Os Campos

21 de Julho de 2013
Alex Bohrer

Alex Bohrer

Para se entender o contexto primitivo da exploração aurífera – onde a aventura real de bandeirantes se misturou a diversas lendas – temos que retornar ao tempo em que indígenas e sua terminologia ainda eram corriqueiros.

Quando os exploradores paulistas seguiram rumo ao norte, chocaram-se primeiro com a nação indígena dos Cataguá. Com o tempo, esta região limítrofe com São Paulo passou a designar todo o sertão ignoto ao norte da Mantiqueira. À medida que os Cataguá foram sendo vencidos, as expedições puderam rumar cada vez mais para o interior, palmilhando o território desconhecido.

Reconheceram logo três regiões distintas neste território, conforme a vegetação característica de cada um. Da Mantiqueira até a Borda do Campo encontrava-se a região dos Cataguá, ainda em lembrança aos indígenas. Das Serras da Borda do Campo até a Serra da Itatiaia, estendia-se a região das Congonhas. Além da Itatiaia (que significa “pedra que transpira”) e da Serra da Cachoeira, começava o sertão do Caeté. Esta nomenclatura indígena, adotada pelos bandeirantes (ou muitas vezes dada pelos próprios bandeirantes, que falavam em sua maioria um misto de tupi-guarani e português) descrevia bem a cobertura vegetal das três principais regiões. Assim, no final do século XVII e início do XVIII, existia a região dos Cataguases (onde o cerrado se alternava com matas) a região das Congonhas (que significa “mato sumido” e que denominava perfeitamente a região dos campos) e o Caeté (ou “mato fechado”, lugar de matas espessas, quase impenetráveis).

Parece que já nos primeiros anos de extração aurífera os nomes indígenas foram aportuguesados. Assim as Congonhas passaram a ser simplesmente os Campos, o Caeté passou a ser o Mato Dentro. O termo cataguá, como deixa entrever Antonil (português que escreveu sobre as Minas em 1711), passou novamente a designação mais geral: a região central – Ouro Preto, Mariana, Cachoeira, Itabirito (usando nomenclatura atual) – passou a ser as Minas Gerais dos Cataguases, ou somente as Minas Gerais, emprestando posteriormente nome à capitania.

Várias localidades tiveram como “sobrenome” a região em que se localizavam. Assim temos Cachoeira do Campo, Itabira do Campo (atual Itabirito), Congonhas do Campo, etc. No Mato Dentro temos Bom Fim do Mato Dentro (atual Antônio Pereira) Itabira do Mato Dentro (atual Itabira) Catas Altas do Mato Dentro, Conceição do Mato Dentro, etc.

A região dos campos que fazia limite com o mato dentro era justamente a de Cachoeira e Casa Branca. Assim, não raro, encontramos nos documentos o termo Campos da Casa Branca ou Campos da Cachoeira. Era comum alguém dizer “eu vim por estes campos da Cachoeira”. E esta forma corrente com o tempo passou a ser a forma romanesca de hoje, preferida pelos poetas: “Campos da Cachoeira”.

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