O ritmo das transformações

25 de Maio de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

À medida que se avança no tempo, percebe-se diminuir, cada vez mais, o período entre o lançamento de uma utilidade e o seu obsoletismo, ou seja, o seu uso sendo substituído por algo mais eficiente. Nossos avós lidavam com objetos cuja durabilidade corria em paralelo com a idade das gerações. Tome-se como exemplo o prosaico guarda-chuva que, adquirido ainda na juventude, podia integrar os pertences de uma pessoa até idade avançada. Acabava sendo arrolado como bem a inventariar. Hoje, a durabilidade do guarda-chuva é quase restrita a única chuva! Mas, não se criou nada mais eficaz do que ele, para nos proteger da chuva.

Quanto às últimas criações e invenções, a efemeridade não está no material, porém em sua utilidade. Entre os mais jovens, quem sabe o que foi o videocassete? E o gravador de áudio em fita cassete. O gravador de áudio evoluiu de volumoso e pesado equipamento até o tamanho de um livro de bolso, persistindo seu uso por mais tempo, até o surgimento do CD e do CD player; mas o videocassete teve vida útil encurtada, em tempo recorde, (cuide para não ler “RÉCORDE” como pronuncia o pessoal da TV Globo) pela chegada do DVD. Atualmente, som e imagem são gravados e reproduzidos por qualquer celular. Quem imaginaria isso, há apenas alguns anos? E na área da informática? Só os mais antigos, pioneiros mesmo, conheceram o disquete em formato quadrangular, que teve três versões: 200mm, 133mm (ambos flexíveis) e o rígido de 90mm. O primeiro não cheguei a conhecer. O disquete foi substituído, em pouco tempo, pelo “pendrive”. O hd (no início era chamado winchester) do meu primeiro computador comportava 4GB, inferior a qualquer “pendrive” que tem o dobro, o triplo ou mais de capacidade. Enquanto outras áreas voam em avião movido a hélices, a informática avança em supersônico!

Deixemos as últimas novidades mais efêmeras e voltemos na linha do tempo. Fico a imaginar como seriam as grandes concentrações populares, sob risco de tumulto na atualidade, se não tivesse caído em desuso um importante acessório a complementar a indumentária masculina. Refiro-me à bengala que, associada ao chapéu, não era dispensada por homem que se prezasse. Como símbolo da elegância masculina, havia desde a mais simples até a mais ornada e luxuosa, a ostentar o punho cravejado de pedras preciosas ou semipreciosas. Sob o alto índice de violência a que se chegou, imagine-se um tumulto em multidão, cuja maioria masculina portasse bengala! A bengala, então, não era somente objeto de apoio para andar; havia que saber portá-la, com classe e não como se fosse porrete. Sob as atuais circunstâncias é bom que seja apenas apoio e símbolo da deficiência física e da idade avançada! Quando não está em uso o computador, o instrumento da escrita é a esferográfica, mas, e antes dela? A esferográfica domina a manuscrita, mas esteve na marginalidade, ao surgir, nos anos 60 do século passado. Nas escolas só era permitida para rascunhos; prova feita com ela era anulada. Cheques bancários não podiam ser preenchidos com ela, e, em documentos oficiais, nem pensar usá-la na assinatura. Antes da esferográfica quem mandava era a caneta, em duas versões: pena de molhar e caneta-tinteiro. A de molhar, mais comum, era uma espécie de estilete que, fixado na ponta de uma haste, se mergulhava na tinta, de instantes em instantes, enquanto se escrevia; a caneta tinteiro era dotada, internamente, de pequeno reservatório de borracha, o que lhe dava mais autonomia. Havia uma posição correta para se empunhá-la, o que permitia a alguns, mediante treinamento constante, chegar a ser calígrafo. O calígrafo produzia documentos, que eram verdadeiras obras de arte. A esferográfica acabou com tudo. Cada qual a empunha de um jeito e o resultado é o papel garatujado como se passeado pelas patas de um besouro!

O uso da caneta com tinta líquida gerou a necessidade de algo que impedisse borrões, ao se colocar qualquer coisa sobre uma página recém-escrita. Era imprescindível que, à frente de quem escrevia, houvesse um mata-borrão. Era simplesmente um papelão bastante poroso numa de suas faces, enquanto que a outra lisa e brilhante era usada, na maioria vezes, como veículo de propaganda de laboratórios farmacêuticos. Creio que o mata-borrão foi o maior e mais eficiente veículo de propaganda, naquela época. Obviamente que era encontrado nas farmácias, onde todos se socorriam também contra borrões na escrita.

Por fim algo que não deixou nenhuma saudade. Quando não havia saneamento básico e precárias eram as noções de higiene, mães zelosas cuidavam para que os filhos, anualmente, tomassem o “terrível” lombrigueiro, feito com óleo de rícino. Pode-se dizer que o triste de ser criança àquela época era ter que tomar lombrigueiro. Felizes as crianças da atualidade, nesta região, que além de estarem mais protegidas contra a verminose, que muitos já matou, contam com remédios mais palatáveis, alguns com sabor à escolha.

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