Tudo por quinze minutos de fama

23 de Março de 2018
Valdete Braga

Valdete Braga

Atualmente, um aparelho celular na mão e olhos atentos transformam qualquer pessoa em jornalista, repórter, fotógrafo e, o mais grave, “formador de opinião”. Opinião esta que, salvo raras exceções, ninguém nem toma conhecimento, mas que, para o dono do celular, é o paraíso.

Já vi, por exemplo, uma pessoa descer do carro em um engarrafamento, devido a um acidente alguns metros na frente, carregando o seu “coletor de provas” para depois, sentindo-se o próprio William Waack, relatar o acidente e divulgar as fotos, em seu smartphone de última geração. Voltou todo orgulhoso do “flagrante” e suas palavras foram “a coisa não está bonita lá não”.

Começou a contar em detalhes a cena e eu me afastei para não ouvir, enquanto outros, possivelmente futuros leitores de sua “matéria” e fotos, ouviam, ávidos pela morbidez dos detalhes.

Não voltei para dentro do carro devido ao calor, mas me afastei, juntamente com o meu amigo, e percebi que, graças a Deus, não fomos os únicos. Outras pessoas, que também estavam presas no engarrafamento, se afastaram, deixando claro o seu desinteresse pela questão. Nem tudo está perdido. Enquanto existem pessoas que querem os seus quinze minutos de fama, mesmo que seja em cima da tragédia alheia, há também pessoas sensatas e de coração mais limpo, que condenam tal atitude.

Não foram uma nem duas as que foram até o local, com o único intuito de fotografar ou filmar o acidente, e, pior, muito pior, os acidentados. Este rapaz a que me refiro eu vi de perto, porque o seu carro estava logo a frente do nosso, mas vi várias pessoas correndo para o local. Eu, se pudesse, correria para longe. Não havia como ajudar, os acidentados já estavam sendo socorridos, prá que ficar rondando, atrapalhando, inclusive, o trabalho de quem sabia o que estava fazendo? Soube mais tarde que houve vítima fatal. Será que estes que estavam preocupados em “clicar” e “transmitir” em tempo real pela internet, não pararam um minuto para pensar que aquelas pessoas tinham família, amigos, que se chocariam e sofreriam duplamente, quando vissem seu ente querido exposto desta forma? Deveria haver uma lei contra isto. É muita crueldade.

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