Mudança com evolução

01 de Março de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

A filha de uma amiga, de quatorze anos, pediu à mãe que assinasse uma declaração autorizando-a a viajar com o namorado e a “galera” no carnaval. Iriam para a praia. A mãe, muito antiquada, disse não, e o resultado foram os já esperados argumentos “você não confia em mim”, “os meus amigos vão”, “os pais deles deixaram”, etc. Não encontrando eco, a menina usou o argumento final: “então vou pedir pro meu pai”. (Os pais são separados). Aí o pai, outro antiquado, concordou com a mãe e também não autorizou.

Formou-se o caos. “Vocês estão por fora”, “as coisas não são como no seu tempo”, e o clássico e derradeiro “o mundo mudou”. A mãe, além dela da paciência também, respondeu com a maior calma que o mundo não era os pais dela. Como aos quatorze anos tudo tem uma proporção enorme, a menina ficou emburrada, falou que então não ia sair no carnaval, etc. Ainda não conversei com a mãe para saber o desfecho, mas quando os amigos que não viajaram vierem chamar para os blocos, duvido que ela cumpra a promessa.

Sim, o mundo mudou e pais, educadores e responsáveis precisam acompanhar esta mudança. Mas os limites continuam. Obviamente, mais flexíveis em vários aspectos e para várias questões, mas o dia em que deixar uma menina de quatorze anos viajar para outro estado (no carnaval ou fora dele), acompanhada pelo namorado e sua “galera”, sem a supervisão de um adulto, fizer parte desta mudança, poderemos desistir do mundo. Mudança deve significar evolução e há valores que não mudam. Responsabilidade é um deles. Essa garota vai agradecer aos pais, mais tarde.

Vemos muitos pais, principalmente mães, mais preocupadas em ser amiga do que ser mãe. Pior: em ser colega, porque nem amigo apóia o que vai fazer mal ao outro. O ideal é ser os dois, e os pais conscientes o são. Amigos para compreender, conversar, aconselhar com carinho e pai e mãe para impor limites e dizer “não” quando for preciso. Uma coisa não inviabiliza a outra.

Às vezes dizer sim é muito mais fácil. Se a minha amiga tivesse autorizado a filha menor de idade a viajar com amigos, sem nenhum adulto, sem ela saber direito para onde, receberia beijos em lugar de uma cara emburrada, mas a satisfação de um momento poderia custar muito caro, pela vida afora. Tudo tem seu tempo e na hora certa, a menina vai viajar, com ou sem consentimento dos pais. Sua independência vai chegar e, sendo criada desta forma, ela vai conhecer seus limites e, mesmo sem necessidade de aprovação, ela mesma vai querer que os pais saibam onde ela está e com quem. Não por necessidade, mas por vontade própria. Isto significa crescer. Com limites, responsabilidade e, principalmente, amor.

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