Eu, tu e eles

17 de Fevereiro de 2017
Neto Medeiros

Neto Medeiros

O sol no nordeste faz torrar o esterco seco no asfalto. A seca no interior continua massacrando o lombo do sertanejo. A maioria continua a mercê do caminhão pipa, da ajuda do Doutor, da clemência de São Pedro...

A única coisa que consigo enxergar são os oportunistas. Que fazem carreira em cima da miséria alheia. Não sou nenhum especialista em São Francisco, nem pretendo, mas como jornalista, e por conhecer o esplendor de águas que o rio é, fico estupefato como pode o ser humano dar conta de destruir tanto volume d’água assim. Como pode haver trechos secos e poluídos de um verdadeiro milagre natural...

Mais que isso. Além da transposição, e da potencial ajuda ao agronegócio em detrimento dos ribeirinhos e reais necessitados, percebo como o país segue dividido em quase tudo quanto é tema. Quem é favor ou contra a transposição é só mais uma batalha diante de uma guerra bem maior. A disputa entre coxinhas e mortadelas tem se acirrado na rede social em todos os níveis...

Confesso que eu mesmo parto pro combate. E por ter ideias progressistas, sou tachado de petralha. Se vejo alguém apoiar o Bolsonaro, carimbo logo de coxinha!

Escrevo estas linhas para me desculpar. É só o que tenho feito ultimamente. Admito que em termos de política, me contagiei pelo espírito do futebol e admiti mais de uma vez, o “clubísmo” que adotei para defender meus “achismos”. Confesso que extrapolei mais de uma vez, principalmente, porque na maioria das vezes, não sabia patavina sobre o assunto. Admito. Me contagiei pela polarização e percebi o como os extremistas perdem a razão. (Já reparou como o Malafaia só argumenta gritando quando quer impor sua fala?).

E o problema é exatamente esse. Muitos religiosos, políticos e figuras públicas ganham notoriedade por apenas vociferarem em frente às câmeras. Verborrágicos, caricatos e extremos. Quase sempre defensores da moral e dos bons costumes.

No futebol, as pessoas escolhem torcer por A ou B, por obra divina, do acaso ou por hereditariedade. Sou corintiano por causa do último fator. Meu pai me passou este carma. Na política, sobretudo na partidária, torna-se altamente nocivo para qualquer cidadão votar ou pensar segundo os desígnios de terceiros. Claro, salvo as exceções dos regimes de exceções... Mas me entristece perceber que tem gente que vota em fulano ou cicrano porque o padre, o pastor, o pai, o marido, o apresentador mandou...

Enfim, por mais que não entenda o que leva alguém apoiar um cara que “mama” há quase trinta anos, onerando a União em alguns milhões de reais há três décadas ininterruptas sem que aprove um projeto relevante sequer. Não consigo entender como alguém apóia um cara que tramou explodir bombas de pequeno potencial ofensivo no exército (leia-se praticar terrorismo) a fim de reivindicar melhores salários. Não consigo entender como alguém faz reverências a um confesso torturador, dizendo que o mesmo é “o terror da presidente Dilma”.

Sim. Me refiro ao Bolsomito como muitos dizem. E me entristece ver que políticos como ele ganhe tanta repercussão midiática, como o Trump e tantos outros apresentadores de TV ou rádio que acabam amealhando uma legião de séquitos por defenderem ideias fascistas, como o machismo e a xenofobia, além é claro, da aversão a qualquer tipo de minoria. Mas a DEMOCRACIA é o único sistema onde eu tenho que respeitar essa sua escolha não é mesmo!? Fazer o quê!?

Não vou e nem quero entrar no campo da religião. Mas a Alemanha mostra um exemplo límpido de resiliência que deveríamos aprender. Enquanto aqui tem aqueles que pedem a volta da ditadura, lá, no outro lado do oceano, todos aprendem desde cedo e sabem sobre o passado recente e tenebroso pelo qual passou o país. Apenas meia dúzia de imbecis de lá e no mundo que exaltam aquela carnificina. Os alemães, em sua maioria, sentem nojo e vergonha daquilo que Hitler e seus asseclas proporcionaram ao mundo. Há um crescimento da extrema direita em várias partes do globo e isto pode encubar diversos movimentos plutocratas. Oito figuras são donos da soma de todas as outras riquezas. É daí pra mais...

Outro dia uma amiga postou em seu face a seguinte provocação: Ouro Preto é dos ouro-pretanos?

Pipocaram comentários. Acho que essa amiga queria mesmo isso (rsrsrs). Eu também comentei mais de uma vez. Mas além de dizer que Ouro Preto é do preto, acima de tudo, pois foi ele quem construiu a cidade com suor e sangue, disse também que estou querendo compreender o porquê da humanidade estar tão bairrista como agora. Vide Inglaterra saindo do Euro, o muro do Trump (olha ele de novo!) junto com a agressividade para com os muçulmanos, a polarização na política, o acirramento das políticas fronteiriças, diásporas, perseguição aos haitianos no sul do Brasil e etc etc etc...

O mais bizarro é perceber que há quem coadune com tudo isso. Há quem ache legal queimar mendigo. Matar bandido. Prender maconheiro. Estuprar mulher. Expulsar imigrante. Bater em travesti...

Você tem todo o direito em ser a favor da menoridade penal, torcer pela reforma trabalhista e da previdência, silenciar as panelas diante da corrupção plena, enfim, você tem até mesmo o direito de ir pra rua com cartaz de apoio ao Trump (putz! Música no fantástico!). Inclusive de pedir a volta da ditadura. Mas cá pra nós, o que realmente me preocupa é você estar se tornando maioria.

E o Tiririca com seu slogan mentiroso nunca esteve tão enganado. Nada está tão ruim que não possa piorar...

Alma não tem cor

Amor não tem fronteiras

Quem enxerga barreiras

É somente o rancor

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