Uma lenda sobre a morte

17 de Novembro de 2017
Valdete Braga

Valdete Braga

Conta a lenda que uma mulher perdeu seu filho ainda bebê. Tomada pela dor, ia com o filho morto de casa em casa, pedindo um remédio, e as pessoas diziam:

  • Está doida, a criança está morta.

Finalmente, ela encontrou um camponês que respondeu sua súplica.

  • Não posso dar um remédio para a criança, porém sei de um médico capaz de fazer isto.

A mulher respondeu:

  • Suplico-te que me digas quem é.

  • Vá até o Buda.

A mulher foi ver o Iluminado e exclamou, chorando:

  • Senhor meu mestre, meu filho estava brincando entre as flores, tropeçou e bateu a cabeça em uma pedra. Não posso aceitar que ele morreu.

O Iluminado respondeu:

  • Irmã, há uma coisa que pode curar teu filho e a ti, se puderes consegui-la. Procura uma semente de mostarda preta, porém só deves receber de uma casa onde nunca tenha entrado a morte, onde não tenha ainda morrido pai, mãe, filho nem filha, nem irmão, nem irmã, nem escravo nem parente.

Aflita, a mãe foi de casa em casa pedindo o grão de mostarda. As pessoas se compadeciam dela e lhe davam, porém, quando ela perguntava se já tinha morrido alguém naquela casa, lhe respondiam:

  • Poucos são os vivos e muitos os mortos. Não despertes nossa dor.

Agradecida, ela lhes devolvia a mostarda e dirigia-se a outros que lhes diziam: “Aqui está a semente, porém já morreu nosso escravo”. “Aqui está a semente, porém perdemos nosso pai”. E não encontrou nenhuma casa onde não tivesse morrido alguém.

Voltou chorosa para o Iluminado, dizendo-lhe:

  • Senhor, não pude encontrar mostarda em casa onde não tivesse havido morte. Então, deixei meu filho na margem do rio, e volto para suplicar-te que me digas onde encontrar essa semente, sem deparar ao mesmo tempo com a morte.

O mestre respondeu-lhe:

  • Minha irmã, procurando o que não podes encontrar, achaste o amargo bálsamo que eu queria dar-te. Agora já sabes que todos choram uma dor semelhante à tua. O sofrimento que aflige todos os corações pesa menos do que se concentrado num só. Nenhum nascido pode evitar a morte. Assim como os frutos maduros caem da árvore, assim também os mortais estão expostos à morte desde que nascem. Cada um tem a sua hora.

Extenuada pela dor, a mãe sentou-se à beira do caminho, e pôs-se a meditar. “Quão egoísta sou eu em minha dor”! A morte é o destino comum de tudo que vive. E sufocando o amor egoísta que sofria por seu filho, enterrou-o no bosque, indo refugiar-se no Iluminado, onde encontrou o consolo que alivia o coração dilacerado.

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