Entrevista - Acordeonista encanta moradores e turistas todas as tardes em Ouro Preto

Ouro Preto,
11 de Agosto de 2015

_Aos 81 anos de idade, Seu Damião, como é conhecido em Ouro Preto, esbanja carisma e alegria no largo próximo a prefeitura, onde todas as tardes encanta os transeuntes ao som do seu acordeão. A reportagem do jornal O LIBERAL conversou com Damião Amaro Lopes, que reside na cidade há 60 anos. Pai de seis filhos, e casado há 53 anos com Dona Eunice, Seu Damião reside na Rua do Pilar, onde ali perto, toca todas as tardes o seu acordeão. Confira a história desse cearense apaixonado pela música. _

Seu Damião, como surgiu o interesse em tocar o acordeão?

Eu sempre tive vontade de ter um acordeão, mas como trabalhava não tinha muito tempo. Então, depois de três anos que me aposentei da antiga Alcan, onde trabalhei durante 22 anos, pude realizar o meu sonho.

E com quem o senhor aprendeu a tocar?

Aprendi sozinho, como eles dizem, autodidata. No começo tocava só em casa, escondido, pois não tocava bem. Com o tempo fui aprendendo as notas e me aperfeiçoando. Há cerca de 20 anos eu toco todos os dias. De segunda a sexta, fico aqui perto da prefeitura, todas as tardes. Já no sábado e domingo toco na Estação da Vale, na parte da manhã.

O que o acordeão representa na sua vida?

Quando eu começo a tocar esse acordeão eu sou o homem mais feliz do mundo, é instrumento lindo. Hoje seria muito difícil para mim, viver sem ele, sem a música. Ele faz parte da minha vida, é como se fosse minha alimentação. Quando não toco, eu sinto que falta alguma coisa. Nem que sejam 15 minutos por dia eu tenho que tocar.

Seu Damião, me conta um pouco sobre a sua vida. Como o senhor veio parar em Ouro Preto?

Eu cheguei em 1955, com uma mão na frente e outra atrás. Aos 21 anos, vim para trabalhar, um amigo do patrão do meu irmão gêmeo me arrumou um emprego aqui. Eu sou do Ceará, de Caririaçu, e lá no nordeste os filhos crescem ouvindo os pais falarem assim: ‘esse menino precisa crescer rápido para ir para São Paulo’. De lá pode ir para qualquer lugar do mundo, mas São Paulo é a sina, precisa passar lá, e comigo não foi diferente, eu morava em São Paulo antes de vir para Ouro Preto. (Conta entre risadas).

E o que o senhor mais gostou em Ouro Preto?

Meu casamento me fez me apaixonar por Ouro Preto. Ah, a Eunice, minha esposa. Meu Deus, como ela é linda e quando dizemos que Deus gosta muito da gente, a gente não está mentindo. Minha esposa deu um sentido especial a minha vida. Eu não saberia fazer nada sem ela, eu estaria perdido. Em dezembro fazemos 54 anos de casados e eu me lembro até hoje de quando a vi pela primeira vez, indo para o colégio. Foi amor a primeira vista. Na primeira vez que a vi eu falei com meu amigo José de Matos, eu vou casar com aquela menina. Parece que os anjos falaram amém. Nada mais tirava ela da minha cabeça. Se há um cara apaixonado pela esposa sou eu.

E essa alegria contagiante, qual a receita?

Eu não me amarro em tristeza. Quando vejo que ela vai me atingir, eu digo: aqui não vai ter vez. Falo com sabedoria, pois quando perdi duas filhas em um acidente de carro, eu não me deixei abater. Eu tenho muitas saudades, mas tristeza não. Tristeza faz parte da vida, mas não podemos deixar ela nos dominar. Ninguém nunca vai me ver triste. Tenho alegria para distribuir para muita gente.

Neste domingo (9) é celebrado o dia dos pais. Qual o recado o senhor deixa para os pais?

Primeira felicidade do ser humano é fazer parte da eucaristia. É o maior prêmio do ser humano, nem que seja uma vez por ano. Quando temos fé não falta nada. Então, um conselho que eu dou é que os pais tenham mais fé, orem mais, pois é nas orações que encontramos forças para superar as tristezas e encontramos alegria para os momentos alegres.

Entrevista - Acordeonista encanta moradores e turistas todas as tardes em Ouro Preto - Foto de Michelle Borges
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