Vale a pena

20 de Julho de 2014
Valdete Braga

Valdete Braga

Quem nunca foi enganado? Quem nunca confundiu amizade com interesse ou se sentiu usado pelo menos uma vez nesta vida? No mundo materialista e competitivo em que vivemos é difícil encontrar. Muitas vezes a pessoa que o faz nem tem consciência disto. Acha normal. Quer alcançar um objetivo e para isso vale tudo. Mentir, enganar, usar o ouro, passar como um trator por cima de sentimentos alheios.

Conviver com esta realidade não é fácil. Mas ela está tão comum, que já nem nos damos conta. Acontece, a gente dá de ombros e diz “a vida é assim mesmo”. Essa é a parte triste da história: a gente não liga mais. Virou lugar comum. Quando uma pessoa conta uma história assim que aconteceu com ela, normalmente quem ouve também tem outra semelhante para contar. As pessoas traem com a maior cara de pau, e pulam de um lado para outro como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. A palavra fidelidade está cada dia mais rara, e isto em todos os contextos. Seja no trabalho, entre amigos, até em família acontece. Estamos cada vez mais individualistas e não conseguimos enxergar o outro.

EU sempre em primeiro lugar. MEU pensamento, MEU trabalho, MEU interesse. O outro não existe, e quando existe é para ME servir. Triste isto. Ninguém confia mais em ninguém, ninguém acredita mais em ninguém. Quem se propõe a ser leal, sincero (não confundir sinceridade com agressividade ou grosseria) fatalmente irá “quebrar a cara” lá na frente. A questão é: vale à pena? Ainda creio que sim. Não é possível que todas as pessoas do mundo sejam iguais. Não é possível e não é verdade. Tem muita gente boa por aí, e os afins se atraem. O bem puxa o bem para si e o mal puxa o mal. Quem faz com um fatalmente fará com dois ou três, e um dia a casa cai.

Prefiro confiar. Claro, dentro das possibilidades. Existem pessoas que só de olhar a gente sabe que não merecem nosso apreço. Outras nos enganam, outras nos realizam. O que é melhor: ficar sempre com “o pé atrás” e seguir a vida sem esperança, ou arriscar-se e ter uma ou duas decepções de vez em quando? Fico com a segunda opção. Ela tem me trazido algumas decepções, mas as alegrias são infinitamente maiores. Cada vez que eu “quebro a cara” com uma pessoa, lembro de três ou quatro que me fizeram e a quem eu fiz o bem.

Sim, é verdade que o mundo está cada vez mais materialista e competitivo; mas é verdade também que cada ser humano é único e somos nós os responsáveis pelo mundo em que vivemos. Se cada um de nós, em vez de ignorarmos o sentimento do outro para passar em sua frente o colocarmos ao nosso lado, chegaremos igualmente e juntos. Vale a pena confiar.

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