Professora: heroína ou mártir?

20 de Outubro de 2017
João de Carvalho

João de Carvalho

O NOME DELA jamais sairá da mente e do coração dos habitantes de Janaúba, cidade do norte de Minas Gerais. A comoção que tomou conta do Brasil, atingindo a todas as famílias, foi algo jamais visto por nós professores/professoras, em toda a nossa missão de ensinar. Nada é mais edificante e grandioso diante de Deus que dar a vida pelo irmão. E, ela que se sacrificou pelas crianças pequeninas de uma creche? Muito antes de ser aclamada como heroína de uma tragédia, foi ela uma notável mãe, deixando em seu brilhante e sacrificado caminho três filhos, de 15, 12 e 01 ano e 03 meses.

AOS SEUS CUIDADOS estavam crianças cheias de vida, de beleza, participando com alegria, confiança, atenção e atividades da escolinha, diariamente. Tudo corria, no ano escolar dentro de uma normalidade tecida de ensinamentos, carinho e muito amor. O perigo estava tão perto que nada se registrou que pudesse despertar a atenção de alguém. O personagem do terror e do desespero estava perto, entre todos, diariamente, camuflado na maldade, na traição, no uso inesperado de uma lata de gasolina (ou álcool), incendiada, repentinamente, numa sala onde uma ousada professora ensinava, com muito carinho e carisma, meia centena de pequeninas crianças. Naquele angélico santuário da alfabetização, ministrada com carinho e amor de uma notável “mestra-mãe”, surge a figura satânica do mal, que a todos queria eliminar. Um funcionário, um vigia que se transforma em segundos em multiassassino de indefesas crianças. Maior que o bandido perigoso agiganta-se a figura da Professora HELEY DE ABREU SILVA BATISTA que encara, embora em chamas, a figura terrível, criminosa, forte e decidida do diabólico funcionário. Lutou, com destemor e valentia, própria dos heróis (mártires), contra a personagem da morte, até o último instante. Só se abateu, subjugada ao solo da sala transformada em fornalha ardente, pela força do vigia e pela intensidade e extensão das chamas que dominaram seu corajoso corpo feminino. Foi a luta da verdadeira mãe de 50 filhos, naquele terrível e demoníaco momento do circo dos horrores. Naquela desastrada circunstância, criada pela força do mal, ela só pensava em salvar as crianças convertidas em tochas humanas pelas mãos satânicas do mal. Que tragédia terrível. Uma escola transformada em um inferno. Quanta dor, quantos gritos de desespero de criaturinhas transformadas em tochas inapagáveis, pela insanidade de um homem, sem alma e sem coração, mensageiro da morte. Aquelas inocentes criaturas ainda vestidinhas com o uniforme da creche, vivendo momentos de horror, sem contar com nenhuma defesa, a não ser a bravura de uma professora-mãe que as amava, incondicionalmente, até o fim.

AQUELA ERA A “Creche Criança Inocente” ora posta à prova de fogo pela estupidez de um homem de 50 anos, doente e maldoso, após entrar na sala e fechar a porta, carregando a morte em suas mãos brutas e insensíveis, numa classe totalmente indefesa. A professora Heley de Abreu, que já perdera um de seus filhos, que morrera afogado aos 5 anos, após cair na piscina de um clube, viu e agiu com desassombro lutando e queimando-se, até o último instante, vindo a falecer no hospital, com a perda de 90% de sua pele. Ela não é só uma heroína (pessoa extraordinária por sua bravura, coragem e feitos), mas uma verdadeira mártir (pessoa que sofre torturas, tormentos, aflições ou mesmo morte em nome de seus ideais, princípios ou causas) da educação infantil do Brasil. Sua vida, trabalho e dedicação às crianças são exemplos sagrados para todos nós pais e educadores. Ela merece uma estátua de bronze na praça central de Janaúba, como testemunha da verdadeira professora-mãe-mártir, mineira do Brasil.

(Acesse: leiturahobbyperfeito.blogspot.com.br)

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