Ouro Preto assiste a uma de suas maiores tragédias naturais

Itabirito e Ouro Preto,
05 de Janeiro de 2012

Entre os 168 pontos de deslizamentos de terra até o momento, o pior acontece na principal via de acesso à cidade, onde a fúria do desabamento atinge a rodoviária e mata dois taxistas

Ouro Preto vive momentos tenebrosos e ares de guerra logo nos primeiros dias de 2012. Um volume assustador de terra desmoronou do Morro do Piolho (Rua Pe. Rolim) pouco antes das 24h, de segunda-feira, 2, sobre o terminal 8 de julho e matou os taxistas Juliano Alves, 27, e Denilson Márcio de Araújo, 25. A tragédia é uma das maiores provocadas pelas chuvas em Ouro Preto e desencadeou também uma das maiores operações de resgate e remoção das cerca de 35 mil toneladas de material acumulado nas proximidades da rodoviária, o equivalente, segundo dados da equipe, a 4 mil caminhões de terra. No momento do desabamento, os taxistas aguardavam passageiros no ponto de táxi da rodoviária, próximo a Plataforma “I”. Os carros de Juliano, um Fiat Uno, e de Denilson, um VW Gol, tiveram a lataria cerrada manualmente para permitir a retirada dos corpos. Não se descarta a possibilidade da localização de mais vítimas. A previsão é de que os trabalhos levem cerca de 30 dias.

A Operação São Cristovão mobiliza 60 homens do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Militar, Guarda Municipal, diversos setores e secretarias da Prefeitura Municipal, maquinário e apoio das empresas Vale, Novelis e Samarco, Boroni, etc. além da Prefeitura de Mariana. O desmoronamento ainda atingiu dois imóveis das proximidades e cerca de 40 famílias do bairro São Francisco abandonaram às pressas suas residências, sendo em seguida encaminhadas a abrigos e casas de parentes. “Nesse momento, diante de um dos maiores acidentes geológicos de sua história, Ouro Preto encontra-se consternada e em luto por essas lamentáveis perdas”, afirma o prefeito Angelo Oswaldo. Tragédias similares aconteceram na cidade nos veraneios de 1979 e 1997. Segundo dados da Defesa Civil, choveu em Ouro Preto nos primeiros dias do ano quase o previsto para todo o mês de janeiro (208 mm). Especialistas da Prefeitura apontam que devido à formação rochosa e topográfica, a cidade conta com 80% de áreas de riscos.

Os trabalhos contra os estragos provocados pelas chuvas continuam ininterruptamente por todo o município. Atualmente, as principais estradas de acesso à cidade encontram-se interditadas. Até quarta-feira, 4, os temporais provocaram 168 deslizamentos de terra, duas residências desabadas, 6 residências com riscos de desabar e oito residências parcialmente destruídas. Nos distritos de Rodrigo Silva também há casas em risco, e em Cachoeira do Campo, no Morro do Cruzeiro, já ocorreu desabamento. Com isso, 67 famílias estão desabrigadas e 52 desalojadas (foram para casas de parentes). Os desabrigados estão sendo acolhidos na Escola Monsenhor Castilho Barbosa (Escola da Barra) e sete famílias contam com o auxílio do Programa Aluguel Social. A escola está também servindo como ponto para receber material doado, como água, alimentos, roupas e produtos de higiene pessoal, em uma campanha que tem envolvido toda a comunidade. A Câmara Municipal da cidade também tem servido como ponto de recepção para doações. Interessados em ajudar as vítimas das chuvas podem conseguir mais informações pelo tel 3551-3077.

Bombeiros resgatam, sob os escombros, corpo da segunda vítima

A equipe especializada dos bombeiros encontrou, por volta das 16h de quarta-feira, 4, o corpo do taxista Denilson Márcio de Araújo Silva, 25, sob os escombros provocados pelo deslizamento de terra sobre a rodoviária de Ouro Preto, que aconteceu na noite de segunda-feira, 2. Morador do Morro da Queimada e natural de Belo Horizonte, Denilson é filho de Antônio de Araújo e Maria Auxiliadora Barbosa Silva. O carro dele, um Gol Preto, foi totalmente destruído pelo desmoronamento. Ele foi a 8ª vítima fatal confirmada, das chuvas em Minas Gerais, que atualmente tem 66 municípios em situação de emergência, entre eles Ouro Preto, Mariana e Itabirito.

Governador verifica de perto a situação crítica de Ouro Preto

O governador de Minas, Antônio Anastasia, esteve na tarde de quarta-feira, 4, em Ouro Preto, para acompanhar os estragos provocados pelas chuvas na cidade. Ao lado do secretário Nacional de Defesa Civil, Humberto de Azevedo Viana Filho, do prefeito Angelo Oswaldo, do vice-prefeito, Dimas Dutra, vereadores e demais autoridades, Anastasia prestou solidariedade à população e destacou os esforços do Estado na busca de soluções aos problemas. “Manifestamos nossa solidariedade a Ouro Preto e aos dois motoristas de táxi. Só mesmo in loco para ver o que realmente aconteceu. Nós começamos em outubro de 2010 um trabalho preventivo que funcionou positivamente e, agora, nos esforçarmos para restabelecer a normalidade das cidades atingidas. Ontem (terça-feira), a presidenta Dilma Rouseff me ligou colocando à disposição o governo federal. Vamos levar ao Ministério do Planejamento projetos de contenção de encostas, onde Ouro Preto é um dos municípios contemplados”, afirma. Durante coletiva à imprensa, o secretário Nacional de Defesa Civil anunciou a liberação de verbas aos estados. “Trabalhamos com a perspectiva de liberar R$ 28 milhões à estados e municípios que tenham planos de prevenção e recuperação”, destaca. A comitiva do governador sobrevoou antes da visita Ouro Preto e a zona da Mata, região mais castigada pelas chuvas em Minas Gerais.

Trânsito intermunicipal se complica

Segundo informes da Polícia Rodoviária, a ligação entre Ouro Preto e Itabirito pela BR-356 (Rodovia dos Inconfidentes) se encontrava bloqueada até a noite de 4 de janeiro, com previsão de liberação para hoje ou sexta-feira. Já o trajeto entre Cachoeira do Campo e Ouro Preto foi extremamente dificultado já na madrugada de segunda-feira, dia 2, após queda de barreira que tomou mais de 90% da pista. Além disso, em diversos outros pontos se encontram pequenos deslizamentos. Os trabalhos de remoção de terra nos pontos críticos ficaram comprometidos com as constantes chuvas, forçando a parada destes de modo intermitente, e novos desabamentos ocorreram em alguns pontos, exigindo o reinício dos trabalhos.

Barreiras também despencaram na Serra da Santa, no trecho entre Itabirito e Alpha Ville, impossibilitando a ida até Belo Horizonte na madrugada de terça-feira, e atualmente a condição da via é precária. A MG-129 (Estrada Real), que liga Ouro Preto até Ouro Branco também ficou interditada durante alguns períodos, e desabamentos ocorreram em Saramenha, sendo que agora o trânsito está liberado com trechos em meia-pista. Vias alternativas de Cachoeira do Campo a Ouro Preto, pela Rancharia e São Bartolomeu, também não puderam ser usadas.

A situação não é diferente nos outros municípios de Minas Gerais que ficam nas proximidades, sendo que quem viajou para Vitória na segunda-feira ficou longas horas aguardando nas proximidades de Abre Campo, e na cidade de Ponte Nova, a enchente impediu o uso das vias principais e também das alternativas. As empresas de transporte rodoviário reduziram ou cancelaram seus serviços intermunicipais na região, até que a situação se normalize, o que automaticamente recomenda à população evitar viagens, exceto se estritamente necessário.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook