Matriz de São Bartolomeu

30 de Julho de 2012
Alex Bohrer

Alex Bohrer

O que de mais importante as irmandades do distrito ouropretano de São Bartolomeu nos deram foi a bela Matriz do padroeiro, igreja colonial das mais vetustas de Minas e hoje tombada como patrimônio nacional. A sua construção foi iniciada na aurora do século XVIII, em substituição a uma ermida deixada ali pelos primeiros bandeirantes. Talvez pela antiguidade, não se encontraram ainda referências aos projetistas e entalhadores da capela-mor ou dos altares do cruzeiro e da nave.

Sua fachada e seu interior bem preservados, sem muitas superposições posteriores, fascinam o visitante, pela beleza e misticidade do ambiente. A fachada tem o partido comum das primeiras matrizes mineiras: frontão triangular simples, sem ornamentação decorativa ou movimentação. As torres, em telhadinho, são também características do período. A torre esquerda guarda uma preciosidade incomum: um sino todo feito em madeira!

A igreja possui cinco retábulos. Os laterais (da nave) foram confeccionados em Estilo Nacional Português. O altar-mor é uma mistura de estilos, uma montagem posterior aos outros altares, com dossel destoante do conjunto. O Estilo Nacional foi a primeira tipologia barroca a ingressar nas Minas e hoje é bastante raro de se encontrar. Este modismo é marcado pela presença de uma talha exuberante, com predominância de motivos eucarísticos. Os melhores exemplares desse período estão justamente na Bacia do Rio das Velhas, em São Bartolomeu, Glaura, Cachoeira do Campo, Raposos e Sabará.

Decora o teto da nave vários caixotões retratando, entre outras coisas, alguns apóstolos. Neste forro, inusitadamente, figuram as típicas rocalhas rococós como motivo ornamental (as rocalhas são características do último quartel do século XVIII em diante). Tal presença da rocalha não é de todo estranha nesta igreja. Sabe-se que, em fins do século XVIII, Manoel da Costa Ataíde residiu algum tempo no distrito de São Bartolomeu, servindo como alferes (militar que era), tendo trabalhado na Igreja Matriz. As rocalhas citadas lembram aquelas concebidas pelo mestre, mas ao mesmo tempo possuem um desenho um tanto canhestro (se forem realmente da lavra de Ataíde, quiçá sejam representantes de um momento inicial de sua carreira). Talvez fosse ele também o responsável pela decoração do forro da capela-mor, hoje encoberto por pintura mais recente.

Chama atenção, na nave, a presença de uma capela inserida no lado da epístola, que, segundo a tradição, pertencia aos Irmãos do Rosário. Conforme as lendas, estes irmãos negros e pardos impediram a demolição de templo mais antigo existente no mesmo lugar e conseguiram inseri-lo no conjunto da nova Matriz. Verdade ou mito, o certo é que este artifício arquitetônico é muito raro em Minas Gerais.

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