“Eu sou assim”

15 de Dezembro de 2017
Valdete Braga

Valdete Braga

Nunca vou conseguir aceitar o tão comum “eu sou assim”, como justificativa para certos atos. Tão normal hoje em dia! Tão comum falar o que se quer, fazer o que se quer, magoar Deus e o mundo e se desculpar com a cada dia mais natural frase “eu sou assim”. Aliás, ela nem é usada para se desculpar, às vezes até o contrário. O ego de quem a diz a torna mais justificativa do que desculpa. As pessoas estão ficando tão egocêntricas que estão se tornando incapazes de entender o outro. “Eu sou assim” e isso me dá o direito de machucar, magoar, agredir, o outro que se dane com seus sentimentos.

Não, nunca vou aceitar. Quantas vezes eu ouvir “eu sou assim” de alguém que cometeu uma agressão ao outro, vou repetir “então procure mudar, sempre há tempo”. Jamais aceitarei este orgulho besta, este ego inflado incapaz de admitir que a outra pessoa possa ser mais sensível e, principalmente, que ela tem sentimentos. Parece que neste mundo virado ao avesso em que vivemos, sensibilidade é sinal de fraqueza. Bonito é falar primeiro e pensar depois, chutar a porta e cuspir no chão. Tudo justificado porque “eu sou assim”.

O ego destes seres é tamanho que eles não conseguem entender que todos nós “somos assim”, de alguma maneira. Cada pessoa tem a sua maneira de ser, mas ninguém é obrigado a aturar falta de educação e grosseria em nome disso. Cada um é um e merece respeito. Mas tudo tem limite. Ninguém tem o direito de detonar ninguém porque “é assim”.

Como toda moeda tem dois lados, existem também aquelas pessoas chegadas em um drama, que vêem tragédia em tudo e exageram no vitimismo. Mas não é disto que falo, aí é outra história, é o exagero do lado oposto. Estou me referindo ao dia a dia, às pessoas comuns, como eu e você que lê agora este texto. Gente comum, com vidas comuns, que têm bons e maus momentos, bons e maus dias, que têm sentimentos e não merecem nem precisam serem saco de pancada de quem, no seu dia a dia, “é assim” agressivo, grosseiro e sem educação.

Não falo de casos isolados. Às vezes a pessoa perde a paciência mesmo, está em um mau momento, dá uma má resposta. Somos humanos e todos estamos sujeitos a erro. Mas quando acontece por um erro, em um mau dia ou por algum problema esporádico, a pessoa se desculpa, e se isso não for um hábito dela, a outra parte vai entender, com certeza. Pode acontecer com qualquer um. Inadmissível é o número crescente de pessoas que fazem da agressividade e desrespeito uma maneira de viver, sempre agredindo, e repetindo como papagaio “eu sou assim”, querendo dizer com isso que somos obrigados a aceitar sua constante falta de educação. Não somos. Ninguém é. Quando “ser assim” faz mal ao outro, é hora de deixar de ser.

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