Se eu morresse amanhã

22 de Abril de 2015
Valdete Braga

Valdete Braga

Iria triste, porque a vida é muito boa e ainda tenho muito que fazer por aqui, mas iria também alegre, porque ela já me deu tudo o que dela eu poderia esperar.

Se eu morresse amanhã, partiria com a sensação do dever cumprido e de que a minha passagem por aqui valeu a pena. Adoro a vida, mas se me fosse possível escolher, não gostaria de viver mais uma década. Cinco anos, já estaria de bom tamanho. Tivesse eu a graça de poder escolher, gostaria de partir cedo. Sem drama e sem tristeza, muito pelo contrário. Feliz é o ser humano que consegue chegar, fazer o que precisa ser feito, viver o que precisa ser vivido, e voltar, em curto espaço de tempo.

Nossa expectativa de vida aumentou muito em pouco tempo. Há algumas décadas, uma pessoa de cinqüenta anos era velha, hoje, aos sessenta, se é jovem. Conheço pessoas de mais de setenta, com todo gás. Minha mãe faleceu aos oitenta e dois, e, se duvidar, é bem capaz que ela estivesse mais lúcida do que eu.

O tempo cronológico fica cada vez menos relevante, diante da nossa evolução espiritual. Ainda falta muito, mas já crescemos bastante, e a medida que vamos crescendo, vamos aprendendo.

Com o aprendizado, diminui o medo de morrer, e quando entendermos realmente que a morte não existe, o medo desaparecerá para sempre. Fui tão abençoada pela vida que não me sinto mais presa a ela. As pessoas para as quais eu fui importante, já usufruíram dessa importância, em sua época, e seguiram seus caminhos. Pessoas que precisaram de mim não precisam mais. O que eu podia fazer, já fiz. Meu tempo terminou. Não, eu não desejo a morte, de jeito nenhum. Enquanto estiver por aqui, pretendo seguir o caminho que foi traçado para mim. Mas se ela chegasse amanhã, a minha alma se desprenderia sem pesar.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook