Estado nomeia o novo diretor da Escola Dom Pedro II

Ouro Preto,
12 de Fevereiro de 2012

Governo estadual atropela eleição direta da comunidade escolar, numa retaliação ao movimento grevista dos professores da instituição

As aulas nas escolas estaduais seguem a todo vapor, mas os reflexos da greve do ano passado, numa campanha expressiva dos servidores por melhores salários e condições de trabalho, atingem cerca de 10 instituições do Estado, nas quais seus dirigentes não foram reconduzidos ou os eleitos pelas escolas tiveram seus nomes barrados pelo governador Antonio Anastasia. Na quarta-feira, dia 1, a Secretaria de Estado de Educação divulgou a nomeação de Dirlene Maria de Azevedo Lima como nova diretora da Escola Estadual Dom Pedro II, em Ouro Preto, umas das instituições inseridas nesse contexto.

A expectativa era que Vinícius Barbosa de Paiva assumisse o cargo, já que em agosto do ano passado, ele foi eleito diretamente pela comunidade escolar. Critérios políticos teriam pesado exclusivamente sobre a decisão, já que Vinícius, professor efetivo da escola há 10 anos, fora exonerado do cargo de vice-diretor, logo em setembro, juntamente com outros dirigentes da escola que teriam apoiado o movimento. Ele esteve presente na escola durante todo o tempo da greve.

A expectativa agora passa a ser a nomeação e posse, pelo Estado, dos vices diretores eleitos na mesma chapa: José Emílio e Adriane Soares Guimarães. Esta última ocupara a direção da escola desde a decisão do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute) de cessar o movimento, no final de setembro. O nome da nova diretora teria sido sugerido pelo próprio colegiado, uma vez que o de Vinícius não teria sido aceito pela Superintendência Regional de Ensino de Ouro Preto, em cumprimento à ordem que teria chegado da Secretaria de Estado.

Professor de matemática, Vinícius Barbosa de Paiva aguardava o desfecho do caso desde o dia 10 janeiro, data de início das designações e posses dos diretores e vice- diretores. No entanto, ele coloca-se indiferente à celeuma política gerada pela situação. “O que eu pude fazer para o bem da escola eu fiz, colocando-me à disposição dos alunos, funcionários e professores, propondo as melhores intenções e longe da discussão política, que repercutiu em torno da nomeação e posse da direção”, diz o professor, para quem “a Escola Dom Pedro tem uma história de sucesso escrita ao longo de seus 103 anos de ensino, com a preparação de mais de 1100 alunos e, por isso, continuará trabalhando da melhor forma, independente dele ser diretor ou professor. O que está em jogo são valores maiores, o bem e a educação da instituição”, acrescenta.

A diretora da SRE de Ouro Preto, Iracema Ana D’arc Pedrosa Mapa, prestou esclarecimentos à reportagem do O LIBERAL sobre o assunto. Ela nega a perseguição aos grevistas pelo o governo e diz que Vinícius de Paiva não pôde assumir a escola devido ao “descumprimento de funções” no período de greve. “Embora o nome do professor Vinícius tenha sido referendado nas etapas de certificação profissional e indicação pela comunidade escolar, houve a incompatibilidade de suas folhas de ponto durante a paralisação, já que acumulava os dois cargos. Isso acabou gerando sua exoneração e a impossibilidade de nomeação. Essa decisão é, portanto, estritamente administrativa, e não política e pessoal”, defende a diretora, que ainda reitera que a situação da Escola Dom Pedro II não é um caso isolado no âmbito das escolas da Superintendência, e admite que na Queiroz Júnior, em Itabirito, o diretor não teria sido designado em função dos mesmos motivos.

Embora tenha sido uma conquista da categoria dos professores do Estado, em 2011, a eleição direta ainda perpassa pela análise e aprovação do executivo estadual, haja vista que se figura entre os cargos de confiança. Esse processo abre precedentes para se desencadear um movimento da comunidade em defesa dos diretores eleitos, onde os colegiados são órgãos máximos e soberanos no âmbito dessas instituições.

Estado nomeia o novo diretor da Escola Dom Pedro II - Foto de Eduardo Maia
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