Fechamento da Novelis em Ouro Preto é dado como irreversível

Ouro Preto,
12 de Novembro de 2014

Com o encerramento das atividades previsto para a primeira quinzena de dezembro, 354 postos de trabalho serão desativados

O anúncio do fechamento da Novelis em Ouro Preto, previsto para a primeira quinzena de dezembro, tem tirado o sono e a tranquilidade de muitos trabalhadores da empresa, assim como mobilizado instituições e órgãos preocupados com os resultados da decisão, que culminará na desativação de 354 postos de trabalhos diretos. Para dar destaque as ações realizadas na tentativa de reverter a situação, a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânica e de Materiais Elétricos de São Julião, reuniu a imprensa ouro-pretana na sexta-feira (31) para explicar o andamento das negociações com a Novelis.

No encontro, o coordenador de Política Sindical, Roberto Carvalho, afirmou que, após cálculos realizados pelo sindicado, a Novelis é viável em Ouro Preto, e que a decisão nada mais é do que a intenção da empresa em gerar mais lucro com a comercialização de energia elétrica. “O que acontece é que os empresários do meio de produção, o grupo indiano, viram a possibilidade de ganhar mais do que eles estavam ganhando com a produção de alumínio. A venda de energia, além da alta lucratividade, pode gerar o crédito de carbono, que também é inserido no faturamento. Nas nossas contas, a Novelis pode ganhar três vezes mais produzindo energia”, reafirmou. A principal intenção do sindicato é manter os postos de trabalho na cidade e em uma das negociações já realizadas com a empresa foi apresentada uma proposta da viabilidade técnica da utilização do alumínio em outras linhas de produção para automóveis, como rodas de liga leve e blocos de motor. A Novelis ainda não se manifestou sobre a proposta.

O movimento do sindicato ganhou mais força nos últimos dias com a parceria de alguns órgãos e instituições para que, segundo eles, a empresa não leve as riquezas retiradas ao longo dos 60 anos de exploração na cidade sem o devido ressarcimento. “Todas essas questões são medidas indenizatórias, então nós estamos estudando, capitando todas as provas possíveis. Mas esse é um projeto de segundo plano, pois o primeiro é a negociação e manutenção dos postos de trabalho”, explicou Renato Lisboa, advogado do Sindicato. “Se caso não conseguirmos o principal objetivo, aí sim vamos ver a viabilidade para que todos os passivos trabalhistas, previdenciário ambiental e até mesmo o patrimônio histórico possa ser ressarcido ao longo do tempo”, concluiu o advogado.

Indagados sobre a situação da Hindalco, a Novelis, em nota, informou que esta é uma empresa do grupo Adytia Birla e continua a operar normalmente e que sua operação não está relacionada às decisões da Novelis. O operário Paulo Ferraz, que trabalha na empresa há mais de 18 anos, diz que o clima no setor é muito desagradável. “Todos estão sem motivação de trabalho, na expectativa que alguém consiga reverter a situação, pois a recolocação no mercado de trabalho, depois de anos de dedicação à Novelis, vai ser muito complicada”, desabafa Paulo.

Audiência Pública

Na tarde da quarta-feira (5) a Comissão de Trabalho, da Previdência e da Ação Social, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promoveu uma audiência pública na Câmara de Ouro Preto para debater as consequências do fechamento da fábrica.

A sessão da audiência foi presidida pelo deputado Celinho do Sinttrocel (PCdoB) que destacou denúncias já realizadas anteriormente sobre a intenção da Novelis em fechar sua unidade fabril de Ouro Preto. “A Novelis chegou a ter 3 mil operários, hoje eles não são nem mil. Essa reunião tem como objetivo o fortalecimento da luta pela manutenção das atividades fabris na cidade”, ressaltou o deputado.

Em seguida, o assessor da diretoria da Novelis, Ricardo Carneiro, reafirmou que a situação é irreversível, e que outras empresas do ramo de alumínio passam pela mesma situação. “Não é exclusividade da Novelis, é uma crise mundial. Para se ter uma ideia, a unidade de Ouro Preto produz hoje cerca de 18 mil toneladas de alumínio primário, uma fábrica minimamente viável, por uma escala de produção, deveria produzir cerca de 400 mil toneladas”, destacou.

Em um dos requerimentos propostos, Roberto Carvalho sugeriu que o Estado assuma a produção da fábrica, para manutenção dos postos de trabalho. “Se é viável e eles não querem dar continuidade, que o Estado assuma, pois é uma posição estratégica para Ouro Preto”, sugeriu.

Manifestações

Na manhã da quarta-feira (5) uma manifestação contra o encerramento da fábrica mobilizou diversas entidades e trabalhadores da Novelis. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) os sindicatos de metalúrgicos de algumas cidades do Estado e a Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e da CSP-Conlutas, juntamente com trabalhadores, fecharam as duas vias da BR-356, no trevo de Ouro Preto.

Outra manifestação aconteceu logo após o encerramento da audiência pública, quando os trabalhadores, juntamente com seus sindicatos e demais instituições presentes, acamparam na Câmara. Eles demandaram ser recebidos pelo prefeito de Ouro Preto, por comissão de transição do governo de Minas Gerais, e ainda, pela Presidente da República ou algum ministro federal.

Posicionamento da prefeitura

Em nota, a Prefeitura de Ouro Preto informou que, segundo o secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Ouro Preto, Jarbas Avellar, “o fechamento da Novelis já era esperado desde quando a empresa Alcan fechou as portas e transferiu suas atividades para a Novelis no ano de 2000. A empresa foi diminuindo o quadro de funcionários e a gestão atual, como forma de compensar a perda de empregados, trouxe para o Município a empresa Hindalco, que conseguiu comportar esses profissionais. Isso gera renda e estabiliza ‘a taxa de desemprego’”. Em seguida informou que vem buscando incentivar novas empresas a se instalarem na cidade, como o Hipermercado EPA, que agora possui uma filial no Município e irá gerar 150 empregos locais.

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