Como e quando eu fui dar em Glaura

16 de Dezembro de 2016
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

*Rodolfo Koeppel

Há 15 anos andando de moto na região de Ouro Preto, eu perguntei, como se fosse um paulista gozador, à um mineiro típico, conhecido como Mineirim-Come-Quieto, na beira de uma estrada de terra: “Oi moço! Se eu seguir nesta estrada, onde que eu vou dar?”. Claro que eu dei ênfase especial ao termo “dar”... E ele respondeu, com aquele cigarrinho de “paia” no canto da boca: “Moço, você pode ir dar onde você quiser... Mais nóis aqui num gosta disso não... Pro cê saber, este caminho de terra vai até Casa Branca”. Assim aprendi que as coisas podem ter significado diferente, dependendo de quem fala. E descobri o caminho para Casa Branca. Apesar de Casa Branca não ser mais Casa Branca e sim Glaura, desde a década de 1930, ninguém conhecia pelo nome de Glaura. Parecia que ainda estávamos na época do ouro, quando tudo o que veio para Vila Rica, de pinico a piano, passava por Casa Branca e subia pela magnífica trilha do Chafariz de Dom Rodrigo.

Naquela manhã, andando mais alguns quilômetros, por estrada ainda de terra (hoje com excelente asfalto ligando Cachoeira do Campo) fui dar em Casa Branca. Ai tem muitas histórias que ainda vou contar um dia, até com ajuda do Zé Grigório, que, morando em frente da Igreja Matriz de Glaura, tem histórias do arco da velha. E ele não vai me deixar mentir, sozinho...

Ninguém imagina como se vivia em Casa Branca, Ooops! Glaura. Aqui não tinha ouro. Tinha comida. Em Vila Rica só tinha ouro, não tinha comida.

Você já comeu ouro? Dizem que é duro e não tem gosto... Pois é, quem você acha que comeu os alimentos que eram produzidos em Glaura e pagou com ouro, na Grande Fome de 1701-1703? Em Vila Rica, com centenas de milhares de pessoas, não tinha mais cachorro, nem cavalo disponível. As pessoas já comiam pedaços de madeira que um dia tinham sido mesas onde a gordura havia penetrado... Assim Casa Branca ficou muito rica. A Igreja Matriz, construída sobre a Capela inicial (de 1701) em 1750, é gigantesca. Mas hoje quero dar uma referência, mais poética, sobre a beleza da nossa região. Que ouvi de alguém e não foi inventada por mim...

Há alguns anos, comemorando o aniversario de um grande amigo, trouxemos um grupo de muitas pessoas à pé desde Ouro Preto até Glaura, passando pelo Chafariz de Dom Rodrigo e descortinando, ao norte, a magnífica Serra de Capanema e Vale do Rio Uaimii (que os mais modernos conhecem como o “Das Velhas”). Um passeio inesquecível! Claro que se você for de Glaura para Ouro Preto, à pé, será mais inesquecível ainda – só subida! Nós viemos descendo, pois não queríamos perder os amigos. Vinha eu conversando com uma jovem senhora, sem a menor ideia de quem era. Perguntei de onde ela viera, já que no grupo havia gente de todo canto do Brasil. Ela disse: “Do Leite”.

E eu entrei quente: “Sabe, eu conheço o Leite (Santo Antônio do Leite) de uns 40 ou 50 anos atrás, quando um maluco, Sr. Lanari, resolveu fazer queijo de leite de cabra e foi um sucesso!” Ela disse, muito emocionada: “Ele era meu pai! E eu passei toda minha infância e juventude no Leite...”. Lanari foi uma grande figura mineira, na área de siderurgia. Se temos a Usiminas, devemos à ele. Fiquei feliz por ter conhecido a filha dele e achei que já tinha ganho o dia. Mas o melhor ainda estava por vir...

Ela continuou “Sabe, tem um mistério que eu nunca vou conseguir decifrar. Naquela época, papai podia ter comprado uma fazenda em qualquer lugar.

Era tudo barato. Mas nunca entendi por que ele virou para a direita em Cachoeira do Campo e foi dar no Leite. Podia ter virado à esquerda e ter ido dar em Casa Branca. Aqui, tudo é mais bonito. Veja este magnífico vale, as florestas, as cachoeiras que caem do alto da Serra de Capanema. E, quando as nuvens vindo lá do lado da Serra do Caraça transbordam por cima da Serra, aí sim, fica tudo ainda mais romântico e bonito”.

Neste dia, eu tive certeza que não precisava mais ir dar em lugar algum. Pois agora sabia que, tomando uma estrada errada, a gente pode dar onde não vai gostar... Se até o grande Lanari foi dar no lugar errado, segundo sua filha, eu, um simples caminhante, fiquei feliz por ter ido dar em Glaura. Pois a região do Alto Rio das Velhas, englobando Glaura / Floresta Uamii / Serra de Capanema / São Bartolomeu, onde eu agora conheço todos os antigos caminhos coloniais, não permitem que eu acabe chegando em algum lugar triste, feio ou longe. Tudo que é bonito, alegre e perto está aqui, à volta de Glaura. E, logo ali, depois da Serra do Siqueira, está Ouro Preto. A vista, logo depois que se começa a caminhar na Trilha do Chafariz, é inesquecível – de um lado o Vale do Tripuí com Ouro Preto no fundo. Lá no horizonte, o Pico do Itacolomy. Do outro lado, o Vale do Rio das Velhas, com a Serra de Capanema e, no fundo, Glaura. E no horizonte, lá longe, se vê Belo Horizonte!

Agora, Glaura, além desta beleza natural, vai avançando em outras áreas. Desde o inicio de 2016 temos o aconchegante e bonito Empório Caza Branca, onde você pode encontrar amigos e degustar boa comida, acompanhada de bons vinhos e cervejas, com boa música. Assim, Glaura vai se tornando um lugar cada vez mais especial. Um dia, quiçá, sequer vamos precisar vir à fabulosa Ouro Preto! Teremos natureza e serviços para oferecer aos nossos amigos, sem medo de dar errado!

(*) Rodolfo Koeppel veio para Glaura para realizar seus sonhos. E ao longo de 15 anos tem conseguido alguma coisa... Agora está construindo novos sonhos, com competentes artífices de Glaura e região. Assim, acha que não precisará mais de se arriscar por estradas desconhecidas e ir dar em lugares estranhos. Para compartilhar sonhos sobre Ouro Preto, faça contato Rodolfo.koeppel@gmail.com

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