Vontade de morrer

18 de Maio de 2018
Valdete Braga

Valdete Braga

Quando ouvimos esta frase ou outra similar, a nossa tendência óbvia é de puxar a orelha da pessoa. Por mais difíceis que as coisas estejam, esta não é nem nunca foi a solução. Principalmente em uma sociedade onde o número de suicídios, principalmente entre jovens, cresce assustadoramente, não podemos sequer imaginar que um pensamento desses passe pela cabeça de alguém.

Por outro lado, não é na “porrada” que vamos ajudar a pessoa. Não é xingando, esculhambando com ela. Ela pode estar mesmo com vontade de morrer, e se partirmos para a lição de moral, em vez de ajudar, podemos piorar a situação. Qualquer um tem este direito, por que não?

Pelo amor de Deus, não estou fazendo apologia ao suicídio. Jamais. Pelo contrário, nesta hora a pessoa precisa de compreensão. E, por mais paradoxal que seja, dar a ela o direito de se sentir assim faz parte de ajudá-la a entender que esta não é solução para nada.

Ela disse “vontade de morrer”. Não disse “quero ou vou me matar”. A diferença é enorme. Até porque, muitas vezes, arrisco-me a dizer a maioria, a pessoa fala isto sem consciência do seu real significado. Ela não quer morrer coisa nenhuma, a frase é um desabafo para o sofrimento que a aflige. No tarô a carta da morte não tem nada a ver com morte física, ela significa mudança. Fazendo um paralelo, inconscientemente, o que esta pessoa quer é parar de sofrer, ou seja, uma mudança em sua vida.

Essa “vontade de morrer” na maioria das vezes é simplesmente a necessidade de sair do sofrimento. Logicamente, há casos e casos. Refiro-me ao dia a dia. Quando a pessoa chega naquele ponto de não agüentar mais, de passar a noite inteira chorando alto feito criança, encharcando o travesseiro com “vontade de morrer” para no dia seguinte acordar mais calma e correr atrás para resolver o problema. Esta pessoa não precisa de bronca nem das frases (corretas, diga-se de passagem) do quanto a vida é bela, do quanto ela tem, do quanto está sendo vitimista. Não. Ela precisa de alguém que a abrace e a deixe chorar e falar esta enorme bobagem no seu ombro.

No dia seguinte, ou dois ou três dias depois, aí sim, a pessoa em cujo ombro ela chorou deve dizer a ela “viu o tamanho da besteira que você falou aquele dia? Nunca mais repita isto”. Ela vai entender, porque foi entendida. Nunca devemos jogar pedra no sofrimento do outro. Dependendo do seu tamanho, ele tem o direito de falar umas bobagens. O sofrimento é dele, e por mais “superior” que você se julgue, pela sua força, religião ou pela vida perfeita que tenha, um dia pode ser você a sentir a mesma coisa e também falar alguma bobagem. Afinal, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

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