Madrugada

27 de Maio de 2014
Valdete Braga

Valdete Braga

Gosto da madrugada. O silêncio, a quietude, inspiram e dão uma deliciosa sensação de bem estar. Na madrugada tudo parece mais intenso. A inspiração é maior, o tempo parece passar mais lentamente, até os filmes na TV parecem melhores.

Madrugada é intermediária entre o dia e a noite, o sono e o despertar, o sonho e a realidade. Lembro-me de uma música do meu ET que diz “a noite não é eterna. É o nascer do sol mais um dia”. Se a noite é o nascer do sol mais um dia, a madrugada pode ser definida como o final da noite e o início do dia. Ou vice-versa. Não sei. Gosto de intermediários, talvez por isto me identifique com a madrugada.

O intermediário nos trás esperança. Não sei porque, mas a nossa tendência é associar a palavra fim a algo ruim. Não precisa ser assim, mas é natural ao ser humano acreditar que quando algo termina, junto com ele vai a nossa esperança. Refiro-me a coisas boas, naturalmente. O que nos faz mal, quando vai, já vai tarde. Mas quando algo bom termina, dói, e transferimos esta dor para o significado da palavra fim. Daí a importância do intermediário. Daí o meu amor pela madrugada.

Se pensarmos com clareza, a própria vida terrena é um estágio intermediário para a nossa evolução espiritual. Sofremos tanto quando alguém querido morre, porque naquele momento só conseguimos enxergar o fim do corpo, que se nos apresenta. Enxergamos a pessoa inerte, enxergamos o corpo descendo para a terra. Enxergamos o corpo e pensamos estar enxergando o ser, quando na verdade o ser já não está naquela casca que o tempo corrói. Resumindo, em nosso sofrimento, enxergamos o fim do que na verdade é eterno.

O intermediário é lindo, porque nos trás um dos mais belos sentimentos: esperança. A madrugada é esperança de um novo dia. Fica também entre dois estágios: a noite escura e o raiar do sol brilhante. Talvez o dia que se iniciará não seja tão bom, talvez ele até nos traga mais tristeza do que alegria. Da mesma forma, a noite que termina pode ter sido linda. Seja como for, o fator intermediário vem nos mostrar que nada é imutável, que a vida é constante movimento, que tudo pode se transformar, para melhor ou pior, e que devemos estar preparados para isto. Amo a madrugada.

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