Cidade histórica, com cenários barrocos mundialmente conhecidos, Patrimônio Mundial da Humanidade, Ouro Preto encanta turistas que passam pelo Centro da cidade. Mas o que muitos desconhecem é a realidades dos distritos. Descaso, abandono e desrespeito com a população são alguns pontos levantados pelos cidadãos.
Em Cachoeira do Campo, um dos maiores distritos da cidade, cerca de 600 moradores vêm sofrendo com a falta de estrutura. Ruas sem calçamentos e esgoto a céu aberto são os maiores problemas enfrentados pelos moradores dos bairros Dionísio e Metalúrgico, cenário bem diferente do Centro Histórico.
A grande preocupação dos moradores dessa localidade é o impacto ambiental pela falta de cuidado e preservação da Área de Preservação Permanente (APP). Com o objetivo de mobilizar a população e autoridades, um pequeno grupo de moradores criou em 2010 o Coletivo Construtores de Imagens (CCI). A equipe trabalha desde 2012 com a sensibilização e conscientização de algumas comunidades afetadas por problemas de infraestrutura. Atualmente o foco é a gravidade que atinge Cachoeira do Campo como um todo, com o despejo de esgoto in natura nas nascentes e córregos do distrito.
De acordo com a coordenadora geral e idealizadora do CCI, Liliana Lopes Ruiz, as áreas verdes do distrito, que fazem divisas com bairros Recanto dos Pássaros, Aldebaram, Pastinho, Metalúrgicos, Dionísio, Rua Turmalina e parte do comércio local, corre grande risco. “O esgoto pode atingir as nascentes, que está numa extensa franja que atravessa boa parte do distrito e que começa num lugar conhecido como tanque, lagoa do Dionísio e sítio do Chico”, pontua Liliana. “De nada adianta falar em cuidados com o meio ambiente, se não se respeitam as mínimas normas técnicas necessárias no processo de saneamento sanitário”, dispara.
Em mais uma tentativa de chamar a atenção das autoridades municipais, a coordenadora esteve reunida com o técnico agropecuário da prefeitura, Leonardo Duarte, na tarde da terça-feira (21), próximo ao local do escoamento de esgoto do bairro, na tentativa de sensibilizar para o restauro da APP. Na ocasião, Leonardo disse que não pode dar uma resposta imediata, e que passará à secretaria a gravidade do assunto para as devidas providências. O Coletivo busca o apoio da prefeitura, mas também de empresas privadas, e além de apontar os problemas, já apontam soluções técnicas e educacionais.
Além das obras de infraestrutura dos bairros, Liliana acredita que a solução só virá a médio e longo prazo, com a educação ambientação e conscientização da população, com cada um fazendo a sua parte. Por isso, o grupo quer implantar nas escolas um projeto de educação ambiental, que já está formulado, esperando apenas boa vontade de parceiros. “Este é um problema que diz respeito a absolutamente toda a população de Cachoeira do Campo e não só a uns poucos interessados. É preciso conscientizar a população que eles também são responsáveis em preservar seu patrimônio, o lugar onde vivem”, ressaltou Ruiz. “Em tempos de escassez de recursos naturais não renováveis a cidade Patrimônio da Humanidade não consegue olhar para o futuro e se esgota cristalizada num passado que não dialoga nem consegue dar resposta sequer ao seu caótico presente. Vamos agir, todos por uma Cachoeira do Campo melhor”, motiva a coordenadora.
Obras interditadas
Desde 2013, o Metalúrgico passa por obras de instalação dos canos da rede pluvial e de esgoto. A obra deveria ser concluída em um ano, mas devido a uma liminar do Ministério Público, teve que ser interrompida por irregularidades no processo licitatório da empresa responsável pela drenagem pluvial, saneamento básico e pavimentação.
Outro distrito que busca melhorias básicas é Antônio Pereira, que frequentemente tem a rodovia MG-129 interditada por moradores como forma de protesto e reivindicações.