Alunos da Ufop denunciam irregularidades em processo seletivo do Festival de Inverno

Ouro Preto,
25 de Julho de 2012

A seleção para monitores do maior projeto de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto foi ferrenhamente criticada. De acordo com alunas da Ufop, houve “irregularidades” no processo seletivo para o Festival de Inverno. Desde a elaboração dos editais, até a maneira como a seleção foi feita. Basicamente, as denúncias tocam no que diz respeito a como os editais de seleção poderiam legitimar as “subjetividades” de quem seleciona, bem como tendências que aflorariam no decorrer das escolhas.

Primeiramente, há uma cláusula muito contestada, a 4.3. Nela consta que “o resultado da seleção realizar-se-á por e-mail a partir da demanda de cada coordenador, sendo que o resultado final, com a relação de todos os selecionados, será divulgado no dia 25 de junho de 2012, no site oficial do evento;”. O trecho “a partir da demanda de cada coordenador” causaria problemas de subjetividade ao processo. Andréa Sannazzaro, aluna de História, comenta que “tem um movimento muito estranho”. Isso devido ao fato de que, seguindo a lógica da cláusula 4.3, quaisquer coordenadores poderiam selecionar quem bem quisessem, já que ela afirma que a seleção é feita “a partir da demanda de cada coordenador”. A partir disso, dispara: “O edital não é claro. O processo não é claro”.

No entanto, a coordenação do Festival de Inverno afirmou que não há problemas com o processo: “Não vemos subjetividade no processo de escolha”. “Acreditamos que houve um equívoco de interpretação no que rege o edital por parte dos denunciantes”, explica a Assessoria de Comunicação Institucional (ACI). Isso pelo fato de que, segundo o órgão de comunicação, “ao dizer sobre a ‘demanda de cada coordenador’ esse edital refere-se ao perfil de trabalho que foi traçado antecipadamente pelas coordenações e que serviram de base para a escolha”.

Dessa maneira, também se acrescenta que “em momento algum os coordenadores específicos de cada área tiveram acesso à lista total dos inscritos, ficando a cargo da coordenação executiva do evento analisar os perfis, justamente para evitar favorecimentos no processo”, explica a Assessoria da Ufop. No entanto, segundo o mesmo “somente depois desse filtro os coordenadores de cada área tiveram acesso ao cadastro de seus monitores, pré-selecionados, para aprovação e aval definitivo”. Dessa maneira é necessário pontuar que, ainda que após uma filtragem, os coordenadores tem sim acesso ao cadastro de seus possíveis monitores, tendo poder de decisão sobre com quais desejam ficar.

As críticas não param por aí. Uma aluna de jornalismo, que participou do processo seletivo, também fez suas denúncias. No entanto, por medo de represálias, não quis se identificar. Segundo ela, houve casos de benefícios à uma república inteira de Ouro Preto. Bastaria que a casa fosse “mais chegadas aos coordenadores”. Andrea Sannazzaro também relatou caso semelhante, porém com outra casa. Acrescenta-se a isso, outro caso bastante grave, que teria acontecido em outra edição do Festival, que foi relatado por Elisângela Mira, aluna de cênicas. “Já fui indicada para trabalhar no Festival”, denuncia. Na sua opinião, esse tipo de ato é “criminoso”. Porém, de acordo com a estudante, as pessoas que fazem isso “não têm consciência”.

Seria uma prática até tomada com certa naturalidade: “o pessoal que lida no processo seletivo acha isso normal”, explica. Quando questionada a respeito de já ter aceitado indicação, em outra situação, mostra-se arrependida e disposta a arregaçar as mangas para que haja uma mudança na situação: “mesmo já tendo sido indicada uma vez, acho certo questionar sim. Mesmo as pessoas dizendo que não posso”. Pontua-se que quando “foi indicada”, Elisângela passou. Para ser selecionada, mesmo com essa “indicação”, teve que cumprir os aparatos legais, participando do processo seletivo. Agora, esse ano, quando tentou somente pelas vias “formais” do concurso, não foi.

E tem mais questionamentos. Coisas como ausência de critérios específicos no edital, bem como “ausência de classificação” também foram relatadas. A lógica, para comprovação desse último item, apresentada por Andrea Sannazzaro foi a seguinte: “Houve a abertura de um segundo edital. Por que então haveria a necessidade de mais um edital? Não bastaria apenas chamar os remanescentes da primeira seleção?”. De acordo com a ACI, a chamada aconteceu. Isso teria se dado por meio de telefone, “devido ao curto prazo para lançar uma nova lista”, explica. Também coloca, que a necessidade de abertura de mais 1700 inscrições (esse foi o número de inscritos), segundo o órgão de comunicação, “faria com que o processo se tornasse muito longo”. Curiosamente, quando Elisângela Mira, a aluna de jornalismo e uma amiga de Andrea Sannazzaro foram questionadas se receberam ligações da organização do Festival, perguntando sobre um possível interesse em vagas remanescentes, as respostas foram unânimes: “não”.

A ACI também foi diretamente questionada sobre a necessidade de elaboração do segundo edital, estando outro em vigência. Ela explicou que, além desses motivos, “a decisão (da elaboração do segundo edital) foi tomada devido ao fato de muitos bolsistas ficarem de fora da primeira seletiva. Por causa do grande número de desistências no primeiro edital”.

No entanto, curioso foi o critério para a elaboração do segundo edital: “O novo processo de inscrição seguiu um padrão mais simplificado, levando em conta o curto prazo que os candidatos teriam para se inscrever”. Ou seja, primeiro, para se justificar a elaboração do segundo processo seletivo foi considerado o “fato de muitos bolsistas ficarem de fora da primeira seletiva”, porém para se evitar um número exagerado de inscritos, ele foi aplicado “levando em conta o curto prazo que os candidatos teriam para se inscrever”.

Aproveitando esse gancho, também foi questionada a “rapidez” como foi feito o segundo processo seletivo. A respeito de como ele se daria em completa lisura, nesse espaço de tempo, sendo que foi necessário o cumprimento de requisitos como análise de documentos e de perfil, pontua-se que dentre esses documentos deveria se encontrar uma carta de apresentação. E tudo isso deveria, em tese, ser feito em menos de um dia, já que o período de inscrição foi do dia 8 ao 9, saindo o resultado já na noite do dia 10.

A ACI respondeu da seguinte forma: “Foi dado um prazo de 48 horas para a inscrição no edital, levando em conta que o mesmo teve vigência no dia oito de julho e se encerrou as zero hora do dia nove de julho. Havia uma equipe preparada para realizar a seleção e as inscrições eram analisadas à medida que os e-mails iam chegando, o que agilizou o resultado final. Ainda assim, o resultado foi divulgado às 18 horas – prazo suficiente para finalizar a análise das propostas e distribuí-los por áreas. Foram 191 inscrições para esse segundo pleito, o que não representa volume tão exorbitante para a equipe que já havia realizado a seleção de quase 10 vezes esse número”. Por fim, a esse último edital “não cabe recurso”, conforme consta no mesmo.

Alunos da Ufop denunciam irregularidades em processo seletivo do Festival de Inverno
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