Que se vire, tô nem aí!

04 de Maio de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Quem nunca viu uma centopeia? Se dependesse apenas do número de pés, o bichinho seria o campeão da mobilidade, pois segundo consta, ele teria cem pés ou mais que isso; daí o nome. Alguém já contou? No meio de tantos, se algum apresenta defeito ou se machuca, como identificá-lo?

O dono sabe onde, exatamente, se apresenta o problema. Mas, lucubrações em torno dessa particularidade não interessa muito, ao contrário de outra, da qual mais depende a mobilidade daquela “minhoquinha” avançada: é a sincronia de movimentos.

Aqueles pesinhos, por seu grande número, se não estivessem em sincronia, poriam o bichinho doidinho da silva, quando quisesse andar. Ele se reviraria como sua parenta, a minhoca, na areia quente, mas não sairia do lugar! O pior, com ele, não acontece porque a natureza é sábia. Nela não há lugar para imprevistos!

Já imagino um, ou mais, entre leitores, a questionar o porquê desta abordagem: - onde este cara que chegar com isso? Não vou fazer suspense. O que existe e funciona na centopeia, parece não existir no governo tupiniquim. O governo não chega a ser centopeia (animalzinho mais conhecido do povo), mas pode ser comparado a um polvo gigante, cujos tentáculos, quase sempre, agem à revelia uns dos outros. Quem mais é prejudicado por essa anomalia administrativa é o cidadão simples, sem muito conhecimento sobre a estrutura do poder governamental e que ainda guarda, dentro de si, aquele medo de contestar ou reclamar, que vem desde o período colonial. O cidadão com melhor formação e informação se defende como pode e segue em frente, mas o outro, quando não encontra ajuda fica perdido.

A semana passada foi a última da temporada de caça anual, empreendida pelo Leão da Receita. Por todo o país, havia gente ocupada a fazer declaração de rendimentos, alguns preocupados com a mordida, que podiam levar, outros voltados a alguma mutreta, que pudesse lograr o Leão, porque em se tratando de Brasil, a turma do jeitinho não deixa por menos; podendo, dá o nó em tudo! Esquecem-se de que o Leão também se aprimora nas bocadas! No meio desse contingente, há um grupo, pequeno, é claro, que procura cumprir sua obrigação, ainda que mediante concurso de terceiros, mas é deixado à própria sorte pelos órgãos de governo aos quais está ligado. São pensionistas, gente simples, mais viúvas, que nenhuma informação recebem, com exceção da pensão (ainda bem) paga via bancária.

De repente, o baita polvo entendeu que todo mundo está ligado à internet e, assim sendo, a mais ninguém interessa receber comunicação por escrito. A Receita cobra a declaração, mas seus órgãos parceiros de governo, em relação ao pequeno grupo, fazem de conta que nada acontece. Quem tenta ajudar não encontra informação entre vivos, mas sendo “fuçador” de internet e não apenas internauta, como se convencionou, localiza o caminho para obtenção do comprovante de rendimentos, sonegado aos mais simples. Há que “escanear” documentos a serem remetidos via e-mail, acompanhando formulário preenchido online, impresso, assinado pelo pensionista e levado ao cartório para reconhecimento de firma. Todo esse procedimento é para a obtenção de um endereço eletrônico (e-mail) em nome do pensionista. Mediante esse endereço ele conseguirá obter o comprovante de rendimentos; é o que se promete na página, sem especificar o formato de arquivo do material a ser remetido.

Cumpridas todas as exigências, os arquivos são remetidos. Mais de uma semana depois, vem a informação de que não foi possível o atendimento à solicitação, porque não se conseguiu ler os documentos. O arquivo é rotineiro, que todos usam e se abre em qualquer dispositivo, mas os “zés manés” do governo não veem. Feito o teste na origem, tudo está perfeito, sem qualquer problema.

Este é o Brasil, que tenta avançar, mas é puxado para trás pela própria máquina do governo! O Ministério da Fazenda/Receita Federal faz a sua parte, o contribuinte se apressa no cumprimento do dever, mas não tem a colaboração do ministério ao qual está vinculado. Ao invés do fornecimento espontâneo da informação ou, pelo menos, sua facilitação, cria-se um nó burocrático, que só serve para impedir que se cumpra o dever. Neste país grande, bobo e irresponsável, segura-se a informação exigida e necessária ao contribuinte, sob pretensas segurança e privacidade, mas na outra extremidade escancaram-se as portas para a corrupção sistematizada, pela qual se esvaem recursos necessários ao bem-estar da população. Nada escapa à sanha dos corruptos e corruptores, desde a merenda escolar, indispensável ao aluno carente, até as grandes empresas, suporte do patrimônio público formado com sangue e suor de todos os brasileiros. Tranca-se a portinha dos direitos do cidadão e se mantém escancarado o grande portão da roubalheira!

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