Site ouropretano comemora 10 anos

Ouro Preto,
06 de Julho de 2011

Certo dia, primeira semana de julho de 2001, Nylton Batista, redator do O LIBERAL, chegou à redação a extravasar euforia. Diante da curiosidade de todos, explicou que, na noite anterior, lançara na web “site” inteiramente seu, com domínio próprio e elaborado por ele mesmo. A surpresa foi geral, pois ninguém sabia do seu projeto. Dez anos se passaram e, quando Ouro Preto comemora o tricentenário de sua elevação ao status de vila, correspondente a cidade, hoje, o O LIBERAL entrevista o autor da, então, considerada façanha, que agora comemora 10 anos.

O LIBERAL – O que lhe fez acender a ideia do “site”?

NYLTON BATISTA – Vários foram os motivos. Um deles foi o desafio que fiz a mim mesmo, pois a informática e a internet eram e ainda são consideradas áreas para jovens; naquela época, com vinte anos, no máximo. Eu já era um velho de quase sessenta, quando tomei contato com o PC.

OL – Quer dizer, idoso, não é?

NB – Eu digo velho mesmo. A palavra, idoso, muda a condição do indivíduo? Isso é uma bobice criada para enganar, para camuflar a falta de atenção e o desrespeito para com os mais velhos e desatentos.

OL – Você, então, quis derrubar o mito de que a nova tecnologia era área exclusiva para jovens?

NB – De certa forma, sim. Lembro-me que a criação de “sites” era quase mistério e havia muita louvação a garotos, em início da adolescência, que construíam e punham “sites” no ar. Entendi que a coisa era mais de a pessoa se atualizar e avançar sobre o desconhecido; estar em sintonia com as novidades que, realmente, valem a pena.

OL – Você disse ter tido vários motivos; quais seriam os outros?

NB – Além do desafio, depois das primeiras entradas na internet, final de 1999, verifiquei que ela seria a grande oportunidade com espaço infinito para publicação do que penso, escrevo, bem como para divulgação de nossas coisas. O LIBERAL também influiu, pois o fato de ter granjeado extenso círculo de leitores, em suas páginas, me fez pensar em ampliá-lo além fronteiras; seria também uma homenagem a Ouro Preto, não somente o distrito sede, mas o município como um todo; e, por isso, foi lançado na Semana de Ouro Preto.

OL – Como foi a escolha do título e do endereço para o “site”? São um tanto estranhos pois há mistura de Português com Inglês.

NB – As primeiras críticas foram contra o fato de eu, sendo cachoeirense, não tê-lo chamado Cachoeira do Campo e, sim, Ouro Preto. Como já disse, o tema Ouro Preto é abrangente, pois envolve todo o município e não somente o distrito sede. Até então, não havia nenhum site com o nome de Ouro Preto; havia, sim, “sites” locais de repúblicas estudantis, mas nenhum com o nome da cidade e município. Já havia o site de Lavras Novas, mas de Ouro Preto, nada. Quem pretende publicar na internet não pode pensar em termos locais. Por que desprezar a chance de alcançar o mundo? A internet é democrática e, em princípio, não tem fronteiras. Entre Cachoeira do Campo e Ouro Preto, esta é mais conhecida que aquela. Há pesquisas sobre Ouro Preto em todo o mundo. O nome Ouro Preto abre portas, vende, suscita discussões e é conhecido internacionalmente. Sejamos bairristas, mas nem tanto; não exageremos! À sombra de Ouro Preto pode-se ir bem mais longe. Há que saber tirar bom proveito disso! Em política, diz-se que ruim com Ouro Preto, mas, pior sem. A palavra “world” (mundo) é também muito forte nos motores de busca na internet. Esta foi a razão de o “site” ter recebido o título de OURO PRETO WORLD e a url http://www.ouropreto-ourtoworld.jor.br. No entanto, o conteúdo refere-se mais ao restante do município do que ao distrito sede.

OL – Realmente; quem acessa o site percebe que pouca divulgação se faz da cidade de Ouro Preto. Por que isso?

NB – Embora àquela época, praticamente, nada ainda houvesse, na internet, sobre a cidade de Ouro Preto, sabia que isso seria por pouco tempo. Sabia que o tema ainda seria muito explorado por outros “sites”, por isso concentrei-me no município, de modo geral, mesmo porque outros não se interessariam pela “roça”, como dizem os “trezentões” do distrito sede. Hoje, conforme previsto, a web está cheia de “sites” cujo foco principal é Ouro Preto, cidade. Certa vez, um internauta questionou-me por não ter anunciado evento de nível internacional. Expliquei-lhe que seria chover no molhado, pois a badalação estaria em todos os outros “sites”; preferia concentrar-me em eventos menos badalados. Ele acabou por concordar comigo.

OL – E, por que a mistura de termos ingleses?

NB - Critico muito o uso de termos em inglês no nosso idioma, mas, na internet, a língua internacional não pode ser desprezada. O segredo de qualquer “site” na web depende de palavras empregadas como espécie de “isca”. A própria palavra “internet” demonstra o caráter da rede mundial de computadores. Nela não se pode ter esses escrúpulos, em se tratando de conquistar o público internauta. É claro que, nos textos publicados em páginas da web, não se aplica o mesmo princípio; aí vale o respeito ao vernáculo.

OL – Você faz questão de dizer que o “site” é bastante artesanal e prefere que assim continue.

NB – De fato, ele foi elaborado com base em informações colhidas na própria internet, tendo como plataforma o Front Page, que dispensa conhecimento prévio sobre linguagem HTML. Posteriormente, fiz os cursos de HTML, Dreamweaver, Flash, e Fireworks. Entretanto, prefiro manter o “site” conforme foi construído. Repare que a própria logomarca deixa transparecer o formato artesanal do “site”. Foi desenhada com recursos do Paint, contido em qualquer computador. O formato artesanal é também uma alusão à forma como a cidade de Ouro Preto surgiu: espontaneamente, de acordo com as necessidades do momento, sem obedecer a qualquer traçado, mas acompanhando as exigências da topografia.

OL – Como é a leitura da logomarca?

NB – É composta por grande “W” de WORLD (mundo), no qual estão inseridas as iniciais de Ouro Preto. As cores de Ouro Preto (O e P), amarelo e preto, alternam-se com o fundo do “W”, significando que Ouro Preto está inserido no mundo e com ele dialoga. O Itacolomi, forte marca visual de Ouro Preto, se mostra estilizado nos dois triângulos em verde, cor que com o amarelo forma uma das marcas da identidade nacional. O triãngulo branco, ao lado esquerdo é apenas apoio ao conjunto e complemento do quadrado em que se insere

OL – Agora, quantos compõem a equipe do OURO PRETO WORLD?

NB – Não há equipe. Realizo tudo sozinho. Como é tudo muito simples, não há necessidade de equipe. Preocupo-me, sim, com o conteúdo; efeitos técnicos são dispensáveis, mesmo porque pesam muito na abertura das páginas.

OL – Conte como foi a receptividade ao “site”, tanto na busca de conteúdo, quanto na resposta do internauta.

NB – Na busca de conteúdo, senti-me excluído e vi minha iniciativa repudiada por pessoas que seriam beneficiadas, graciosamente, com a divulgação de seus empreendimentos. Mas a maior decepção sofrida foi na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo à qual recorri para obter informações, especialmente, sobre os demais distritos, além da sede. Uma das funcionárias, demonstrando-se feliz com minha iniciativa, levou cartão (provisório) do “site” ao titular da secretaria e lhe falou sobre o que eu desejava. Ele, simplesmente, respondeu que não podia me receber. Poderia ter pedido à sua assessoria que agendasse uma data para me ouvir. Mas, o que não havia era mesmo boa vontade, talvez porque o solicitante fosse nativo e da “roça”. Para preencher espaço sobre os distritos recorri a trabalho escolar, realizado por alunos da E. E. D. Pedro II. Se o solicitante fosse estranho a Ouro Preto, a reação do secretário teria sido outra.

OL – Outras decepções?

NB – Mais de uma vez, pessoas me olharam com desdém, quando lhes pedi informações sobre empreendimentos na área do turismo, para que eu as inserisse no “site”. Houve quem dissesse: “não me interessa que meu empreendimento figure na internet”. Certa vez, promotor de evento me propôs permuta em divulgação: o OURO PRETO WORLD divulgaria o evento e, em contrapartida, material impresso de divulgação do evento ostentaria a URL do “site”. O OURO PRETO WORLD cumpriu o acordo, mas a outra parte nada fez e nem se explicou. O OURO PRETO WORLD oferece espaço para publicação (a critério do editor) de textos de terceiros. Poucos são os da terra na grande lista de textos já publicados. É só conferir. E em lista de “sites” ouropretanos, o OURO PRETO WORLD não aparece, embora ali se vejam “sites” fora do ar e de outro município

OL – E quanto ao internauta? Como o “site” é recebido?

NB – Aí é que está a compensação ao pouco caso dos locais. Além dos elogios, que não são poucos; recomendações de acesso a terceiros; propostas de permuta de links, o “site” tem sido fonte de pesquisas com finalidades diversas. Mediante autorização prévia textos meus têm sido publicados em jornais e revistas. Outros “sites” também publicam ou fazem citações a conteúdos do OURO PRETO WORLD. Há pouco tempo vi blog, por meio do qual dois estudantes franceses dialogavam sobre trabalho escolar cujo foco era a Myciaria cauliflora (nome científico da jabuticaba). O curioso é que um deles apontava o OURO PRETO WORLD como, talvez, boa fonte de informação, em razão das fotos, mas não conseguia identificar o idioma. O outro prometeu pesquisar e, posteriormente, respondeu ao colega que se tratava da Língua Portuguesa, concluindo que havia, de fato, boas informações. Pode parecer estranho que um europeu não consiga identificar o idioma do seu vizinho. Mas, é assim mesmo, especialmente, o francês, mais preocupado com o seu próprio umbigo!

OL – Interessante essa curiosidade sobre a prosaica jabuticaba, não acha?

NB – Muitas vezes, o que julgamos sem valor, para outros é o contrário. A página sobre jabuticaba é das que têm despertado maior interesse. Parece-me ter exagerado nas informações sobre a fruta e isso deixa transparecer a falsa impressão de que sou especialista agrícola. São muitas as consultas sobre como cultivar jabuticabeiras. Já recebi e-mails da China, consultando sobre possibilidade de exportação para aquele país; não somente da fruta, mas de mudas e sementes também. Recebo também pedidos de autorização para uso de fotos daquela página; o último pedido nesse sentido veio da Inglaterra.

OL – E por que você escolheu a extensão “.jor.br” ao invés de “.com.br”, como a maioria dos “sites”?

NB – Por duas razões muito simples. O “ponto com” ainda só era obtido nos Estados Unidos, mediante o uso de cartão de crédito como meio de pagamento. Eu não tinha cartão de crédito e o seu uso na internet ainda era muito perigoso. Quando descobri a extensão “ponto jor” para jornais, escolhi esta porque o OURO PRETO WORLD é, na verdade, informativo cultural, portanto perfeitamente enquadrado no grupo. Até então, poucos “sites” usavam a extensão “ponto jor” e, muitas vezes, o internauta não conseguia acesso porque, “viciado” no “ponto com” nem atinava que o “site” tinha extensão diferente.

OL – E como você encara o 10º aniversário do OURO PRETO WORLD?

NB – Com gostosa sensação de vitória, pois, como disse no início, informática e internet eram tidas como área exclusiva dos jovens. Deixei de ser “analfabeto de pai e mãe”, na área citada, por esforço próprio, depois de ultrapassada a barreira dos sessenta anos de vida. Com isso, espero ter também prestado um serviço a pessoas da minha faixa etária que, muitas vezes, se julgam incompetentes apenas por serem velhos, ou idosos, como queiram. As novas tecnologias não são excludentes. O que falta aos mais velhos é a visão de que competência deve ser administrada e desenvolvida, não estando, portanto, restrita aos mais jovens.

OL – Exponha sua mensagem final.

NB – Nasci ainda na primeira metade do século passado, quando ribombavam os canhões, na II Guerrra Mundial - que se alastrava na Europa - e aprendi a grafar as primeiras letras com lápis de pedra sabão em lousa de ardósia, que ainda guardo. Fui alfabetizado muito antes de ir à escola por mamãe, entre um e outro trabalho doméstico. A lousa ela guardara do seu tempo na escola. Na escola aprendi a usar a pena de molhar, passei pela caneta tinteiro, vi sua substituição (lamentavelmente) pela esferográfica, usei a máquina de escrever e cheguei ao computador. Mediante o computador cheguei à internet, fascinante meio de contato com o mundo. Venho de passado relativamente distante, mas nele não me prendo, pois encaro o futuro como se nascido há pouco! Enquanto há vida, há que viver!

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