Mineração: desenvolvimento ou sujeira?

Itabirito,
09 de Dezembro de 2013

Itabirito já não aguenta mais os impactos que sofre com as mineradoras e busca por soluções imediatas

Que o minério é fonte de riqueza para o estado ninguém questiona, está no subsolo um dos grandes geradores de impostos para os municípios mineiros. Porém, há por trás disso uma realidade que tem tirado o sono de alguns prefeitos que trabalham na busca incansável de oferecer aos cidadãos aquela qualidade de vida prometida em seus planos de governo.

Essa é a discussão que vem sendo pauta na Associação dos Municípios Mineradores (Amig) há alguns anos e que, desde o início de 2013, ficou ainda mais evidente.

As mineradoras fazem a exploração e mantêm o discurso de ambientalmente e socialmente responsáveis, mas uma volta pelas cidades derruba por terra o que está em seus quadros de missão, visão e valores. O cenário parece de filmes de faroeste, perfeitas locações para produtoras fazerem filmagens, barro por todo lado, pisos marrons, filas de grupos uniformizados.

Depois de inúmeras reuniões com representantes da Vale, da Namisa e de outras mineradoras menores que exploram o solo de Itabirito, o prefeito da cidade, Alex Salvador, acatou o pedido da população e decidiu implementar ações diretas. “Nós tentamos de tudo. Conversamos, mostramos os impactos que o número enorme de contratados trazem, mostramos a sujeira da cidade, tentamos soluções conjuntas, nada adiantou. As mineradoras se comprometem a fazer algo, mas o nosso tempo é diferente, é agora. Não dá para pensar em desenvolvimento prejudicando o nosso povo e deixar por isso mesmo”.

Basta ficar nas entradas da cidade no final do dia e assistir ao comboio de carros, ônibus e caminhões imundos que entram deixando o rastro de minério. As ruas da cidade não se mantêm limpas devido à poeira proveniente da circulação de carros e funcionários das empreiteiras, o que tem causado um grande desconforto para os moradores. “Nós lavamos as ruas todos os dias, não adianta nada, eles voltam com a sujeira. E não lavam. Por que não lavam lá, na saída? Garanto que não entram em casa assim. É isso que a gente pede: cuidem de Itabirito como se fosse a casa de vocês. É simples, não é?”, desabafa o prefeito.

E limpeza não é tudo. O crescimento das atividades das empresas terceirizadas da Vale desencadeou uma série de fatores e um deles foi a contratação desenfreada da mão de obra, o que tem causado grandes problemas para Itabirito. Sem estrutura suficiente para abrigar os trabalhadores, a cidade se encontra em um verdadeiro caos. Os bancos estão sempre cheios com muita sujeira de minério no chão, os ônibus estão super lotados. Em horários de grande circulação, é impossível transitar no centro da cidade. Sem falar do impacto na segurança pública, com o aumento do número de habitantes, a polícia tem se desdobrado para manter a ordem na cidade. O capitão da Polícia Militar, Gláucio Caetano, explica que “com o aumento da população flutuante aumenta também a preocupação com a segurança na cidade, já que os bancos estão mais abastecidos e a movimentação de dinheiro é bem maior. Outro fator que pode atrapalhar o bom funcionamento do município, é que os novos moradores chegam de outros estados com hábitos e culturas diferentes, o que acaba gerando um conflito de comportamento”.

Sem preocupação com o impacto que vão causar nas cidades do interior, as empresas simplesmente contratam os funcionários sem saber se existe uma infraestrutura necessária para recebê-los, o que causa um verdadeiro transtorno, já que não existem vagas suficientes nas escolas. A secretária de Educação, Ana Góis, explica: “é obrigação do município e do estado garantir a escola. Mas como nós podemos fazer isso se temos um número limitado de vagas? Se as empresas são socialmente responsáveis, elas têm que pensar nisso quando trazem o trabalhador”.

O sistema público de saúde também não comporta a alta demanda, conforme esclarece o secretário de Saúde e vice-prefeito, Wolney de Oliveira. “Como nós não temos filas para exame, temos um atendimento de alta qualidade, os funcionários das mineradoras e das empreiteiras utilizam o nosso sistema público de saúde. E tiram o lugar do cidadão. Mas e o plano de saúde que as empresas dão? Por que não usam? As vacinas, por exemplo, vêm para nós calculadas pelo número de munícipes. Se aplicamos nessa população flutuante, nossa população fica sem, e isso não pode acontecer”.

A grande procura e a pouca oferta de moradias provoca um aumento no valor dos aluguéis, que gera um grande impacto na economia de Itabirito. Em jornal de grande circulação no estado a cidade chegou a ter o custo de imóveis comparado a Las Vegas (EUA).

“O problema é que a situação tomou uma proporção enorme, o crescimento é excessivo e as ações de limpeza e cuidado com o município não estão sendo suficientes para manter a cidade limpa e agradável. As empresas precisam ter em mente que crescimento econômico é diferente de desenvolvimento. É preciso promover um desenvolvimento sustentável, visando os valores culturais, humanísticos e ambientais. E onde elas estão nessa hora? Chega. Não adianta vir aqui fazer praça disso, praça daquilo. Arrumar um jardim. Isso a gente dá conta de fazer. Pagar os impostos é obrigação. Venham, explorem o minério, isso é fundamental. Mas não explorem o nosso povo. Eu não vou deixar, isso não vale”, disse o prefeito Alex Salvador.

Nova regulamentação em efeito

Desde o dia 3 de dezembro, a secretaria de Meio Ambiente está aplicando a Lei Municipal nº 1615/90 e a 2417/2005, regulamentada pelo Decreto Municipal 7632/2005, que proíbe o acesso e a locomoção pela área urbana da cidade de veículos que venham causar degradação ambiental por emissão de resíduos sólidos de mineração nas vias públicas. O valor inicial da multa é de R$ 8.001,00.

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