Condenado o ex-delegado acusado de matar adolescente em Ouro Preto

Ouro Preto,
17 de Dezembro de 2015

Geraldo Toledo foi sentenciado a 18 anos e nove meses de prisão por homicídio duplamente qualificado e fraude processual

Após três dias de julgamento, o ex-delegado da Polícia Civil, Geraldo do Amaral Toledo Neto, de 43 anos, foi condenado a 18 anos e nove meses de prisão, em regime inicialmente fechado. O Conselho de Sentença, composto por sete homens, considerou Toledo culpado pela morte de sua namorada, Amanda Linhares, então com 17 anos, que foi atingida por um tiro na cabeça no dia 14 de abril de 2013 na Rodovia dos Inconfidentes. O julgamento teve início no dia 1 de dezembro no Tribunal do Júri de Ouro Preto e terminou à 1h da madrugada do dia 4, com a leitura da sentença feita pela juíza Lúcia de Fátima Magalhães Albuquerque Silva.

Toledo foi condenado a 17 anos e seis meses por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e utilizando meio que tornou impossível a defesa da vítima. Já a pena fixada em um ano e três meses se refere a fraude processual, por tentar modificar as provas do crime.

O julgamento

Familiares e amigos da vítima e do réu acompanharam o julgamento. No primeiro dia foram ouvidas nove testemunhas e informantes da acusação e defesa. A mãe da vítima, Rubiane Linhares, foi uma das testemunhas, e ressaltou que era contra o relacionamento da filha com o réu, que inclusive teria pedido diversas vezes para Toledo se afastar de Amanda. Já como informantes do réu, foram ouvidas a ex-mulher, a atual namorada e uma outra mulher que teria estado com Toledo na noite anterior ao crime. Ambas sustentaram que Geraldo nunca foi uma pessoa agressiva, contestando assim depoimentos de situações violentas entre Amanda e Toledo.

No segundo dia, o réu foi interrogado pela juíza e manteve a tese de que a vítima teria se matado. Na quinta-feira, foi a vez do representante do Ministério Público e do advogado de defesa debaterem para o júri.

O promotor Vinícius Alcântara Galvão e o assistente da acusação, advogado Aparecido Gonçalves, ressaltaram o relacionamento entre o ex-delegado e a vítima, enfatizando as brigas do casal e situações violentas. Ele rebateu enfaticamente a hipótese de suicídio defendida pela defesa. “O que se comprovou foi que ele efetivamente atirou, pois do ponto de vista lógico e físico, a tese do suicídio veio abaixo com as manchas de sangue no veículo, o que derrubou por completo essa questão. Outro fator foi o réu ter deixado a vítima no hospital como desconhecida, sem identifica-la e passou sistematicamente a fraudar as provas dos autos na tentativa de evadir da sua responsabilidade” explicou o promotor.

Já a defesa do réu sustentou a hipótese de suicídio, apontando falhas na reconstituição do crime, além de atestar que Toledo sofria perseguição por parte da corregedoria, que investigou o caso. Outro ponto levantando pela defesa foi a vida familiar da vítima, que a ausência do convívio dela com o pai pode ter gerado um abalo emocional. Por fim, defendeu que a morte da vítima não foi causada pelo disparo da arma de fogo, mas por problemas pulmonares. Segundo o advogado, o réu nunca foi uma pessoa violenta ou capaz de praticar crimes. “Afirmo até o fim, ele é inocente. Pode ter todos os defeitos correlatos trazidos pela acusação de jovem, soberbo, isso é normal da juventude. Mas ele não é homicida”, defendeu o advogado de defesa, Valdomiro Vieira. Sobre a condenação por ter matado a jovem, o advogado de defesa afirmou não haver provas suficientes contra o réu e disse que irá pedir a anulação do julgamento. “O fundamento principal: julgamento contrário às provas dos autos. Isso é motivo para que o tribunal possa anular o julgamento”, alegou o advogado. Ao final do julgamento a mãe de Amanda, visivelmente emocionada, falou sobre o resultado do julgamento. “Para mim foi muito bom, muito bom mesmo. Poderia ter sido até 10 anos. A justiça foi feita, eu prometi para minha filha e consegui cumprir”, comemorou Rubiani entre muitas lágrimas.

Após o julgamento Geraldo Toledo voltou para a Casa de Custódia da Polícia Civil, em Belo horizonte, onde já estava preso desde 2013.

O crime

De acordo com o Ministério Público, Geraldo Toledo teria atirado na cabeça da da namora, Amanda Linhares, no dia 14 de abril de 2013, em um trecho da Rodovia dos Inconfidentes, que liga Ouro Preto a Lavras Novas.

A jovem foi levada por Toledo à Unidade de Pronto Atendimento da cidade, onde foi deixada sem nenhuma identificação. Devido à gravidade do ferimento, a vítima foi encaminha para o hospital João XXII em Belo Horizonte, onde ficou 51 dias internadas, mas acabou não resistindo ao traumatismo craniano. A denúncia apresentada pela Polícia Civil à Justiça mostra que o delegado contou com a ajuda da atual namorada e de três amigos. Todos foram indiciados por fraude processual, assim como a primeira advogada do réu.

Amanda já havia registrado um boletim de ocorrência em março de 2013 contra o acusado por agressão.

Antecedentes

Geraldo Toledo foi exonerado do cargo de delegado em outubro de 2013, após pedido feito pela Corregedoria da Polícia Civil e aceito pelo governador Antônio Anastasia, até então governador do Estado, por transgressão disciplinar de natureza grave. O processo foi baseado em fatos que ocorreram entre os anos de 2005 e 2007, período em que Toledo era o titular da Delegacia de Trânsito (Detran) de Betim.

As investigações confirmaram que ele teria contrariado normas existentes na legislação de trânsito, o que culminou no registro e licenciamento de duas motocicletas com motores e chassis de procedências irregulares.

Além disso, o ex-delegado responde por mais de 10 processos administrativos.

Condenado o ex-delegado acusado de matar adolescente em Ouro Preto
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