Ensino religioso

27 de Outubro de 2017
Geraldo Gomes

Geraldo Gomes

Criou-se uma grande celeuma nos meios de comunicação televisiva e internetizada, recentemente, onde discussões acaloradas estão acontecendo sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) permitindo nas escolas públicas aulas de religião com teores confessionais. Na prática, tal decisão permite ao professor ensinar aos seus alunos aquela religião que ele pratica, e, portanto, suprimir dos estudantes a oportunidade de estes conhecerem as diversas religiões existentes para que possam avaliar entre várias, e, escolherem a que melhor agradar. Antes desta decisão as aulas de religião deveriam ser ecléticas, não colocando nenhuma religião em particular em evidência, e, abordando os vários aspectos característicos e históricos das várias práticas religiosas.

Sendo o Brasil um país laico por determinação constitucional, fica claro que a forma como eram ministradas as aulas antes dessa decisão do STF se mostra mais coerente com a Constituição do país. No entender de muitos pensadores a laicidade em nosso país ficou seriamente comprometida com a decisão do STF e a constituição ficou arranhada, desnecessariamente.

Um país democrático prima pela liberdade de seus cidadãos. Liberdade em todos aspectos de suas vidas, principalmente no que concerne à escolha da religião a seguir, ou se preferir, seguir nenhuma. O Estado não deveria interferir nesta questão. Quando ele o faz certamente está diminuindo o nível de liberdade do seu povo, o que compromete a democracia. Os adolescentes, aqueles que estão sujeitos a receber informações em aulas de religião, têm o direito de serem informados de maneira eclética quando o assunto for desta matéria. É dever do Estado garantir-lhes este direito, e, não deixar em aberto para o professor decidir o que deseja ensinar. Houve, sim, um inexorável retrocesso democrático neste quesito que diz respeito às aulas de religião nas escolas públicas.

O ensino religioso deveria ser praticado pela família e pela igreja à qual a família pertence. Haveria menos ideias conflitantes relacionadas a este assunto se assim o fosse. Tendo em vista que quando se fala de religião a questão da fé está intrinsicamente ligada, e, fé é algo de foro íntimo de cada pessoa, o Estado faria muito bem se se distanciasse da responsabilidade de manter professores de religião nas escolas públicas. Os salários pagos a estes docentes poderiam ser investidos de outra forma, por exemplo, melhorar o nível salarial dos professores das outras disciplinas, quesito básico para melhorar a qualidade tão combalida do ensino, atualmente. A classe de docentes da escola pública é a mais desvalorizada deste país, quando se trata de remuneração salarial.

No que concerne à religião a ser seguida pelo cidadão em um país democrático, o assunto diz respeito somente a ele. Os cristãos seguem a Jesus de livre e espontânea vontade, atendendo ao chamado do Senhor Jesus quando falando a seus discípulos disse “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24). O Senhor Jesus, nestas palavras, deu o maior exemplo de democracia que se pode ter em termos religiosos. Ele não obrigou ninguém a segui-lo. Suas palavras são um convite para todos, independente de raça, cor, idade ou profissão. Entretanto, quem resolve atender ao chamado de Cristo e segui-lo, faz com Ele um pacto de amor e responsabilidade para com o próximo e com Deus. Cristo ensinou que toda lei de Deus pode ser resumida em apenas duas: “Ame ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma, de todas as tuas forças e de todo teu entendimento, e ao próximo como a ti mesmo” (Lc 10:27). O leitor, fazendo uma mesa redonda consigo mesmo, pode imaginar que é difícil seguir o que Cristo ensinou. Ele está certo. Esta é a razão porque Jesus disse que cada seu seguidor deve antes tomar a sua cruz. Esta cruz é de cada seguidor, mas Cristo, em seu infinito amor ajuda a cada cristão levar a sua até trocá-la pela vitória que é certa. Jesus jamais abandona aquele que decide segui-lo. A cruz representa as muitas dificuldades que o cristão encontra para seguir o Mestre Jesus, mas para todas elas haverá escapatória, se verdadeiramente o seu coração estiver ligado ao trono da Graça, pois está escrito na Carta de Paulo aos Efésios: “Porque é pela graça que sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2:8).

A religião de um povo é muito importante para a economia de uma nação. Se forem observados os países comunistas onde todas as formas de religiões foram proibidas, constata-se que estes sofrem de grandes mazelas econômicas bem como de desastrosa desagregação familiar. A religião, seja ela qual for, deve ser incentivada pelos governos, pois constitui força de união entre as pessoas, o que é sempre benéfico para qualquer país. O que não se pode é, de maneira sutil, dar preferência para uma ou outra religião.

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