Onde o errado é o certo

06 de Maio de 2014
Neto Medeiros

Neto Medeiros

Na primeira partida das semifinais entre Real Madrid e Bayer de Munique aconteceu algo que me chamou a atenção. O Real ganhava por 1 a 0 quando em um ataque do time alemão, o lateral Philipp Lahm, de frente pro gol, parou a partida por causa da aparente contusão de um defensor do Real. Quem se estrebuchava no chão era o zagueiro luso-brasileiro Pepe.

Passado o lance de perigo, claro, o becão levantou do gramado como se nada tivesse acontecido. Todos os narradores e comentaristas exaltaram a demonstração de civilidade e desportividade do lateral da seleção germânica.

Na mesma hora lembrei-me do Cartão verde, programa da TV Cultura que passa nas noites de terça, que assisti há alguns dias. Na ocasião, Zico, maior ídolo do Flamengo, estava lá. O “galinho de quintinho” externou sua indignação com relação ao tal do “fair play”.

Zico se mostrou revoltado com tal artimanha, relembrando inclusive da época em que treinava a seleção japonesa. Numa partida do time nipônico, seus comandados tiveram que abortar um contra-ataque justamente por causa do “fair play”. É como aquele lance em que o jogador simula que foi atingido pra “cavar” um pênalti. Tipo o Neymar sabe?

O jeitinho brasileiro de Pepe, que acabou sendo substituído após se contundir de verdade no fim do jogo, só demostra o quanto ainda estamos equivocados com relação a um montão de coisas. E pior, nenhum cronista esportivo ressaltou esse estratagema. Apenas exaltaram o fato do jogador adversário ter parado a partida, muito embora tenha feito isso a contragosto.

No Brasil é assim. O errado é o certo. Cultuamos bandidos e continuamos a demostrar nossa ignorância todos os dias. Fernando Collor, derrubado depois de um impeachment, é hoje senador, mesmo enfrentando um processo no STF. O ladrão do trem pagador viveu no Brasil com status de herói. Os bandidos do famoso helicóptero do pó estão soltos. Vai me dizer que você nunca ouviu a frase: “Voto em fulano porque ele é que é bom político. Rouba, mas faz.”.

Nessa confusão de prioridades, não há de se estranhar que pessoas amarrem outras nos postes e as chicoteiem. Mesmo sem saber se essas são mesmo culpadas ou não.

Que se f@#%da! Afinal de contas, eu sou jornalista. E nós jornalistas somos donos da verdade não é mesmo!?

Mesmo que pra isso seja preciso repetir uma mentira várias vezes. Ou mesmo execrar uma vida. Porque estamos acima do bem e do mal. Somos uma espécie de semideuses. O que dizemos é difícil de desmentir.

Fazer o quê? Afinal, a gente pauta a vida das pessoas e até acaba com algumas delas. Acima do bem e do mal. Exemplos é que não faltam.

Mas tudo continuará assim, se você continuar aceitando tudo o que lê, vê ou ouve, ao invés de tirar as suas próprias conclusões.

Manifeste sua escolha. Liberte seus ouvidos. Alma. Coração e Cérebro.

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