Falando perto do coração

09 de Setembro de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

Um dia, um grande mestre perguntou aos seus discípulos:

– Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?

Os discípulos pensaram por alguns momentos.

– Porque perdemos a calma, disse um deles. Por isso, gritamos.

– Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? - questionou o mestre. Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando está aborrecido?

Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfazia ao mestre. Finalmente, ele explicou:

– Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar. Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para escutar-se um ao outro, através desta grande distância.

Em seguida, o mestre perguntou:

– O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas sim, se falam suavemente, por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.

E continuou:

– Quando se enamoram acontece mais uma coisa. Não falam, somente sussurram e ficam mais perto ainda de seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.

E concluiu, dizendo:

– Quando discutirem, não permitam que seus corações se afastem. Não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tamanha que não mais encontrarão o caminho de volta.

Esta lição budista é uma das mais reais e atuais que conheço. Incrível como uma história criada há séculos, passadas de geração em geração, lidas por professoras nas escolas desde a época de minha avó, sabe-se lá criada onde e por quem, possa ser tão atual. As pessoas nunca gritaram tanto umas com as outras, por motivos fúteis, sem a menor razão de ser. Qualquer contrariedade é motivo para agressividade e gritos, como se o outro tivesse culpa do estresse e dos problemas que estão dentro do seu coração.

E assim vão se afastando um pouco a cada dia, até que, como já dizia o mestre budista no passado distante, não se reencontrem mais. Pais gritam com filhos, filhos gritam com pais (e nem repreendidos são, pois os próprios pais acham “normal”) amigos gritam com amigos... não os meus. Eu não grito com eles e se algum gritar comigo eu, no meu tom de voz normal, pergunto o motivo do escândalo, se estou tão perto. Se cada um de nós fizer isto, manteremos os corações lado a lado.

Voltando um pouco no passado, lembro-me que entre as lendas que eu lia para os meus alunos, esta era uma das preferidas. E na hora do “trabalho em grupo” eles adoravam ficar pertinho um do outro e falar bem baixinho um elogio para o coleguinha. Fazia bem a todo mundo.

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