Deixem a vegetação ciliar em paz

02 de Fevereiro de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Recentemente, o público teve oportunidade ler no site da prefeitura de Ouro Preto e em jornais da região o seguinte texto: “A Prefeitura de Ouro Preto, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, deu início no mês de dezembro à limpeza dos córregos e rios da cidade. Esta é uma ação importante, pois o acúmulo de vegetação nas margens dos cursos d’água torna o ambiente ideal para o aparecimento das mais diversas pragas urbanas como ratos, baratas, moscas, pernilongos e animais peçonhentos, além de ser ambiente adequado para criadouros dos vetores de doenças. Além disso, essa vegetação e o assoreamento gerado provocam a diminuição da calha dos rios, o que em períodos chuvosos, com o aumento do volume de água, pode gerar transbordamentos e inundações. A permanência da vegetação, lixos e entulhos no período de seca provocam mau cheiro, além da péssima imagem de local sem o devido cuidado, causando poluição visual”.

Há controvérsias... e como as há! Dentro de um regime com liberdade de expressão e responsabilidade pela autoria, cada um pode escrever o quer, mas nunca o poder público em seu dever de informar e justificar suas ações, pois a ele cabe tão somente repassar a verdade, tão clara quanto a água na fonte, não argumentos arranjados segundo conveniências políticas, na tentativa de enganar o povo ou encobrir incapacidade. Dizer que o acúmulo de vegetação nas margens dos cursos d’água contribui para o aparecimento de ratos, baratas, moscas, pernilongos e animais peçonhentos é uma grande mentira. (olhem o nariz do Pinóquio!). O que contribui para o aparecimento de tais pragas é o lixo, nas margens e no leito dos cursos d’água; é o esgoto in natura, lançado nos mesmos cursos. A vegetação, ao contrário, tem propensão a proteger as águas correntes, cercando lixo e entulhos deslocados durante cheias, no período chuvoso. Ela mantém o terreno encharcado ou úmido o bastante para evitar que se absorva mais água, reduzindo assim o volume líquido em curso. Cabe à administração pública zelar para que lixo não seja mantido nas margens e muito menos no leito dos lagos, rios e córregos. O que pode contribuir para o transbordamento e enchentes é o assoreamento com origem em fatores diversos, que deve ser inibido, fiscalizado e combatido em prol do meio ambiente. Vegetação nas margens não gera assoreamento, não reduz a calha e nem provoca transbordamento, pois enquanto fixa no local ela é permeável, deixando passar a água livremente, retendo, porém material estranho trazido pela correnteza; daí o nome ciliar, pois a exemplo dos cílios que retém a poeira que ameaça os olhos, a vegetação segura material estranho às águas. Vegetação é natureza, é parte do processo de conservação das águas e não uma intrusa, que deva ser combatida ou erradicada das margens dos córregos e rios.

Todo o texto, publicado pela PMOP, é conversa mole pra boi dormir, cortina de fumaça para que o público não veja o que realmente acontece, e, a ação nele enaltecida pode ser qualificada como crime contra o meio-ambiente. Cursos d’água, além da redução por força dos ciclos da natureza, vêm sendo reduzidos pela ação do Homem. Cabe à administração pública, além de educar para que tal ação não seja maléfica, zelar e bem administrar os recursos, impedindo, com eficácia, o mau uso dos recursos hídricos. De competência do poder público, o primeiro passo seria o tratamento dos esgotos antes de seu lançamento nos cursos d’água, mas isso não é feito. Para disfarçar e “mostrar serviço”, apela-se então para a erradicação da vegetação que, na visão míope da mesma administração, abriga insetos e animais perigosos. Tais animais, também parte da natureza, tendem a viver e se multiplicar nas condições proporcionadas pelo lixo e imundície, que não existiriam na margem das águas, se o poder público cumprisse sua parte, sem se incomodar com a vegetação. Contidos longe do meio humano, animais e insetos não fazem mal algum. Caros caras-pálidas, o verde às margens das águas não é poluição e não causa nenhum transtorno ou constrangimento. Poluição mesmo, que constrange e causa mal-estar é a água pútrida e fétida aos olhos e às narinas! Isso é que tem de ser resolvido, para o bem da natureza e de toda a comunidade! O resto é demagogia barata!

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