Vá em paz, meu amigo Paccelli

01 de Dezembro de 2013
Valdete Braga

Valdete Braga

O dia amanheceu nebuloso, tal qual a minha alma. Parecia que a natureza estava sendo solidária a mim, em meu sofrimento. Perder uma pessoa querida é sempre muito triste, mas há situações em que além da tristeza a não aceitação é inevitável. Sabemos que é a vontade de Deus, sabemos que o tempo d’Ele é diferente do nosso, sabemos que a pessoa está bem, mas somos humanos e o egoísmo faz parte desta humanidade. O meu egoísmo não me permite aceitar a partida do meu amigo tão cedo.

Paccelli era uma pessoa especial, que ajudou-me em um dos momentos mais difíceis da minha vida. Quantas vezes, em um passado não tão distante, ele me disse frases como “pára com isso, a vida é o nosso bem mais precioso”, ou “deixa de ser boba, você está viva e isto é o mais importante”. Não consigo aceitar que quem não está vivo hoje é ele. Melhor dizendo, ele não está entre nós. Vivo está, nosso espírito é eterno. Mas a presença física de algumas pessoas faz muita falta. Eugênio Paccelli D’Angelo é uma destas pessoas.

Vai fazer falta para muitos. Era uma rara unanimidade entre os colegas de trabalho. Poucos, arrisco-me a dizer pouquíssimos, conseguem o que ele conseguiu. Não há um único colega com quem não se desse bem, e que não tivesse para ele só boas palavras. Lembro-me bem de como de colegas de trabalho passamos a ser amigos. Eu morava em Mariana e ele sempre me dava carona. Coincidentemente, era uma época dificílima em minha vida, e sem que percebêssemos, ele foi se tornando-se o meu psicólogo particular. Todos vamos sentir muita falta do colega e amigo, mas essa nossa particularidade poucos conhecem. Talvez por isto seja tão difícil aceitar. Como alguém que oferece a mão a outra pessoa que está no fundo do poço, falando dia após dia sobre o valor da vida, a perde assim, estupidamente?

O tempo diminui quando me lembro das palavras dele e me parece que foi ontem. Elas voltam, com a força do positivismo dele, sempre me colocando prá cima e afirmando como a vida é uma benção. Lembro-me de uma vez em que, no ambulatório, aguardando a chegada do médico, conversamos tanto que eu disse a ele algo como “não preciso mais da consulta, você já foi o meu psicólogo”. Ele riu e respondeu que a “praia” dele era o laboratório, mas que ficava feliz em poder ajudar. Mais tarde, já recuperada, ele estava entre as pessoas as quais fiz questão de agradecer pessoalmente. Paccelli, colega de trabalho que através das caronas se tornou um amigo especial, passou a fazer parte da lista de pessoas que ajudaram-me a recuperar a minha vida.

Dor igual eu somente senti a treze anos, em 2000, quando perdi a Patrícia, que estava no topo da minha lista. Pessoas assim só passam por aqui para nos mostrar que a morte realmente não existe. Como entender que alguém que nos ajudou a renascer está morto? Não combina, é surreal demais. Paccelli não morreu. Para os colegas que o admiravam, para os amigos que o amavam, para a família, cuja dor eu nem consigo imaginar, e, dentro do egoísmo da minha humanidade, não morreu para mim, a quem ajudou a entender o valor da vida. Vá em paz, meu amigo. Minhas saudades e eterna gratidão.

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