O conjunto ferroviário de Miguel Burnier

04 de Agosto de 2013
Alex Bohrer

Alex Bohrer

Mesmo que bastante deteriorado e descaracterizado, o conjunto de construções ferroviárias existente no distrito de Miguel Burnier é dos mais importantes do município de Ouro Preto. A edificação de estações e de casas anexas, para serviços de manutenção e infra-estrutura das linhas férreas, tem capítulo à parte na história da arquitetura de Minas do século XIX e início do XX. Na verdade, o estilo, longe de ser homogêneo, varia desde criações do tipo da severa estação ouro-pretana, passando por estruturas como a sede ferroviária marianense, até pequenas joias, como a graciosa Estação de Rodrigo Silva, conservada quase sem superposições posteriores. Os modos, as técnicas e os materiais variavam muito, conforme a época e o lugar. Em quase todas, porém, percebemos o uso de telhado de duas águas, com pináculos de madeira, telhas francesas, plataformas de pedra e uso alastrado de estruturas de metal (moda que tomou impulso no século XIX na França e Inglaterra, se espalhando pelo mundo).

Na sede de Miguel Burnier fundou-se a principal e mais movimentada de todas as estações das redondezas. O atual conjunto ferroviário é fruto de uma série de ampliações graduais. Em fotos antigas podemos perceber uma outra estação, menos pragmática que a atual: sobre o patamar de pedra erguia-se uma pitoresca armação de madeira e barro, à moda europeia, com pináculo e esqueleto de madeira aparente, muito semelhante à Estação de Rodrigo Silva. À frente desta estrutura desaparecida havia um anexo, diferente de tudo que remanesceu até hoje (pela forma criativa delicada, quase oriental). Hoje o conjunto é dominado, no mesmo lugar, por um amplo edifício de duas águas, maior do gênero nos distritos de Ouro Preto. Perto desta estação central havia outra, chamada “Usina”, que, infelizmente, desapareceu. Era pequenino prédio, com rampa e plataforma de alvenaria.

A Estação Metalúrgica, posteriormente Henrique Hargreaves, foi inaugurada em 1898 e seu nome atual é uma homenagem ao engenheiro que participou da construção da estrada de ferro. O prédio que vê-se hoje é uma reconstrução do original, edificação datada provavelmente da década de 1940. Nos registros fotográficos aparecia como uma típica vivenda ferroviária, quase ao modo das muitas que encontramos na região de Rodrigo Silva. Na realidade, no território do Trino – nas cercanias do distrito de Cachoeira do Campo – houve uma parada primitiva também chamada Henrique Hargreaves, construída em 1896. Os padres salesianos a reedificaram em 1917. Só em 1934 o nome da estação cachoeirense foi alterado para Estação Dom Bosco. Hargreaves passou a ser designativo da outra estação, geograficamente anterior, sita entre Dom Bosco e São Julião, no distrito de Miguel Burnier. É esta estação, nas terras do Chiqueiro, que chamava-se, anteriormente, Metalúrgica. Como dito, foi em 1934 que o nome atual lhe foi dado.

A região da Bocaina* já era habitada desde o século XVIII. Na década de 1880 foi cruzada pela vertente principal da linha de ferro. A Estação da Bocaina, aos pés da Serra da Bocaina Negra, foi inaugurada em 1897. Mais tarde recebeu o nome de Crockat de Sá, homenagem a João Crockat de Sá Pereira de Castro, diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil no ano de 1891. Nos anos 1920 compunha-se de diminuta casa de madeira, menor de todas do gênero. Atualmente está modificada e ampliada.

*Não confundir a Bocaina citada aqui com as “Bocainas” de Rodrigo Silva (Bocaina de Cima e Bocaina de Baixo) localidades também de ocupação muito antiga.

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