Previdência privada

03 de Março de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Descortina-se diante das novas gerações de trabalhadores brasileiros uma realidade, para a qual há, entre os mais interessados, carência de preparo para vê-la, avaliar e tomar decisão correta, incluindo-se o sacrifício de interesses imediatos.

A tal Previdência Social, já de longa data, a grande madrasta (que nos perdoem as madrastas humanas) dos aposentados, está sob o foco de nova reforma que, obviamente, não virá para melhorar as condições de amparo aos seus segurados. Do arrazoado, apresentado por quem pugna pela reforma, deduz-se que os brasileiros devem viver menos, para que a Previdência não se esgote, no exercício da função para a qual foi criada, ou seja, a manutenção daqueles que a sustentaram durante a longa à altura de trabalho. Sim, parece que o brasileiro, em decisão unilateral, sem combinar com o INSS, decidiu por viver mais e muito mais além do que aceita a administração previdenciária. Daí a proposta de retardar a aposentadoria até o limite da atual expectativa de vida: bate-se, pela última vez, o cartão de ponto e, logo em seguida, ele junta a trouxa e se muda para a cidade-dos-pés-juntos. Aposentadoria só para os poucos premiados pela sorte de ir além do ponto achado ideal, configurando-se, aí, o azar da Previdência na assistência a esses poucos. Não se cogita apertar o cerco em torno dos sonegadores que, ao longo dos anos, acumulam dívidas astronômicas, junto à Previdência, em prejuízo dos seus empregados; não se cogita buscar outra fonte para custear a assistência aos que nunca contribuíram; não se cogita otimização do gerenciamento com poder de estancar a corrupção. Como em tudo neste país, pretende-se resolver a questão com base na “lei do menor esforço”, ou, “pelo mais fácil”, que também significa: “os justos pagam pelos pecadores”!

Desde a criação da Previdência Social brasileira, em 1936, o trabalhador tornou-se dela dependente, deixando aos seus cuidados exclusivos o futuro situado na velhice. Vê-se, atualmente, ter sido mal avaliada a questão, pois se os primeiros segurados não tiveram muitas queixas, os atuais se sentem espoliados, não recebendo valor justo, em consonância com o que pagaram durante toda a jornada.

Sem condições de se defender contra as injunções de sua gestão, sempre injustas, ao trabalhador não conformista, esclarecido e dotado de algum lastro financeiro, não resta outra saída se não o complemento da aposentadoria dentro da Previdência privada. Poderia se aposentar em momento mais favorável e não amarrado ao piso salarial, que é tendência do chamado “benefício” da Previdência oficial. Mas, para que isso ocorra, um longo há que percorrer para se mudar o perfil do brasileiro, acomodado e acostumado a esperar tudo do governo. Felizmente, para o ainda em fase inicial de sua jornada como trabalhador o quadro se aclarou, com a regulamentação do setor e disponibilização de planos diversos, facultando ao interessado escolher o que melhor o atende. Pode o segurado contar com mais garantias, ao contrário de antes, quando contratar plano de aposentadoria complementar era lenhar no escuro, ou seja, jogar com a sorte, caminho para a perda de economias e frustração diante do sacrifício em vão. Dos atuais aposentados, poucos não foram os enganados!

Esse passado nebuloso mais a falta do hábito da poupança programada, ou do investimento em si próprio, fazem da previdência privada, na cabeça tupiniquim, um negócio meio duvidoso. Não se pode dizer que não mais existem riscos, pois sempre os há em atividades humanas, mas a realidade é outra e os negócios do gênero já se organizam em bases mais racionais. Além das dúvidas que levam ao receio, ao final da adolescência quando se inicia no mercado de trabalho, o jovem quer mais é aproveitar os primeiros momentos de sua autonomia, “curtir” a vida e adquirir suas primeiras posses. Não lhe parece conveniente pensar em algo tão “distante”, quando há tanto para se conquistar de imediato. Os apelos que lhe chegam, fortes e sedutores, são para o consumo imediato, direcionados ao acariciamento do ego, nem um pouco a lhe lembrar da necessidade de atenção preventiva à aposentadoria.

Espera-se que, para seu próprio bem, o novo trabalhador repense essa maneira de encarar a questão e passe a ter a previdência privada, voluntária, como reforço à previdência oficial, compulsória. Para isso, ele tem que se reeducar, aprender a controlar seus gastos, fazer escolhas com base em prioridades, permitindo, então, alocar contribuição à previdência privada dentro do orçamento mensal.

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