Velhice: prêmio ou castigo?

18 de Maio de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

“É muito bom viver! A vida é uma dádiva divina” – Foi a afirmativa que ouvi há poucos dias, durante conversa, seguida da pergunta: “o que o senhor acha?”. Senti grande prazer em responder SIM, não para agradar ao interlocutor, mas, antes de tudo, para comungar com ele o mesmo pensamento, pois para quem vive em harmonia com a própria consciência, bendizer a vida, enaltecê-la e por ela agradecer é uma necessidade recorrente. Faz parte do dia-a-dia, como o combustível a manter o funcionamento do motor, especialmente se a vida já se prolonga além do que se considera a média.

Vinda de alguém com menos idade, aquela declaração poderia representar tão somente arroubos próprios da juventude, o que não se confirmava, pois a pessoa já entrava na faixa dos ditos de idade avançada. A questão da senectude, ou velhice, já foi abordada aqui em outras ocasiões, mas nunca é demais repetir o que mais esperam ouvir pessoas no caminho do envelhecimento. Todos os dias novos membros ingressam no círculo dos velhos. Epa! Aqui alguns já torcem o nariz, porque não escrevi “idosos”, o politicamente correto de acordo com a hipocrisia dominante. Não se vê ou se sente como a palavra “idoso” faz mudanças nas condições em que o ser humano se encontra depois de mais de cinquenta ou sessenta anos de idade. Suas condições de vida são as mesmas, chamado de velho ou de idoso. Velhice é um razoável acúmulo de tempo vivido por uma pessoa, não importando se em boas ou más condições; não significa decrepitude, ou péssimas condições físicas e mentais, quadro que pode se desenvolver mesmo não tendo ainda vivido o bastante para se dizer velho ou idoso. Infelizmente, muitos ainda na faixa dos vinte anos já estão decrépitos, em razão de contrariedades impostas aos princípios da vida. Considere-se, como exemplo mais evidente de atitude ou comportamento contrário à vida, o vício das drogas.

Por parte de quem a vive, velhice é uma questão de atitude mental, que pode ser cultivada desde a mais tenra idade. Tenra idade? Sim, por que não? Ninguém fica velho ou envelhece, de repente. O envelhecimento tem início com o nascimento. É na soma dos minutos, das horas, dos dias, dos anos, mediante observação das práticas ao nosso redor, que uma pessoa aprende e se prepara para viver a velhice, se chegar lá. Nem todos chegam, é verdade, porque a peneira não para de vibrar, deixando vazar os que perdem as condições mínimas para continuar. Nem tudo está sob nosso controle, razão pela qual muitos partem ainda relativamente cedo, se considerado o tempo médio vivido. Até os “inta” são para quem pinta (e borda); já os “enta” são para quem aguenta! Se aguentou e chegou, por que reclamar? Tem mais que agradecer! A vida não é somente um mar de rosas para ninguém. Todos têm suas fraquezas, seus sofrimentos, seus infortúnios e, de alguma forma, passam por misérias humanas. Se conseguiu a tudo suplantar, para chegar onde chegou, na linha do tempo, por que reclamar?

Entretanto, muitos são os que maldizem a velhice, como se esta fosse um mal, um castigo reservado aos sobreviventes. Esquecem-se da experiência adquirida, por exemplo, e do quanto podem ser úteis, repassando-a a quem dela necessita. Nem tudo é igual ao quando se tem vinte anos, mas a satisfação de poder contribuir para a vida compensa. Não importam as grandes decepções, às quais todos estamos sujeitos, não importam as traições, as mentiras, as calúnias, não importa o sofrimento, não importam as injustiças decorrentes de maus governos e maus políticos, pois tudo é parte do aprendizado, do qual só tomamos consciência, depois de algum tempo de vida. Curiosamente, as queixas contra a velhice, na maioria das vezes, não partem daquelas que teriam motivo para tanto, porém das que têm melhor qualidade de vida, esclarecendo-se que qualidade de vida nem sempre se firma em posses materiais, vindo antes a saúde e o amparo do círculo familiar.

Para viver, relativamente, bem a fase final, é preciso ter em consciência que estar velho, ou idoso, como queira, não é motivo para apatia, ociosidade extrema, desleixo, sedentarismo e, muito menos, sujeição à vontade de terceiros no que toca à vida pessoal. A vida se prolonga, em ritmo mais o menos igual para uns ou mais lento para outros, porém não prescinde de atividades, tanto físicas quanto mentais. Desinteresse por novidades tecnológicas ou conhecimentos novos, sob a argumento de que já está no fim da vida, é atitude a ser descartada no nascedouro, mesmo porque ninguém sabe, por antecipação, quando será o fim da sua jornada. Castigo para uns, prêmio para outros, a velhice é a projeção de nossa atitude mental ao longo da vida!

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