Maravilhas da Natureza e Nós

27 de Janeiro de 2017
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

R. Koeppel (*)

Ao longo da vida vão nos ensinando como maravilhosos somos. O ser humano seria a maior criação divina, dizem. Hoje eu gostaria de registrar visões sobre maravilhas que existem na Natureza e assim ajustar esta imagem, que talvez seja um pouco exagerada. Claro que o tema mereceria um jornal completo e não seria, mesmo assim, possível exauri-lo. Pois o tema é amplo e polêmico e aflige a todos nós, que lemos ou não O LIBERAL. Vejamos alguns exemplos:

• Tartaruguinhas e você: ao nascermos, nossa inadequação é completa. Precisamos usar fraldas, não sabemos falar nem andar. Mas se você já viu aquelas pequenas tartarugas que nascem de ovos colocados por suas mães na praia e imediatamente partem em direção ao mar, onde mergulham e se sentem a vontade, fica claro que outras espécies têm habilidades melhores do que nós, no início da vida.

• Construir casas em lugares perigosos: todos os anos, na época de chuvas, temos notícias de pessoas que tiveram suas casas arrasadas pelas enchentes e/ou pelas chuvas. Perdem tudo e se tiverem muita sorte, não perdem a vida. Temos o exemplo de Bento Rodrigues, perto de nós. Não parece ser algo que um João-de-barro, um pequeno pássaro, faria. Ele jamais constrói a sua casa num lugar onde o vento entraria pela porta, orienta a casa no sentido mais apropriado contra a chuva e não se tem notícias de que suas casas sejam destruídas quando chove.

• Necessidade de GPS: você está caminhando por lugares desconhecidos, num dos muitos caminhos coloniais da região de Ouro Preto. Se não tiver um GPS no seu smartphone, logo estará perdido. Pois são centenas de belos caminhos, com muitas encruzilhadas. Aliás, mesmo tendo esta tecnologia, você estará perdido, pois a bateria vai acabar na hora mais crítica, quando você achar uma encruzilhada e não sabe para que lado deve ir para chegar à Ouro Preto. Não parece ser o caso de um simples cachorro, que sabe retornar para sua casa, sem usar bateria. Ou melhor ainda, um pombo-correio, que pode voar milhares de quilômetros e voltar, rapidamente, ao seu ninho.

• Usar ferramentas adequadas: você tem duas mãos, dez dedos e é inteligente. Dizem... Mas já pensou como a casa que aparece na foto foi construída, pelo pássaro João-Graveto? Ele só tem um bico e consegue fixar um pequeno graveto num galho de árvore que balança com o vento. Ele só tem um bico para suportar o graveto. E sem andaime para lhe dar suporte. O casal constrói o ninho junto. Mas colocar os primeiros 500 gravetos não é uma coisa fácil, com o galho de suporte liso e balançando no vento. E, assim, de graveto em graveto, ele constrói uma casa que serve para várias famílias de pássaros e que dura muito tempo. Eu queria ver você construir isto, usando apenas a sua boca para levantar as madeiras que comporiam sua casa!

• Amizades e fidelidade: você procura ter amigos e ser fiel aos que lhe ajudam e protegem. Tem, contudo, alguns “amigos-cachorros”, que lhe mordem na primeira oportunidade. Muito melhor é ter cachorros amigos, que, faça sol ou faça chuva, estão sempre a sua disposição para defendê-lo. E, uma vez amigo, amigo para sempre. Quem tem um cachorro, sabe que ele exige apenas um pouco de atenção, para lhe retribuir, por muitos anos, com uma atenção única. Eles não falam português, mas têm um olhar que qualquer um entende. Falam numa língua universal. Oh! Como seria bom se tivéssemos esta capacidade de transmitir sentimentos como eles têm!

• O final da vida: os elefantes, sempre calmos, ao pressentirem o final da vida, afastam-se do seu grupo familiar e caminham sozinhos para um local remoto, no meio de árvores, onde se deitam e aguardam o momento final. Que sempre virá. Muitos de nós, humanos, muito tempo antes, já compramos um caixão, de boa madeira, com muitas dobradiças e trancas douradas. Queremos mostrar que fomos ricos e que nosso corpo estará protegido por mais tempo... Para que? Vamos ressuscitar e sair caminhando de novo? Isto não acontecerá com qualquer um... E o caixão cheio de trancas e de madeira sólida pode até dificultar seu retorno para junto de nós...

Mas onde se encaixa a raça humana, o suprassumo da criatividade divina? Pelos exemplos acima, já deve ter ficado claro que inteligência não é uma característica exclusiva nossa. Até por que, os cientistas nos informam, existem muitos tipos de inteligência. Tem inteligência matemática, tem inteligência para ser político (acredite!), para ser músico (mas tente cantar como um passarinho!), para ser padre (se não, a Igreja fica vazia...), para ser cozinheira, para ser motorista, e assim por diante. É o que o ditado popular nos ensina: Cada macaco no seu galho! Misturou a macacada, a confusão está feita. A melhor cozinheira não será uma boa motorista, um músico não constrói uma parede que dure 1.000 anos. Mas, como seres humanos, temos outras fragilidades: você levanta e precisa passar cremes no rosto para ficar com a pele bonita. Não é o caso de uma flor, que já acorda bonita.

Então, em que somos bons? Tenho más e boas notícias. Somos bons naquilo que nos esforçarmos para ser. Seremos bons músicos praticando música, seremos bons cozinheiros se cozinharmos. E assim, aos poucos nos tornaremos melhores. Com se diz: O caminho se faz ao caminhar! Se você não se esforçar, meu amigo, você nunca chegará a ser feliz! Felicidade e alegria saudável não caem do céu... Mas se você quiser, pode ter isto tudo. Em quantidade e na hora certa. Não somos nós realmente uma criação divina?

(*) Rodolfo Koeppel gosta de caminhar pelos caminhos de Glaura. E observar estas pequenas coisas que nos colocam no lugar certo, no contexto da vida e do Universo. Se você quiser trocar ideias, faça contato: Rodolfo.koeppel@gmail.com

Maravilhas da Natureza e Nós
Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook