Perigo nas encostas

03 de Novembro de 2013
Valdete Braga

Valdete Braga

Passava com um amigo perto de uma construção e ele parou, visivelmente interessado. A construção estava ainda no início, e de onde estávamos não conseguíamos ver direito, mas ele comentou, com muita segurança: “Que perigo”!

O meu amigo é geólogo, mas no caso em questão, estava óbvio, para qualquer leigo, o perigo que aquela construção representa. Ao ficar pronta, se ficar, o próprio morador correrá sério risco. Morro atrás, casas abaixo, qualquer pessoa, mesmo sem ser técnica, sabe classificar o local como área de risco. Mas o que me impressionou e deixou-me muito triste foi o comentário do meu amigo: “A minha mãe morreu assim” ele disse. Contou que, quando criança, morava em São Paulo, em uma casa situada em local semelhante. Uma noite, em época de chuvas fortes, um deslizamento de terras atingiu a casa quando todos dormiam. Foram socorridos, o pai e os filhos ficaram bem, mas a mãe não resistiu.

Ouvi a história dele e me reportei aos casos de Ouro Preto. Eu também perdi dois grandes amigos, em 2012, naquela tragédia de que todos se lembram, ocorrida na região da rodoviária. Foi tão doído, que nem consigo imaginar como deve ser perder a mãe. Correndo o risco de ser repetitiva, volto a insistir: nossas encostas pedem socorro! As chuvas estão chegando e as previsões são de que virão mais fortes do que as do ano passado. Gostaria muito de ter uma receita para resolver o problema (quem não gostaria?) mas isto cabe a técnicos, pessoas especializadas. Nem sei se “solução” seria a palavra, talvez seja mais correta a palavra prevenção.

Vamos cobrar das autoridades a parte dela, mas vamos fazer a nossa também. Como uma casa “brota” no meio da montanha e ninguém faz nada? Como a pessoa que está construindo não percebe que, além de outras, está colocando também a própria vida em risco? Ouve-se muito: “as pessoas precisam morar”. Não só concordo como já disse isto também. As pessoas precisam morar sim, mas onde está um programa de habitação, um planejamento? Como ficam as questões que o meu amigo geólogo entende tanto que parou para olhar?

Ele contou-me também que foi o falecimento da mãe que o motivou a estudar geologia. Temos uma escola de geologia dentro da nossa cidade, na UFOP. É voz geral que o curso é excelente e forma bons profissionais. Não caberia aí um convênio, parceria, não sei como dizer, mas alguma forma do poder público e universidade trabalharem esta questão? Ou o poder público contratar profissionais especificamente para olharem isto? O tempo urge. As chuvas aí estão. Será preciso mais mortes para as autoridades acordarem? Para a população se conscientizar? Será preciso mais pessoas ficarem órfãs, como meu amigo? Torçamos para que não.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook