Sobra incoerência na administração municipal

04 de Maio de 2018
Jornal O Liberal

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Trancar a porta depois de arrombada a casa não é a solução, que ficou lá atrás como prevenção, porque a inércia, o desmazelo, o descaso, a preguiça ou tudo junto falou mais alto no momento da decisão. No trato com a coisa pública, tomada de providências, quando o irreversível já se fez, é o fato mais corriqueiro neste país. Nota-se, ultimamente, na administração municipal, uma preocupação com o que seriam registros físicos da memória local, ou seja, o patrimônio histórico cachoeirense. Mas que patrimônio? Quanta incoerência no campo de visão da administração municipal! Depois que tudo se foi, empurrado pela ignorância do lado privado e incúria da administração pública, imposições sobre o contribuinte pela conservação de pontas de muros de pedras, antigos, chega a ser ridículo. Recomposição do destruído pelo tempo de abandono deveria ser obrigação de quem pecou pela omissão. Cuidar do pouco que ainda resta de pé, sim, mediante parceria, compreensão e menos imposição. Ao falar de muro de pedra-seca, registre-se a ação de um usurpador (não o proprietário) de um imóvel no centro. Do muro com extensão calculada em cinquenta metros, ele vendeu praticamente a metade das pedras, deixando do original somente uma “casca” reforçada por concreto. Da administração municipal ninguém tossiu ou mugiu! Outro que se estendia por quilômetros, atravessando território de dois ou três distritos, foram enriquecer propriedades além destas paragens. Dos gabinetes, no distrito-sede, alguém falou alguma coisa? Nomes de logradouros (incluindo-se bairros) tradicionais e reveladores da história, foram trocados, sem mais nem menos, deixando seus moradores órfãos da memória comunitária. Avança-se sobre a área pública, “legitima-se” a usurpada e nela se constrói, sem que alguém com poder esboce reação, embora tenha recebido denúncia popular. Do patrimônio imaterial pouco resta e esse pouco pode desaparecer, se reação não houver e providências continuarem no limbo. A municipalidade adquiriu o último dos vários e antigos sobradões, dizendo ser para restauração e destinação à área cultural. Nada se fez, além de escoramento do imóvel claudicante e muito blábláblá em torno do assunto, como é próprio dos políticos. Maltratado pelo tempo, pela incúria e omissão municipais, o imóvel parece se sentir humilhado diante da igreja-matriz, mais bem cuidada, embora não à altura do seu merecimento, para onde, outrora, de suas janelas, olhos e ouvidos apontavam, no intuito de um pouco captar do que ali se realizava. De grande solar dos tempos áureos, pelas mãos da municipalidade o sobrado chega ao século das criptomoedas, sob a triste figura do “é difícil balança-mas-não-cai”. Depois de tudo isso, ainda vêm falar de murinhos? Ora, ora, caras-pálidas! Vão catar coquinho, vão!...

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