Jacubas e Mocotós

26 de Agosto de 2013
Alex Bohrer

Alex Bohrer

Várias cidades coloniais mineiras possuem uma rivalidade bairrista característica. Em Ouro Preto esta “rivalidade” vem gestada desde o período colonial e está intrinsecamente ligada ao surgimento e desenvolvimento urbano da cidade. Durante muitas décadas do século XVIII Vila Rica era composta de dois núcleos principais separados, cada um com paróquia própria: o Antônio Dias (cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição) e o Ouro Preto (devotado a Nossa Senhora do Pilar). Ambos tinham suas matrizes, ambos tinham irmandades com mesmo orago, ambos tinham Ordens Terceiras (Franciscana no Antônio Dias; Carmelita no Ouro Preto). O Pilar de Ouro Preto possuía sua igreja das Mercês, Rosário e seu templo de Ordem Terceira, o Carmo. Antônio Dias ostentava também sua Mercês, Rosário (Santa Ifigênia) e São Francisco de Assis (sua representante das Ordens Terceiras). A cidade só adquiriu sua feição atual com a terraplanagem do cimo do Morro de Santa Quitéria: a Praça, atualmente chamada Tiradentes, tornou o ponto central e o clímax físico evolutivo do período aurífero, dando à vila o seu aspecto de homogeneidade e unicidade que atualmente possui – mas, quando isso ocorreu, já havia transcorrido a maior parte do século XVIII. Ainda hoje, todavia, para quem caminha nas velhas ruas de um e outro bairro, é possível perceber um “quê” de diferença que perpassa as construções e o arruamento.

Esta diferença, outrora bem mais evidente, foi batizada com terminologia própria pelo menos desde o século XIX: os de Ouro Preto eram chamados de Mocotós e os de Antônio Dias, de Jacubas. As explicações sobre a origem destes termos são as mais variadas. Em 1967 Alcebíades Taciano Jerônimo propôs, baseado em tradição anterior, que o termo “Jacubas” era corruptela popular de jacobino, nome de grupamento importante na Revolução Francesa, em 1789. Mas, por que esta origem distante? Em Antônio Dias residiam os elementos políticos mais irrequietos e os democratas mais destacados da cidade. E “Mocotós”? Para Alcebíades o termo vem do orgulho pitoresco dos moradores do Pilar de Ouro Preto, que se auto-intitulavam Pés-de-Boi ou Mocotós (segundo o mesmo pesquisador o termo também pode ser empréstimo do congolês “macota”, que significa pessoa com influência).

Augusto de Lima Júnior dá uma versão diferente. Para Lima Júnior: “os moradores de Ouro Preto denominavam jacubas aos de Antônio Dias, alegando, que, estando o matadouro de rezes na freguesia de Ouro Preto, os outros só se alimentavam de farinha e rapadura. Os de Antônio Dias respondiam que, se o matadouro estava em Ouro Preto, a carne ia para Antônio Dias, contentando-se os fregueses do Pilar com as mãos das rezes ou mocotós.”

Esta rivalidade característica proporcionou à cidade uma infinidade de lendas, tipos de rua, anedotas etc. Estas rixas antigas enfeitam a já rica história de Ouro Preto, mostrando quão fecunda é a cultura de nossa gente e quão variados são os enfoques e abordagens que a sociedade ouro-pretana pode nos proporcionar.

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