leu acompanhado por todos o Salmo 5, e, em seguida proferiu a pregação baseada no versículo 4 do Salmo 27. Era uma quarta-feira. No domingo, dia 21 de março, celebraram a primeira Ceia do Senhor em terras brasileiras.

Como a França Antártica foi extinta em 1560 pela expulsão dos franceses da Guanabara, não houve continuidade dos cultos em terras brasileiras, até que em 1630, alguns holandeses protestantes que vieram para a região norte do Brasil prestavam seus cultos, em Pernambuco. Em 1824 chegaram os Luteranos alemães e até hoje são numerosos na região sul. Em agosto de 1835 foi a vez da chegada dos Metodistas. Já, na década de 1850 chegaram ao território brasileiro as Igrejas Congregacional e Presbiteriana. Depois, vieram os Batistas, A Igreja Assembleia de Deus e outros mais.

Em todas as épocas, em várias partes do mundo, houve perseguições aos movimentos reformistas iniciados por Martinho Lutero. Muitos templos foram destruídos e muitas vidas foram ceifadas. Contudo, o ápice destas perseguições teve lugar na noite de São Bartolomeu, em Paris, 24 de agosto de 1572. Nesta noite, centenas de huguenotes foram assassinados por operações planejadas e coordenadas pela Família Real Francesa, que era católica e comandada por Catarina Di Médici. O Duque de Sully, um huguenote que escapou da morte por um triz, deixou registrado em seus escritos que na noite de São Bartolomeu e nos meses seguintes, por toda França, foram assassinados cerca de 70.000 protestantes. Algo para ser esquecido na história da humanidade..., ou, para ser lembrado como acontecimento funesto, para nunca mais ser repetido.

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