Nunca estamos sós

06 de Abril de 2018
Valdete Braga

Valdete Braga

Conta uma antiga lenda que, em uma noite, um moço cego voltava para casa pelo mesmo caminho que fazia há vários anos. Como sempre, ele seguia tateando com sua bengala para identificar seus pontos de referência no caminho, como todo deficiente visual. Porém, naquela noite, uma mudança havia acontecido: um pequeno arbusto, que lhe servia de ponto de referência e estava ali pela manhã, fora arrancado.

A rua estava deserta e ele não conseguia mais encontrar o rumo de casa. Andou por algum tempo, e percebeu que havia se afastado bastante da sua rota, pois estava em uma ponte sobre um rio fora do seu caminho. Apavorado, começou a tatear com sua bengala, quando uma voz trêmula de mulher lhe indagou:

  • O senhor está encontrando alguma dificuldade?

  • Acho que me perdi, respondeu o rapaz.

  • Foi o que pensei, comentou a mulher. Quer que o acompanhe a algum lugar?

O rapaz lhe deu o endereço e ela, oferecendo-lhe o braço, o conduziu até a porta de sua casa.

  • Não sei como lhe agradecer, falou o moço.

  • Eu é que lhe devo um sincero agradecimento, respondeu ela, já com voz firme.

  • Não compreendo, retrucou o rapaz.

E a jovem senhora então explicou:

  • Eu estava naquela ponte para me suicidar, pois geralmente àquela hora está deserta. Aí encontrei o senhor tateando sem rumo e mudei de ideia. Disse isso, agradeceu mais uma vez, e desapareceu na rua deserta.

Talvez, em nossas vidas, também tenhamos passado por experiências semelhantes à das personagens dessa história. Quantas vezes já não sentimos vontade de sumir, de pôr um fim ao sofrimento que nos visita, e um braço amigo nos sustentou antes da queda? Ou, quiçá, já tenhamos nos sentido perdido, sem rumo, sem esperança, e uma voz se fez ouvir e nos indicou uma saída. Quem já não se sentiu numa situação assim, vivendo ora como o socorro que chega, ora como o socorrido?

Isto nos dá a certeza de que nunca estamos sós. Alguém invisível vela por nós e nos oferece um braço amigo nas horas de desespero. Ou, então, inspira-nos a oferecer nosso apoio a alguém que está à beira do abismo.

Pense nisso. Você costuma olhar ao seu redor, no seu dia-a-dia? Costuma prestar atenção naqueles que seguem com você pelo mesmo caminho? Talvez você já tenha sido um anjo desses a alguém em desespero, mesmo sem saber. E se ainda não havia pensado nisso, pense agora. E comece a ser um braço amigo, disposto a conduzir alguém com segurança.

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