Geração “eu quero”

19 de Janeiro de 2018
Valdete Braga

Valdete Braga

Serei eu que estou cansada ou o mundo está errado? Às vezes penso que o problema está em mim, que talvez eu seja muito exigente, mas quando vejo outras pessoas com o mesmo sentimento, percebo que não. Os valores estão mudados. As pessoas estão confundindo liberdade com excesso. Livres todos devemos ser, mas não podemos nos esquecer da máxima “a minha liberdade termina onde começa a do outro”.

Tenho percebido, principalmente nos mais jovens, uma certa confusão entre liberdade e abuso. No embalo do politicamente correto, onde uma hora se pode tudo e na outra não se pode nada, dependendo do contexto, a coisa vira uma salada, que no final ninguém consegue entender.

Eu sou de uma época em que certo era certo e errado era errado, bem definido. Obrigação de cuidar dos filhos era dos pais (deixando claro que dos dois, pai e mãe) e obrigação de filho era respeitar os pais. Criança não dava má resposta aos mais velhos e os mais velhos sentavam as crianças no colo sem sequer passar pela cabeça qualquer intenção que não fosse a do carinho paternal. Falar palavrão com os pais? Sair batendo porta? Se alguém se atrevesse o mundo vinha abaixo.

O resultado foi uma geração responsável, correta e honesta. Obviamente, havia casos e casos, e mais obviamente ainda, nem todos desta geração se tornaram pessoas do bem. Mas era regra, e não exceção. Atualmente, a exceção virou regra. Crianças tratam os pais como servos, estamos criando a geração do “eu quero”. Pior: exigem. Pior ainda: com ou sem condições, os pais dão. É mais fácil, mais cômodo fazer todas as vontades do que explicar porque não pode ser como eles querem. Educar dá trabalho.

A criança cresce sem limites e quando adolescente, os problemas se agravam. Não aceitam regras, e os pais se tornam unicamente provedores. As más respostas se transformam em agressões. O “eu quero” se transforma em “eu exijo”, surgem chantagens e ameaças e a coisa vai só piorando.

Todos os jovens são assim? Claro que não. Existem jovens respeitadores? Claro que sim. Nada deve ser generalizado. Falo de um contexto amplo, de infelizmente, um comportamento que vem crescendo assustadoramente entre adolescentes de todas as classes sociais.

Triste realidade que poderia ter sido evitada, como foi em gerações passadas. Não falo daquela criação cruel com surras e abusos infantis, de jeito nenhum. Isto também está erradíssimo. Mas aí também entra a relação regra-exceção.

Se em um passado mais remoto, o modelo de criação era cruel, isso não pode servir de parâmetro para que hoje ele seja nulo. Filhos que mandam nos pais quando crianças, tornar-se-ão jovens desajustados, e pais que se permitem serem dominados pelos filhos, sofrerão as conseqüências no sofrimento do próprio filho. Respeito é fundamental. E não existe respeito se não houver educação.

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