Free boy

07 de Julho de 2017
Neto Medeiros

Neto Medeiros

Na orgia de Brasília, a carne é fraca. Opaca feito os bastidores do palácio. Para uns, Nova York, para outros, Bangú. Pra quem tem grana chama-se cloaca, para os pobres...

De 4 em 4 anos renova-se de mesma coisa aquela podridão. Às vezes uma ou outra novidade antiga, um filho, um neto... E o esquema perene. O conchavo pra lá e pra cá, reeleição. Toma lá e dá cá. Mais 4 anos. Quase que infinitos. Assim, Bolsonaros da vida e tantos outros, vão se perpetuando no poder, disseminando borrachas, ecoando uma voz ordinária sustentada na cabeça de tantos outros ordinários, muitos destes, sem ter em quem acreditar e assim, legitimam aqueles do discurso vazio, mas que saem bem na fita. Ou falam bonito. Rouba mais faz. “Se anda no Minhocão, foi Paulo Maluf que fez”...

Dá uma revirada no estômago querer falar sobre a política brasileira. Ainda sofremos na geração de políticos de carreira que não largam o osso nem por um baralho. Ainda temos Barbalhos, Sarneys, Malufs, Magalhães, Calheiros, Collors, Neves...

E por isso, por causa da crise de representatividade, figuras nefastas ganham terreno em meio a um amontoado de podridão. Chamados de mito. Mesmo que omitam a verdadeira vocação ao ódio e perseguição as minorias. O pior mesmo é que muita gente íntegra se afasta da política quando deveria fazer o contrário.

Também todo o sistema brasileiro não ajuda, mas também se não houver uma radical renovação, nada mudará. Ou você acha que este congresso ou os próximos irão aprovar alguma reforma política decente? Quem ali legisla a não ser em causa própria? Quantos podem sofrer uma devassa em suas contas? Quantos não entraram em algum esquema? Quantos não tem cargos fantasmas e vivem de maneira proba?

Muita gente morre nesta guerra injusta. Quase sempre inocentes. Pretos e pobres em sua maioria. Na mansão chama-se o chaveiro para abrir a casa de ladrões e ladras de colarinho. Na favela, esculacho e pé na porta.

Toda uma geração de brasileiros perdida em uma guerra sem vitoriosos ou derrotados. Uma guerra onde é vendido o terror e é comprada a paz. Onde a TV exibe corpos e o jornal não pode derramar. Onde corpos são números. Onde um condomínio é separado da favela por um muro. Onde o sinal mostra o artista. Onde a criança, quando não abusada, é abandonada a própria sorte. Também no sinal. Onde o tráfico de influência só não mata mais que a guerra absurda travada contra toda uma juventude sem perspectiva. O pé que relha no pó. O morro esculachado e o asfalto devidamente cuidado...

E quem são os donos daquele tanto de pasta base encontrado em um helicóptero cujo piloto era funcionário da assembleia legislativa de Minas Gerais. E o que deu isso? E quem é o dono do avião de meia tonelada? Uma tonelada de cocaína, ou melhor, pasta base, ligada a políticos brasileiros, um senador e um ministro da agricultura, ambos em atividade. O que falta mais??? Enquanto isso, o Dória mira os viciados da Cracolândia... Esse é o Brasil.

O problema do Brasil é a procrastinação. Ou a seletividade. Ou além do ódio seletivo e às vezes equivocado, também uma confusão de prioridades. A Lava Jato abriu a tampa do lixo. Resta saber se esse lixo vai ser revirado até o fundo do balde, ou somente algumas sujeiras serão recicladas e outras escondidas debaixo do tapete. Ainda espera-se pela Lava Jato da dívida pública, do BNDES, dos bancos, públicos ou não, da CEMIG, de Furnas, dos Estádios da Copa...

Dá-me esperança e desalento este cenário. Porque é perceptível a contaminação de todas as esferas do poder. E diante da pergunta: quem vigia o vigia? Percebe-se como ainda estamos longe de uma consolidação democrática das instituições. Gerações perdidas e vindouras terão ainda que participar desta mudança, que parece quase sempre utópico, dada a história e as dimensões do Brasil, além da cultura do “levar vantagem”, ou “jeitinho brasileiro”, a gambiarra da democracia! Uma canetada e anula-se 54 milhões de votos!

Era de se esperar o agravamento da crise após uma ruptura institucional tão violenta. O cuspe na constituição culminou com o desmembramento do processo e a absolvição dos direitos políticos de Dilma. Isso foi o último bate estaca na rachadura bizarra proporcionada por um teatro de vampiros. Em meio a isso tudo, revistas, TVs, jornais e redes sociais. Hora polarizado, hora confuso, agora, arrependido...

No velho novo teatro brasilis, o novo enredo nefasto murcha nosso afã por justiça, e como diria a música do Skank, mais uma vez, morremos de raiva com a política. O julgamento político da política. E a chapa, hora quente ou fria, a depender da conveniência, esfria. A inadimplência ignorada na complacência do poder. Que mata, fere e manda soltar. E quem viver, verá. Solto ou com tornozeleiras. A não ser que seja preto, pois este é destinado a ser esquecido na masmorra que o Estado brasileiro chama de cadeia...

O Brasil é tipo a farra do boi. Este símbolo em evidência, expiatório feito o bode, de piranha, povo marcado e feliz.

O mesmo julgamento equivocado da rede, que tatua inocente na testa e atesta inocência a quem lhe bate a carteira em orçamentos, decisões, pronunciamentos e tapinhas nas costas...

Talvez um dia tenhamos melhores candidatos. Talvez um dia sejamos melhores eleitores. Como diria o Skank mais uma vez: Pacato cidadão, da civilização. Acorda!

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