Lendas e folclore

20 de Maio de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

O filho de uma amiga chegou com essa: “eu vi aquela sua história na internet”.

A princípio, pensei em alguma crônica, até que ele explicou que era “a história da índia que virou lua”. Lembrei-me de uma das minhas lendas amazônicas preferidas, que publiquei há algum tempo. Expliquei ao garoto que aquela história não era minha, que era uma lenda antiga e muito conhecida. Ele disse “coitadinha da índia”, e quando saiu eu e a mãe ficamos filosofando sobre o fato. Em nossa época de escola, conhecíamos as lendas e folclores através de enciclopédias, hoje a garotada as conhece com um simples clique.

A índia que virou lua, Iara, Boi Tatá, Boto Rosa... histórias que faziam parte do imaginário infantil e eram de difícil acesso. Enciclopédias eram caras, precisávamos ir à Biblioteca para ler. Fazíamos trabalhos, peças de teatros, baseadas nas histórias, que foram ficando esquecidas.

Confesso que foi uma surpresa boa ver uma criança interessada em nosso folclore. Se ele viu a “história da índia que virou lua” e se interessou, não faz diferença se foi em uma enciclopédia ou na internet. E se lembrou da época em que eu a publiquei, melhor ainda. Quer dizer que ficou em sua memória.

Confesso que quando utilizo este espaço para folclore, os de minha preferência são as histórias budistas. Gosto também de fábulas, e estas têm um gostinho todo especial de infância. Mas, independente do meu gosto pessoal, é gratificante demais ver uma criança curtindo lendas pela internet. Essa combinação de tradição com modernidade é perfeita! Os desenhos das enciclopédias de minha época tornaram-se, atualmente, fotos e vídeos, com fundos musicais e interpretações, mais de acordo com as crianças de hoje, mas não menos importante para a sua formação.

Crianças de 2016 não costumam ter interesse em textos impressos, e isto é normal. Mas quem da minha geração nunca leu sobre o Saci Pererê, a Crupiara, ou lendas de outras culturas, como a Borboleta branca japonesa ou a Semente da mostarda budista? A realidade é outra, e isto também é natural. O mundo evolui e muda, e quanto mais evolui, mais muda. Fica difícil explicar a uma criança que é o contrário. Deve ser difícil para ela entender que a história tem trocentos anos, quando ela a conhece através de um meio de comunicação tão moderno. Ou seja: se saiu no jornal, tem de ter sido lá primeiro. Jornal é coisa “antiga”.

Acompanhando o meu raciocínio, a minha amiga brincou: “para ele, a história é sua, porque ele viu primeiro no jornal. Para não perder a piada, respondi: “seguindo o seu raciocínio, você vai ter de explicar para ele que o meu nome não é Esopo nem La Fontaine”.

Rimos muito e o garoto não entendeu nada.

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