Medalha da Inconfidência é palco de manifestações populares e gritos pela democracia

Ouro Preto,
27 de Abril de 2015

Como na canção de Chico Buarque, “Joaquim José da Silva Xavier era o nome de Tiradentes/ Foi sacrificado pela nossa liberdade/ Este grande herói para sempre há de ser lembrado” foi-se consagrada mais uma homenagem ao mártir mineiro Tiradentes, em uma cerimônia, pela primeira vez após 12 anos, marcada pela participação popular em consonância à liberdade do povo, aos pés do Museu da Inconfidência e a frente da estatua do herói nacional. A cerimônia da Medalha da Inconfidência aconteceu na cidade de Ouro Preto, na terça-feira, dia 21 de abril, dia da morte de Tiradentes. O evento anual do estado condecora centenas de personalidades, entre elas, políticos, militares, professores e entidades que contribuíram para o desenvolvimento de Minas Gerais. Entre os agraciados esteve presente o deputado estadual, Thiago Cota, filho do prefeito de Mariana, Celso Cota Neto.

O prefeito de Ouro Preto, José Leandro Filho, iniciou a cerimônia dando boas vindas às autoridades, aos homenageados e a toda população presente, ressaltando a importância da cidade ouropretana para a história do Brasil, assim como de toda trajetória de Tiradentes para a criação de um sentimento de unidade nacional brasileira, com ideias de liberdade, coragem e sacrifício.

Já o orador da solenidade e governador do estado, Fernando Pimentel (PT) ressaltou a importância nacional de Tiradentes, assim como do condecorado com o Grande Colar da Inconfidência, premiação de maior grau na cerimônia que, neste ano, foi entregue ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Enrique Ricardo Lewandowski. Segundo Pimentel, o agraciado é exemplo de justiça e equilíbrio. “O ministro Lewandowski já se mostrou fiel a mais sublime e nobre missão de um magistrado: ter a coragem de ir contra os aparentes consensos, guiado apenas pela solitária e genuína convicção da inocência ou da culpa, mas sem se deixar intimidar pelos clamores de um, de outro, ou de qualquer lado. Guiado pelo incomparável senso da justiça e pelo compromisso republicano e democrático que caracteriza Vossa Excelência”, ressaltou.

O ministro e presidente do STF tinha o direito, seguindo a tradição do evento, de finalizar a festividade com seu discurso. Entretanto, segundo Pimentel, o ministro preferiu não se pronunciar.

Manifestantes e a repulsa pelas homenagens

Embora a participação popular tenha sido considerável na entrega da Medalha da Inconfidência desse ano, alguns participantes estiveram presentes para manifestar descontentamento, ou melhor, repulsa pela condecoração de maior valor ter sido entregue ao ministro Lewandowski.

Grupos como o “Vem pra rua” convocaram a população para realizar um “panelaço” durante a cerimônia e pressionar o governador do estado pela sua escolha. Para eles, a homenagem é uma ofensa à memória de Tiradentes. Sob gritos de “você pagou com traição a quem sempre te deu valor” e até mesmo “Pimentel traidor”, os manifestantes acusaram o governador de traição.

Para entender a ira dos populares é indispensável lembrar que o ministro em questão teve grande relevância durante o julgamento do mensalão, que envolveu o Partido dos Trabalhadores (PT) que é o partido de Pimentel, em oposição ao também ministro Joaquim Barbosa, que recebeu a maior homenagem no ano anterior, ainda durante administração tucana.

Para os manifestantes, o motivo do Grande Colar ter sido entregue a Lewandowski foi por ele ter votado contra a condenação dos petistas no caso do mensalão. O grupo “Vem Pra Rua”, em uma convocação veiculada as redes sociais, afirmou ver como uma afronta a memória de Tiradentes ter uma medalha entregue ao presidente do STF.

Os participantes do mesmo movimento asseguraram repudiar que a medalha fosse entregue a pessoas ligadas a corrupção, assim como também repudiaram homenagem ao líder do Movimento dos Sem Terra (MST) João Pedro Stédile, condecorado com honraria da Grande Medalha da Inconfidência.

O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, citou em seu pronunciamento como se felicitava em ver a Praça Tiradentes aberta ao povo durante a solenidade. E afirmou, em coletiva de imprensa, que ouviram as vozes da democracia presentes na festividade do dia 21 de abril. A cerimônia, assim como os protestos, aconteceu sem confrontos ou complicações.