Tá tudo dominado

29 de Março de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Matéria veiculada por grande jornal, no final da semana passada, dá conta de que cresce, em Minas, de forma assustadora, as ocorrências de roubos. Segundo a reportagem, em dez municípios, incluindo-se Belo Horizonte e mais quatro na respectiva região metropolitana, o aumento variou de 11,29% (Uberaba/Triângulo) a 67,70% (Ribeirão das Neves/RMBH) de 2014 para 2015.

Dá o que pensar esse brutal aumento de ocorrências contra o patrimônio. De acordo com a mesma reportagem, é uma média de trezentos e dez assaltos por dia, em todo o estado. Para os que se agarram a teorias sociais, a causa da criminalidade, notadamente em relação ao patrimônio, é consequência direta das diferenças entre o pequeno “ter” da grande maioria e o grande “ter” de pequena minoria, assim como também o desemprego, tratando como novo esse fosso social, na verdade, existente desde que o mundo é mundo. A desigual distribuição de renda é um mal, reconhece-se, mas pouco ou nada tem a ver os índices de criminalidade. O fator desemprego, em ascensão nesta crise geral, reforça a convicção de tais teoristas, mas verificada a origem dos criminosos apanhados pelas malhas da lei, constata-se não haver nenhum dispensado de fábrica, de estabelecimento comercial, de empresa prestadora de serviços, ou que, sendo autônomo, tenha abandonado sua atividade; são pessoas que, de alguma forma, sempre viveram na marginalidade. Há, sim, uns poucos, que abandonaram emprego ou atividade honesta, além de outros a trilhar a criminalidade em paralelo com empregos de boa remuneração. Entre esses poucos estão assaltantes de bancos (incluindo-se explosões de caixas eletrônicos), assaltantes a empresas de transporte e a caminhoneiros, dos quais não se pode dizer que tenham sido marginalizados pela sociedade, porém, teriam eles próprios se colocado á parte dela por opção. Verifica-se também que grande parte da criminalidade está associada ao tráfico de drogas, cuja ramificação abrange detentos, em presídios (?), e indivíduos bem situados socioeconomicamente, sobre os quais não recaem suspeitas do grande público.

A criminalidade, em sua maior parte, tem origem nas profundezas da decadência moral, vivida pela sociedade que, em dado momento foi minada por falsos conceitos em torno da propriedade, chegando-se à expropriação consentida, pela força, daquilo que o semelhante possui. Daí para o roubo puro simples foi um passo! Abandonou-se a educação a fundamentada no respeito mútuo entre indivíduos, incluindo-se posses. Em seu lugar teorizou-se sobre “injustiças” das posses, ainda que honestamente adquiridas, induzindo os menos capazes ao não reconhecimento do direito implícito naquelas. Ao mesmo tempo, promulgava-se, veladamente a princípio, ser defeito ou vício a riqueza, enquanto a pobreza era virtude, não importando o caráter dos indivíduos num e noutro caso. A coroar tudo isso, afrouxaram-se as leis e a inversão de valores encontrou bom terreno onde fincou raízes. Para começar, tratou-se de, nos meios jurídicos, por diferença entre roubar (que seria com violência física) e furtar (sem violência), mas a língua registra “roubo” e “furto” como sinônimos. Em bom Português, é ladrão o agente do crime tanto de uma quanto de outra “modalidade”! Até a imprensa é leniente com criminosos, ao denominar “suspeito” ao apanhado pela polícia na prática do crime, ou àquele que o pratica diante do público.

Na inversão de valores, tudo conspira a favor do criminoso, levando a própria vítima a defendê-lo, em algumas circunstâncias. É o que se constata ao se desvendar um caso de sequestro. Diante da vítima libertada, algum imbecil pergunta: “houve violência?”. A estupidez humana chegou à conclusão de que para ser violência tem que haver sangue! O próprio sequestro não é violência; talvez passeio, forçado, é claro! Quão diferente de quando as portas das residências se abriam, pela manhã, e se fechavam ao anoitecer, sem que por elas passassem estranhos, sem se anunciar ou sem ser convidados; de quando, encontrado um objeto na rua, perguntava-se à porta mais próxima se era daquela casa o proprietário do achado; de quando pela manhã, o leiteiro, o padeiro e outros fornecedores, deixavam suas mercadorias à porta de cada freguês, sem que ninguém nelas bulisse, pois nem mesmo cão vadio havia. Se o filho ou filha em casa chegasse com algo diferente, pai e mãe procuravam saber como o objeto chegara às suas mãos e, se por meios escusos, obrigavam à devolução com pedido de desculpas. Por omissão paterno/materna não se formava ladrão! Praticado o primeiro roubo, de botão ou caminhão, não importava o valor, o ladrão ficava marcado e sem condições de no mesmo local morar.

Diante de tanta leniência, hipocrisia, proteção e impunidade, a criminalidade tem mesmo é que prosperar!

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